16 anos atrás, Danilo Corci e Ricardo Giassetti decidiram fazer uma pergunta: e se um disco virasse literatura? Nascia a Mojo Books, primeira editora 100% digital do Brasil, que de dezembro de 2006 até dezembro de 2012 explorou de maneira diversificada essa possibilidade, lançando mais de 130 volumes de livros inspirados em discos.
A partir de 2022, o Scream & Yell passou a republicar os livros da Mojo buscando manter o acervo da editora online (enquanto também estivermos online). A ideia é ter toda semana um livro “novo” da Mojo sobre um disco disponível! O 69° volume da série (conheça os anteriores estão aqui) é dedicado a “Without You I’m Nothing”, o segundo álbum do Placebo, lançado em outubro de 1998.
Altamente emocional, “Without You I’m Nothing” é, segundo escreveu James Oldham na NME na época, “um álbum emocionante e feito por malucos, para malucos. Só não espere sair com sua alma intacta”. Faça o dowload desse Mojobook em PDF ou leia online aqui.
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O olhar do senhor Moraes não sabia para onde se dirigir. Procurava não se fixar nos olhos irremediavelmente escancarados da mulher, mas eles o atraíam como um espelho. Narciso, o senhor Moraes se via naquela figura. Pavor, pavor, pavor. As manchas no pescoço dela ficavam cada vez mais roxas, tudo ali parecia grosseiramente pintado por um artista inexperiente: a vermelhidão excessiva da boca, a palidez azulada do rosto, a nua vulgaridade do corpo, o homem imóvel, prensado de encontro à parede por uma força invisível. Ele se manteve em pé no mesmo lugar por longos minutos. Tinha certeza da morte iminente, a morte que viria se ele se movesse um centímetro. Desejava ser capaz de prender a respiração por, pelo menos, alguns instantes, mas isso era impossível; com o coração pulando apavorado do peito para a garganta, da garganta para o peito, ele quase arfava, e orava “Miranda”. Na infância, as madrugadas eram freqüentemente povoadas de medo. Sua mãe o tinha ensinado uma oração que ele repetia sem prestar atenção às palavras, à espreita de qualquer manifestação obscura. Agora, ele só conseguia dizer “Miranda”. Precisava chegar até o telefone, mas estava imobilizado do lado oposto, teria de passar pelo corpo dela. Miranda.