texto por Bruno Lisboa
Dezembro de 1995 estreou “Toy Story” no Brasil (ele chegou aos cinemas um mês antes nos Estados Unidos). O longa de John Lasseter é uma animação da Pixar Animation Studios que dispensa apresentações, tendo transformado o estúdio estadunidense (criado em 1986) em referência para toda uma geração que espera, ano após ano, o lançamento de novas produções originais do estúdio (que foi comprado pela Disney em 2006).
De “Toy Story” para cá a produtora consolidou um novo patamar para o ramo das animações: filmes que agradam tanto o público adulto quanto o público infantil e que conquistam prêmios – são 21 Oscars, 9 Globos de Ouro e 11 Grammy. Obras como “Wall-E” (2008), “Up – Altas Aventuras” (2009), “Divertidamente” (2015), “Viva – A Vida é Uma Festa” (2017) e “Soul” (2020) são só mais alguns exemplos de filmes que conseguiram, com louvor, alcançar essa nobre missão de unir gerações. E tem filme novo adentrando essa lista honrosa.
“Red – Crescer é Uma Fera” (“Turning Red”, 2022) é a produção mais recente do estúdio (já disponível na Disney+), em parceria com a Disney, que alcança, mais uma vez, status de grandeza. Dirigido pela estreante em longas metragens Domee Shi (mas vencedora do Oscar 2019 na categoria de Melhor Animação em Curta-metragem pelo belo “Bao”), o filme mantém o padrão de qualidade da Pixar, mas também deixa claro que a produtora sabe buscar novas referências para renovar o seu próprio universo.
Apostando na nostalgia, o roteiro de Shi, Julia Cho e Sarah Streicher é ambientado no ano de 2002, época em que tamagotchis e boy bands dominavam o ideário jovem de forma global. Visualmente o filme também bebe de fontes da época ao apostar nos traços do universo dos mangás e de produções como “Sailor Moon” e “Meu amigo Totoro” (clássico de Hayao Miyazaki) como referências para a construção da identidade visual.
Como figura central temos Meilin Lee, uma canadense de origem chinesa que descobre, aos 13 anos, que pode se tornar um enorme panda vermelho se não controlar suas emoções. De forma secundária, temos a mãe superprotetora de Lee e suas melhores amigas da escola que tramam um plano para conseguir dinheiro para comprar ingressos para a apresentação da boy band 4*town em Toronto.
A partir dessa premissa, o roteiro serve de suporte para tratar de questões ligadas ao exercício da criação dos filhos, a agruras da adolescência, a importância da amizade e a manutenção da identidade familiar. E o faz com o tempo de tela adequado, tratando de cada temática com o cuidado e a importância necessária.
A trilha composta por Ludwig Göransson, em parceria com Billie Eilish e seu irmão Finneas O’Connell, cria, de forma original, a climatização correta para o longa e surge de maneira pontual ao longo filme, gerando hits instantâneos como a faixa “Nobody like U”.
Após uma série de sequências de franquias de sucesso (“Toy Story”, “Carros”, “Monstros S.A.”, “Os Incríveis” e “Procurando Nemo”) a Pixar vem, desde “Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica” (2020) seguido de “Luca” (2021), voltando as suas atenções a produções originais e “Red” é mais uma prova de que o estúdio consegue manter vivo não só o seu legado, mas também sabe construir narrativas que estejam atentas as questões universais.
– Bruno Lisboa escreve no Scream & Yell desde 2014.