FEVEREIRO 2022
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URUGUAI
por Kristel Latecki do site PiiiLA
Fevereiro no Uruguai é sinônimo de Carnaval. É a festa popular da qual participam os 19 departamentos (Estados), com desfiles massivos e shows ao ar livre quase todas as noites. É Património Mundial da UNESCO, o mais longo do mundo (geralmente estende-se ainda mais devido às chuvas), e após a sua suspensão em 2021 devido ao Covid, este ano está ainda mais carregado emocionalmente. A crítica política e social é o eixo dessa expressão cultural, com paródias, dísticos ácidos e imitações. Por isso era de se esperar que sob um governo de direita e uma votação iminente para revogar 135 artigos da Lei de Consideração Urgente (LUC), vários shows causassem polêmica (necessária e saudável). As atividades continuarão durante o mês de março com o Liguilla, concurso que definirá os vencedores de 2022 nas cinco categorias que definem o Carnaval uruguaio: murgas, paródias, humoristas, revistas e lubolos.
Apesar de ser um mês tomado pelas festividades e até pelos feriados, tivemos vários lançamentos notáveis.
LOS BITCHOS – “LET THE FESTIVITIES BEGIN!”: A Los Bitchos foi formada em Londres por garotas da Austrália, Inglaterra, Suécia e Uruguai, e seu primeiro álbum, “Let The Festivities Begin!”, traz muito dessa essência global. Em suas composições iniciais, a cumbia (psicodélica, peruana e do Rio da Prata) era o gancho para conquistar ouvidos e movimentar quadris, mas junto com Alex Kapranos como produtor exploraram outros cantos exóticos do planeta, inspirando-se com novos ritmos, instrumentos e sabores. Psicodelia turca, um pouco de western e surf rock, e até uma batucada brasileira são algumas das novas paradas deste som itinerante; mas a viagem também é no tempo, pois o vintage não aparece apenas em sua estética, mas também nos instrumentos escolhidos para construir essas músicas. Que comecem as festividades! É uma festa internacional e, como tal, neste 2022 vão levá-la a vários palcos perto de si.
LOS OXFORD – “LA ALEGRIA DE LAS MÁQUINAS”: Depois de uma longa ausência dos estúdios, Los Oxford voltaram com um novo álbum, “La Alegría de las Máquinas”. Ajustado e direto, o som mantém o rock como o eixo de sempre, mas também brilha em mid-tempos e momentos melódicos. Tem vozes convidadas como as de Sebastián Teysera e Sebastián Cebreiro, de La Vela Puerca, Carca e Juana Chang, de Kumbia Queers (em “El Bosque”, uma das canções mais interessantes e potencialmente mais coreografadas do álbum), e partilha a composição de “Viuda Negra” com Garo Arakelian.
RIKI MUSSO – “RICARDO DE TODOS LOS SANTOS”: Em 2014 Riki Musso lançou seu sétimo álbum solo: “¡Formidable!”, obra que marcou sua separação definitiva do Cuarteto de Nos e surpreendentemente lhe rendeu cinco Graffiti Awards, consagrando-o como o artista daquele ano. Ele lançou um EP dois anos depois com sua banda Riki Musso e Sus Fabulosos Los Formidables, e desde então seu trabalho tem sido principalmente nos bastidores. No entanto, este mês ele voltou com “Ricardo de Todos los Santos”, um novo single fiel à sua personalidade bem-humorada e sonora: uma espécie de oração para santinhos inventados e cotidianos.
PEKEÑO 77 Y MARCIANEKE – “ENVY Y MALDAD”: Combinar merengue com trap é, sem dúvida, uma ideia estranha e interessante, mas Pekeño 77 – junto com os produtores Pobvio e Angel Brz – conseguiram surpreender e dosar em partes iguais com “Envy y Maldad”. Com Marcianeke, do Chile, essa faixa engana com um tradicional começo de trap tradicionall, até que as congas dão lugar a um merengue pegajoso que funciona como base perfeita para os dois MCs e seu fluxo reconhecível.
INCLUSO SI ES UM SUSURRO SOVIETICO Y JHONA LEMONE – “PLAYA RUSA”: Incluso Si Es Un Susurro Soviético decidiu homenagear a extinta banda amiga “Playa Rusa” com uma música homônima criada em conjunto com Jhona Lemole. Apesar de continuar com sua característica sonoridade pós-punk e surf rock, essa faixa está um pouco mais próxima do território de Lemole, com mais destaque das letras e um mood dark.
CLARA PREGLIASCO – “OTRO PAISAJE”: A cantora e compositora Clara Pregliasco nos deixou “Otro Paisaje”, uma nova música que inicialmente poderia nos lembrar as melodias da Shakira dos anos 90 até avançar rapidamente para um pop country animado e guiado por guitarras. Adicionando instrumentação e energia, ela nos conduz, como o próprio nome sugere, de uma paisagem para outra.
DIOG – “SIENTO”: DIOG é um músico chileno radicado em Montevidéu que, depois de participar de várias bandas, acaba de lançar seu primeiro single como solista. “Siento” foi produzido por Pedro Alemany (Pekeño 77, Camila Sapin) e entre R&B, trap e um groove cativante, DIOG canta sobre um amor livre de toxicidades, colocando a beleza dos laços acima de tudo.
Antecipando o mês de março e as atividades no âmbito do Mês da Mulher, vários espetáculos começaram em fevereiro e decorrerão durante grande parte do ano.
O coletivo Mydmus (Mulheres e Dissidências na Música Uruguaia) criou uma série de espetáculos no destacado Teatro Solís com mais de 50 artistas em cena, de diferentes gêneros e propostas. Artistas como Miel, o coletivo SOONA e Chenal já passaram por lá, enquanto em março você poderá ver Lucía Severino, Nunca Higuera, Camila Sapin, Coralinas e muito mais. Até setembro será uma visita incontornável para conhecer novos artistas e apoiar esta proposta.
O ciclo Marea, criado pela Sala Zitarrosa e também dedicado às mulheres e dissidentes da música e do audiovisual, começou a lotar no dia 23 de fevereiro com Barbi Recanati e Marilina Bertoldi e promete uma série de shows que agora estão sendo remarcados.
