Ao vivo: terraplana passa pela prova do Sesc Pompeia com músicas novas e som alto, noise e potente

texto por Marcelo Costa
fotos por Fernando Yokota

A choperia do Sesc Pompeia (comedoria é politicamente correto… e é feio para dedeu, vamos combinar) é um teste de fogo para muito artista, não apenas por ser um dos palcos mais emblemáticos da capital paulista, mas, principalmente, porque é impossível enganar o público ali. Numa cena caracterizada por dezenas de locais de shows com pouca infraestrutura, algo que muitas vezes máscara defeitos, a choperia do Sesc Pompeia se destaca com um palco na altura perfeita (acessível ao público de qualquer canto do lugar), próximo da audiência e som notadamente impecável: “Se a banda toca bem aqui, toca em qualquer lugar”, pontuou o amigo Anderson Foca, do DoSol, em um dos intervalos do show sold out dos paranaenses da terraplana numa noite de garoa paulistana.

Uma das agradáveis surpresas do cenário independente brasileiro recente e do Melhores do Ano Scream & Yell 2023, em que eles cravaram nada menos que o terceiro disco mais votado da temporada, essa noite de quinta-feira visava celebrar a data de um ano de lançamento do álbum “olhar pra trás” como também sua edição em vinil – bastante procurada na banquinha da Balaclava Records. Uma noite comemorativa que simbolizava muito, afinal os curitibanos estavam tomando pra si um dos principais palcos de São Paulo enchendo o lugar numa quinta-feira de garoa: não é pra todo mundo. Faltava apenas tirar a prova dos nove: como o quarteto iria se portar num lugar de som excelente? E a resposta não podia ter sido melhor, com um som alto, afiado e noise fatiando a atmosfera da choperia para deleite da audiência.

A festa shoegazing começou estridente com a faixa que dá título ao disco ecoando noise na choperia do Sesc Pompeia seguida de “memórias”, outra do mesmo álbum, costurada por um belo trabalho de guitarras de Vinícius Lourenço (principal responsável pela interação com a plateia) e Cassiano Kruchelski com a cozinha monocórdica de Stephani Heuczuk (baixo e voz) e Wendeu Silverio (bateria) fazendo a cama para as guitarradas. “Ambedo”, do primeiro EP do quarteto, “Exílio” (2017), veio na sequência, aberta com dedilhados e encoberta com fuzz. Sté, então, anunciou que a banda iria testar algumas coisas novas, duas músicas ainda não tocadas nos palcos paulistanos, e vieram “amanhecer” e “sonic”, mantendo o barulho em alta. O set seguiu alternando canções do EP (“Lamento”, “Fall”) com músicas do “olhar pra trás” (“me encontrar”, “me esquecer”, “cais”) e faixas novas (a apropriada “nova nova nova”).

Ainda que a garoa tenha amenizado o calor noturno dos últimos dias na capital paulista, a temperatura na choperia lotada estava elevada, e aumentou ainda mais quando o grupo trouxe, no bis, o single “conversas” (também presente na lista de Músicas do Ano da votação do Scream & Yell), que rendeu um dos momentos mais bonitos da noite, com o público acompanhando e cantando a melodia no trecho final da canção (assista no vídeo abaixo) para indisfarçável felicidade da baixista Sté. A cover de “Na Sua Estante”, canção de Pitty registrada em estúdio pelo quarteto curitibano, também foi cantada em coro pela audiência, mostrando uma banda segura de si, de suas convicções e sonoridade, numa noite que provou que a terraplana está pronta para qualquer palco do país.

– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne.
– Fernando Yokota é fotógrafo de shows e de rua. Conheça seu trabalho: http://fernandoyokota.com.br/

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