15º In-Edit Brasil: “Nightclubbing: The Birth of Punk Rock in NYC” conta a história da lendária casa Max’s Kansas City

texto por Renan Guerra

Max’s Kansas City, apesar desse nome que pode causar confusão, era um restaurante e boate na Park Avenue South, em Nova York. Em atividade de 1965 a 1981, o espaço foi simbólico para diferentes movimentos artísticos e se tornou uma casa lendária durante o nascimento do punk nova-iorquino, inclusive rivalizando com o também lendário CBGB. “Nightclubbing: The Birth of Punk Rock in NYC” (2022), de Danny García, reconta os momentos áureos e mais barra pesada do Max, tudo isso pelas vozes daqueles que sobreviveram a noites de rock ’n’ roll, drogas e outras loucuras mais, como Alice Cooper, Billy Idol, Jayne County e Sylvain Sylvain.

Quando surgiu, nos anos 1960, o Max’s Kansas City tinha em seu salão principal um restaurante, mas era nos fundos desse espaço que a noite fervilhava, com um espaço pequeno e frequentado por um seleto grupo. Mickey Ruskin, o fundador do espaço, selecionava quem podia entrar nesse “quartinho dos fundos” do Max’s e lá habitavam artistas, músicos e aspirantes. O prestígio ganhou fama em Nova York por causa de um grupo importante de frequentadores: as estrelas da Factory, de Andy Warhol. O estúdio de arte ficava pertinho do Max e era lá que artistas como Edie Sedgwick e os Velvet Underground costumavam passar as noites até o amanhecer.

Aos poucos, o Max’s Kansas City passou a receber shows e inclusive seria o palco de alguns discos ao vivo lendários gravados por lá, de bandas como The Velvet Underground e Suicide. Nessa primeira fase, o local era frequentado por nomes que iam de David Bowie a Jane Fonda e foi por lá que bandas seminais como New York Dolls e The Stooges se apresentavam nas madrugadas boêmias. Nesse percurso durante os anos 1970, o Max se tornaria um reduto punk importante e seria inclusive palco do nascimento de uma série de bandas do hardcore norte-americano que floresceria nos anos 1980. É um percurso cheio de altos e baixos, que envolve uma boa dose de heroína, pó e anfetaminas, bem como dólares falsificados, shows lendários e brigas históricas.

Nesse sentido, “Nightclubbing” é uma viagem maluca que reconta um pedaço da história da noite de Nova York e um capítulo importante do rock nos anos 70. Muitas vezes esquecido frente ao lendário CBGB, o Max’s foi um palco de memórias importantes para uma série de artistas e marcaria a formação de jovens roqueiros. Por isso mesmo, o documentário de Danny García é uma aventura divertida e alucinada por estas noites. E talvez a principal estrela do filme seja Jayne County, lendária cantora punk trans que na época integrava o Wayne County & The Electric Chairs. County conta as histórias mais doidas com o seu humor cheio de ultraje e deboche, e aí inclui-se suas brigas e o seu abuso de drogas bem como um hilário momento em que ela imita o choque (um bocadinho transfóbico) de Patti Smith.

Jayne é uma dessas figuras que encontravam no Max’s o seu espaço. Punks, homossexuais, travestis, poetas e junkies se misturavam enquanto assistiam shows experimentais e inovadores de artistas que se tornariam lendários no futuro. Aliás, uma feliz presença no filme é a de Alan Vega, do Suicide, que faleceu em 2016. É interessante ter ainda aqui o olhar de um artista tão avant-garde contando sobre como a noite no Max’s permitia esse tipo de experimentação e de loucura. Além dele, outros muitos nomes têm suas histórias destrinchadas no filme, de Sex Pistols e Malcolm McLaren até Iggy Pop.

Veloz e divertido, “Nightclubbing: The Birth of Punk Rock in NYC” é um interessante retrato de uma era única de excessos, loucuras e experimentação. Valeria só pela curiosidade e pela excentricidade, mas o filme de Danny García vai além e consegue fazer um resgate importante de uma história que, felizmente, ainda tem interessantes interlocutores que podem ser nossos guias nessa viagem.

MAIS SOBRE O IN-EDIT BRASIL NO SCREAM & YELL

– Renan Guerra é jornalista e escreve para o Scream & Yell desde 2014. Faz parte do Podcast Vamos Falar Sobre Música e colabora com o Monkeybuzz e a Revista Balaclava

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