MARÇO 2022
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ESPANHA
pela editoria dos sites Mundo Sonoro e Zona de Obras
Estes não são bons tempos. Quando a pandemia começou a dar sinais de melhoras perceptíveis e todos pensávamos em uma recuperação da economia, o tempo perdido veio com a invasão da Ucrânia. A pior parte é vivida pela população ucraniana que sofre a tragédia na primeira pessoa, mas os danos colaterais da guerra atingem a Europa e a Espanha na forma de inflação, algo a que não estamos acostumados. Agora é hora de falar sobre o preço do gás e do petróleo russo… Em meio a esse panorama de incertezas, mais uma vez nos refugiamos na música. Aqui está uma revisão das novidades pendentes do mês de março.
ROSALIA – “MOTOMAMI”: O tão esperado novo trabalho de Rosalía já está entre nós. “Motomami” é um caldeirão cuja as prévias desenharam uma imagem mental que não corresponde à realidade da obra completa, heterogênea e cintilante. “Saoko”, a canção-interjeição com a qual o álbum começa, supera sua aparente irrelevância musical em termos de declaração de intenção; a bachatica “La Fama” com The Weeknd é maravilhosa; com “Bulerías” ela recorda de onde veio e onde ainda está; com três peças suaves ao piano, parece cantar a primavera recém-chegada com delicadeza cristalina… Um grande álbum, com canções abundantes que tocam o coração e eletrizam o cóccix.
LA PLATA – “ACCIÓN DIRECTA”: Demoscópicos de Mondo Sonoro antes do lançamento de seu primeiro álbum, “Desorden” (18), os valencianos La Plata são um desses grupos contra a corrente, apesar de soar completamente atual. Alheios às modas mais enjoativas e passageiras, La Plata acaba de lançar “Acción Directa”, um segundo álbum que faz jus às expectativas que foram geradas sobre eles. Uma daquelas gravações que vão crescer e crescer passo a passo agora que já está disponível em todas as plataformas de streaming.
TREMENDA JAURÍA – “TODXS IGUAL”: Com a busca da renovação como forma de respirar no novíssimo “Todxs Igual”, Tremenda Jauría lança-se na corrida através de uma exposição em clave rock das formas urbanas que definem o nosso pop atual. O álbum oferece um arco-íris em constante colisão, de onde surgem explosões de punk chiclete, pop, reggaeton com baixos retumbantes ou riffs que brincam com dinâmicas de hard rock. Tudo temperado com ousadia e muito frescor.
XARIM ARESTÉ – “SES ENTRAYNES”: “Ses Entranyes” (RGB, 22) é uma nova encarnação de Xarim Aresté que, a cada passo, é ao mesmo tempo mais velho e mais jovem. Ele se sente mais consciente de seu fluxo de energia, uma força puxada pelos chifres de um poderoso animal mitológico. Mas também é um dos melhores álbuns que ele produziu até hoje. Sensível, emotivo, com excelentes melodias e arranjos, uma daquelas obras com as quais um artista reivindica seu papel no mundo.
KORA – “FUERA DE LUGAR”: Imbuído nas profundezas do pop em câmara lenta, Kora dá-nos “Fuera de Lugar”, um envolvente álbum policromático. Nele, a música catalã de 20 anos impõe a regra do “vale tudo” através de um caldeirão de canções canalizadas das mais diversas frentes. Seja na propulsão pop star de “La Fiesta” ou na melancólica saudade bossa nova tecida em “No me Quiero Levante”, o caminho percorrido não compreende previsibilidades ou lugares-comuns. Com este trabalho, Kora reafirma-se como uma proverbial bad ass que não devemos perder de vista.
SHEILA PATRICIA – “A MOURA”: Sheila Patricia partilha a música “A Moura”, e o seu clipe, que pertence ao que será o seu álbum “Orixe”. A artista bebe de Baiuca a Rodrigo Cuevas, entre outras influências. Especificamente, “A Moura” é uma antevisão da sonoridade eletrônica africana combinada com o canto tradicional galego que vai caracterizar o próximo trabalho da artista. Seus temas anteriores são caracterizados pelo folclore galego e argentino/asturiano, do qual ela se influencia. Além disso, a percussão contínua, com o uso do violão, e a temática da força feminina em suas canções são características. “A Moura” consagra Sheila Patricia como uma artista versátil, de formação exclusiva, que serve de pretexto para reivindicar a sua posição e papel na cena musical galega.
LA VILLANA – “JURAMENTOS”: Natalia Quintanal nasceu em Gijón. Ela fez parte do Nosoträsh em meados dos anos 90. Mais tarde, e montou o Electra junto com Pau Roca (La Habitación Roja). Em 2014 ela se apresentou como La Villana gravando um belo álbum. Agora, anos depois, mesclando retrô e sofisticação, tropicalismo e rock de fronteira, ela apresenta “Juramentos”, uma música deliciosa que convive com a cena internacional do pop neo-psicodélico. Para desfrutar enquanto esperamos pelo álbum que o Mushroom Pillow publicará no próximo mês de setembro.
PINPILINPUSSIES – “HIPOCHODRÍA”: Ane Barcena e Raquel Pagés são Pinpilinpussies, uma das duplas de Barcelona que reivindicam melodias pop ligando-as a uma ferocidade pós-punk que lhes cai muito bem. Depois do anterior “Fuerza 3” (20), elas publicam “Hipochondría” com o selo independente Alour Music, uma obra em que combinam espanhol, catalão, inglês e basco em um amálgama de rock que ainda não alcançou seus melhores frutos, mas que nos alerta amplamente sobre o potencial da dupla basco-catalão.
BOYE – “VENI VIDI VICI”: BOYE apresenta sua nova música “Veni Vidi Vici“, uma fusão de rap, pop e eletrônica na qual o artista de Barcelona se distancia descaradamente dos clichês de rapper. BOYE é o nome artístico do ator, criador e cantor David Menéndez (Barcelona, 1989), um artista multidisciplinar que estourou no cenário musical com o EP “Boye, te queremos pero no eres nadie” (2019), que trazia cinco músicas produzidas por Arnau Vallvé (baterista da banda pop catalã Manel) que surpreenderam pelo frescor e a ousadia quando se trata de misturar gêneros como hip hop, funk ou música eletrônica com uma irnoia que beira a insolência. Cada uma das canções tinha ainda o complemento visual de um videoclipe de diferentes diretores que contribuiram com a sua sensibilidade e talento, elevando a transversalidade do projeto. Suas letras fogem do clichê do rapper para nos mostrar uma visão mais humana e cínica da realidade, nessa busca constante pelo lugar que ocupamos no mundo.
FESTIVAL DE CINEMA DE MÁLAGA – De 18 a 27 de março, o Festival de Málaga, grande evento do cinema em espanhol, celebrou sua 25ª edição, recuperando seu tapete vermelho após dois anos de pandemia e oferecendo uma Seleção Oficial composta por um total de 21 filmes, 13 espanhóis e 8 latino-americanos O grande vencedor foi “Cinco Lobitos”, um retrato da maternidade de Alauda Ruiz de Azúa que ganhou vários prêmios, incluindo o Biznaga de Oro de Melhor Filme Espanhol. Por sua vez, o prêmio de Melhor Filme Ibero-Americano foi para a coprodução Bolívia e Uruguai “Utama”, de Alejandro Loayza Grisi, um filme ambientado no altiplano boliviano que já havia sido premiado no festival de Sundance.