introdução por Diego Albuquerque
Faixa a faixa por Igor B.
Igor B. é natural de Salvador, onde começou a flertar com a música, ainda no final dos anos 1990, em sua primeira banda com amigos da cidade. A Bunekuloko fazia funk rock cru e pesado agitando a noite de alguns pubs undergrounds da capital baiana. Com o fim do projeto, Igor começou a produzir sons solos e ampliar sua gama de referências musicais. Radicado em Brasília, Igor começa a interagir e trocar com uma cena que estava movimentando a cidade. Entre 2019 e 2020 lançou quatro singles que culminaram no EP“Na Batida, No Flow”. Durante o período pesado da pandemia, o artista resolveu estudar e se aprimorar ainda mais. Montou um pequeno estúdio caseiro e seguiu produzindo e lançando sem parar. “SE PAH (Beat Mesclânea)” (2022), seu álbum de estreia, flerta com elementos que vão do rap ao pop com textos carregados de mensagens fortes entrecortadas por boas doses de melancolia.
Agora, quase um ano depois do debute, Igor apresenta a versão instrumental do disquinho dando uma ênfase maior na sua musicalidade e no seu trabalho como produtor. Para ele, a música instrumental liberta e expande a imaginação, pois convida o ouvinte a criar novas possíveis letras e melodias vocais. Além disso são perfeitas para momentos de maior concentração ou em sonorização de ambientes a depender da vibe que se quer passar naquele momento, lugar ou experiência. “A música instrumental abre mão da mensagem verbal e transcende a uma mensagem que é mais uma sensação ou um sentimento e por isso gera uma conexão profunda com quem se identifica com aquela sonoridade”, acredita Igor B.
Ao longo das nove faixas, o álbum instrumental vai do funk americano ao rock, passando por sonoridades pops, indies, jazz, sonoridades afros e latinas, além da música brasileira e, obviamente, o bom e velho hip hop. Inquieto e experimental, Igor B. é um baiano vivendo em Brasília que se apropria muito bem dessa mistura cultural de sua terra natal com a da capital do país. “SE PAH (Beat Mesclânea) – Instrumental” é um passeio pelos sons da cabeça do Igor B., que consegue se expressar de diversas formas diferentes experimentando e sempre mantendo uma good vibe tropical. Abaixo, Igor B. comenta as nove faixas do álbum.
01) “Soul Funk (Funk Funny)”: Essa música foi feita para uma composição um pouco mais antiga que era originalmente um funk rock. No processo de construção do beat percebi que a música poderia ser trabalhada de outra forma e terminamos chegando num beat de hip-hop alternativo com alguma influência de “Old Town Road”, do Lil Nas X, tentando trazer um pouco da minha identidade misturando um flow mais lento com refrões de melodias mais melancólicas, mas ao mesmo tempo num beat dançante.
02) “As Pedras Vão Rolar”: É um beat que transita e mistura mais escancaradamente elementos do eletroindie com elementos do hip-hop. No álbum ela cumpre essa função de conexão e transição entre esses dois gêneros que estão de alguma maneira tão presentes no meu trabalho. Leve e clean, essa faixa também tem esse mood dançante e ao mesmo tempo melancólico. O beat foi feito para a canção que falava sobre resiliência e perseverança.
03) “Comércio Online Ponto Com”: Essa faixa traz o Nordeste num afrobeat moderninho e dissonante para o álbum, mas ao mesmo tempo flertando discretamente com pop. Persuasiva e escancaradamente dançante, ela nasceu a partir de uma parceria com o multi-instrumentista Amon Martins. Mais solar, remete a tons mais coloridos e vibrantes na paleta de cores deste trabalho.
04) “O Bem e a Verdade”: Equilibrada, moderada, dançante e mais próxima de um indie pop, essa faixa traz referências que remetem a artistas como Manu Chao, pois mistura brasilidade e latinidade de forma bastante singela. Nasceu com a intenção de ser um hit gravado por outro artista que ainda não apareceu, mas no entanto essa frustração inspirou umas das principais faixas do álbum que vem logo em seguida.
05) “Teu Corre”: Nasceu de uma frustração e para receber uma letra que fala sobre fazer o seu corre e garantir o seu sem esmorecer e sem depender de ninguém. É um samba rock indie simples, porém marcante e reconfortante. Bateria, baixo, violão e pianos se alternam na dinâmica entrecortada por efeitos eletrônicos, e em alguns momentos complementada por violinos.
06) “ZEROSETEUMZEROMEIAUM”: Outro hip-hop, porém com um beat bastante percussivo. Foi criada para receber uma letra que fala pelo meu amor por duas cidades: Salvador (071), onde eu nasci e cresci, e Brasília (061), cidade que me acolheu e onde vivo atualmente. Também dançante, ainda que mais sincopada, é a música de trabalho deste álbum. Essa tem clipe…
07) “A Luz”: Um hip-hop zen, esta faixa é uma das que soa mais orgânica em todo o trabalho. Bateria, contrabaixo, pianos, cordas diversas e pads se complementam fazendo um clima harmônico, orquestral e de reflexão quase tão profunda quanto a que a letra original propõe.
08) “Meu Benzinho”: Curtinha, essa faixa é um interlúdio, uma brincadeira, quase uma introdução. Neste beat brinco com elementos do RnB, do blues e do rock de forma despretensiosa e divertida.
09) “Se Pah”: Se valendo de uma expressão bem brasiliense, “Se Pah” é um eletroindie lento, sofrido e melancólico que foi feito para abraçar uma letra tão lenta, sofrida e melancólica quanto ela. O baixo marcante e os metais se destacam nessa faixa que só dá pra dançar se for juntinho e bem devagar. A faixa que encerra o álbum e se propõe a deixar uma atmosfera reflexiva e contemplativa para o ouvinte.