por Marcelo Costa
Abrindo uma nova sequencia de estilos com uma releitura do tradicional estilo Bohemian Pilsner feita pelos mineiros da Antuérpia, que produzem suas receitas na cidade de Matias Barbosa (MG), e aqui marcam presença com a Trela, uma cerveja de coloração dourada, cristalina, com creme branco de excelente formação e média alta retenção. No nariz, cereais, malte, um pouquinho de sugestão de grama cortada e leve doçura. Na boca, doçura maltada leve no primeiro toque seguida de discreta percepção de malte e cereais, leve herbal (levíssimo) e amargor baixo (12 IBUs, na linha do estilo). A textura, seguindo o padrão do conjunto, é leve, numa proposta de cerveja que não rouba a cena na mesa do bar, ou seja, você bebe meio sem perceber direito o que é, pois o bate papo sobre qualquer outra coisa é muito mais interessante do que a cerveja. O final é… leve e docinho. No retrogosto, refrescancia.
De uma Pilsner para uma Hoppy Lager, versão mais lupulada de uma lager tradicional. O exemplar que representa o estilo aqui é a Unicorn Hoppy Lager, da linha popular caprichada da Startup Brewing, de Itupeva, no interior de São Paulo. Na receita, destaque para a combinação dos lúpulos Mittelfrüh, Citra, Simcoe e Mandarina Bavaria. De coloração dourada levemente pálida e turva, com creme branco de ótima formação e retenção, a Unicorn Hoppy Lager apresenta um aroma com frutado cítrico sem muita profundidade, mas facilmente perceptível, sobre uma base leve de doçura maltada. Na boca, doçura caramelada no primeiro toque seguida de frutado cítrico levemente adocicado e amargor bastante leve, 13 IBUs que podem ser considerados 0. A textura é leve e, dai pra frente, a Unicorn Hoppy Lager é o que o estilo recomenda, uma lager lupulada, mas a sensação é de que há doçura demais e amargor de menos. No final, doçura meladinha. No retrogosto, cítrico com uma pegada leve de limão caramelado.
De uma Hoppy Lager para uma Czech Pilsner, cuja maior representante do estilo é a maravilhosa Pilsner Urquell, e que aqui surge recriada pela carioca Hocus Pocus. Na receita, destaque para o lúpulo Kazbec “quase uma versão moderna do Saaz, o lúpulo tcheco mais clássico”, pontua a cervejaria. De coloração âmbar clara quase dourada com creme branco espesso de excelente formação e retenção, a Hocus Pocus Reality Czech apresenta um aroma delicadamente maltado, remetendo a casca de pão, floral e levemente herbal – há, ainda, leve percepção mineral. Na boca, herbal leve no primeiro toque seguido de maltado leve, floral, mineral e um amargor bem equilibrado (que poderia até ser um pouco mais arisco). A textura é leve e, dai pra frente, surge uma Pilsner tcheca de excelente qualidade, respeitando o estilo e o executando com sobriedade. No final, herbal suave e secura. No retrogosto, refrescancia.
De uma Czech Pilsner para uma Belgian Wheat da Schornstein, de Pomerode, em Santa Catarina. A receita destaca as básicas adições de laranja e semente de coentro. Na taça, uma cerveja dourada, levemente turva a frio, com creme branco de boa formação e retenção (que vai na cola da versão USA do estilo, a Blue Moon). No nariz, um aroma perfumado com notas frutadas leves que remetem a laranja e o condimentado tradicional trazendo especiarias e coentro sobre uma base docinha de malte de trigo. Na boca, doçura maltada levemente caramelada em laranja no primeiro toque seguida de mais doçura, mais laranja, condimentação leve, mas perceptível, e nenhum amargor (são apenas 8 IBUs). A textura é leve e, dai pra frente, temos um exemplar correto do estilo, ainda que um tiquinho mais doce do que se espera. No final, leve laranja e doçura. No retrogosto, doçura e laranja.
De uma Belgian Wheat para uma Franconian Rotbier (Cerveja Vermelha da Franconia), estilo que nasceu em Nurembergue (por volta do século XIII), na Alemanha, e que foi forte concorrente das “cervejas brancas” de trigo, as weissbiers, por utilizar apenas cevada em sua receita. De coloração âmbar turva avermelhada com creme bege claro de boa formação e retenção, a Franconian Rotbier da Cervejaria Avós, da cidade de São Paulo, apresenta um aroma que combina leve defumação com notas adocicadas que remetem a caramelo. Há, ainda, sugestão de casca de pão doce e biscoito. Na boca, defumação à frente, destacada no primeiro toque, e com leve sobrevida na sequencia, que ainda deixa perceber doçura caramelada, casca de pão doce e um amargor bem baixinho (que não chega a 20 IBUs). A textura é leve e, dai pra frente, surge uma cerveja absolutamente deliciosa, levemente defumada e adocicada. No final, herbal discreto e defumação. No retrogosto, defumado.
De uma Franconian Rotbier para uma American Brown Ale, releitura made in USA (com maior presença de lúpulos) das English Brown Ale, que aqui marca presença com a Alienada Cervejaria, de Uberlândia, MG, e sua Polly, de coloração âmbar translucida e creme bege de média formação e retenção. No nariz, caramelado suave e percepção sutil de notas que remetem a biscoito, mas nada de chocolate, nota clássica do estilo, nem de lupulagem. Na boca, caramelo suave no primeiro toque com leve remissão a guaraná na sequencia, o biscoito voltando a baila e amargor baixíssimo, entregando toda a experiência para o malte. A textura é cremosinha sobre a língua (sensação que não percebe no caminho tradicional) e, dai em diante, não empolga, muito pelo contrário, decepciona com um conjunto abaixo do que se espera de uma cervejaria artesanal. No final, herbalzinho e amargor discreto. No retrogosto, biscoito.
Ainda em Minas Gerais, mas saindo de Uberlândia em direção ao polo cervejeiro de Nova Lima, que abriga diversas cervejarias artesanais, a Tarin inclusa, que marca presença aqui com a Acará, uma New England American Pale Ale que apresenta uma coloração amarela, turva e juicy tal qual um suco. O creme é branco de excelente formação e longa retenção. No nariz, frutado cítrico delicioso com uma suave pegada herbal na base (pinho). Na boca, doçura cítrica no primeiro toque seguida de mais pegada cítrica (laranja, lichia e manga) com traços herbais suaves (pinho) e amargor comportado, algo na casa dos 40 IBUS. A textura é suave e, dai pra frente, surge uma New England American Pale Ale bastante caprichada, com cítrico se sobrepondo ao herbal num conjunto que traz os dois perceptíveis, de maneira equilibrada e saborosa. No final, doçura frutada leve e herbal discreto. No retrogosto, manga e lichia.
Mantendo-se ainda nas Minas Gerais, mas saindo de Nova Lima para Paraisópolis com mais uma Zalaz a passar por aqui, e desta vez com a Pétala de Limão, uma Session IPA que recebe adição de limão e, na versão 2020, combina os lúpulos Azzaca, Citra e Simcoe. De coloração dourada levemente turva com creme branco de ótima formação e excelente retenção, a Zalaz Pétala de Limão apresenta um aroma perfumadíssimo, com muito frutado cítrico combinando deliciosamente com a doçura dos maltes. Na boca, doçura cítrica no primeiro toque abrindo na sequencia para um conjunto levíssimo com leve remissão a limão, pegada de frutas cítricas suave, doçura (de açúcar) e amargor bem leve, 45 IBUs que soam 25. A textura é leve e levemente cremosa. Dai pra frente, uma Session IPA absolutamente incrível, para se beber muito e ser muito feliz. No final, limão, doçura de açúcar e amargor leve. No retrogosto, refrescancia e quero mais.
De Minas Gerais para Varzea Paulista com mais uma cerveja da Dádiva a passar por aqui, desta vez a IPA da linha popular da casa, uma cerveja de coloração dourada com turbidez a frio e creme branco de boa formação e retenção. No nariz, frutas amarelas com maracujá em destaque e leve remissão a toranja sobre uma base suave de caramelo. Na boca, o grapefruit aparece antes no primeiro toque e segue dando as cartas na sequencia com sugestão média de maracujá, doçura acentuada de caramelo e amargor potente, 55 IBUs justos, que não estão de brincadeira, ainda que apareçam envoltos em caramelo. A textura é meladinha e, dai pra frente, a Dádiva entrega uma American IPA bastante honesta, que fica na linha que separa o estilo de uma Caramel IPA, mas o amargor e o frutado conseguem equilibrar bem o conjunto. No final, toranja e amargor leve. No retrogosto, toranja e doçura.
De Várzea Paulista para Blumenau, em Santa Catarina, com a Hemmer American Double IPA, uma Imperial IPA cuja receita destaca a combinação dos lúpulos Columbus, Amarillo, Cascade e Simcoe. De coloração âmbar amarelada com traços douradas e creme branco de boa formação e retenção, a Hemmer American Double IPA combina notas herbais intensas (pinho vivíssimo) com frutado destacado (frutas amarelas) sobre um base doce (mel) e levemente resinosa. Na boca, doçura melada rápida no primeiro toque seguida de forte presença de maracujá, de herbal e um amargor bastante potente,63 IBUs justíssimos que conseguem domar os 7;8% de álcool, levemente perceptíveis em meio a resina. A textura é meladinha e picante. Dai pra frente, doçura intensa, pinho, maracujá e amargor, que domina o final turbinado por resinoso médio. No retrogosto, amargor, maracujá e pinho.
Antuérpia Trela
– Produto: Pilsner
– Nacionalidade: Matias Barbosa, MG
– Graduação alcoólica: 4.5%
– Nota: 2.72 /5
Unicorn Hoppy Lager
– Produto: Hoppy Lager
– Nacionalidade: Itupeva, SP
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 2.93 /5
Hocus Pocus Reality Czech
– Produto: Czech Pilsner
– Nacionalidade: Rio de Janeiro, RJ
– Graduação alcoólica: 5.5%
– Nota: 3.50/5
Schornstein Belgian Wheat
– Produto: Belgian Wheat
– Nacionalidade: Pomerode, SC
– Graduação alcoólica: 4.5%
– Nota: 3.12/5
Avós Franconian Rotbier
– Produto: Franconian Rotbier
– Nacionalidade: São Paulo, SP
– Graduação alcoólica: 6%
– Nota: 4.00/5
Alienada Polly
– Produto: American Brown Ale
– Nacionalidade: Uberlândia, MG
– Graduação alcoólica: 5.1%
– Nota: 2.56/5
Tarin Acará
– Produto: New England American Pale Ale
– Nacionalidade: Nova Lima, MG
– Graduação alcoólica: 6.2%
– Nota: 3.99/5
Zalaz Pétala da Manhã 2020
– Produto: Session IPA
– Nacionalidade: Paraisópolis, MG
– Graduação alcoólica: 4.5%
– Nota: 3.77/5
Dadiva India Pale Ale
– Produto: IPA
– Nacionalidade: Várzea Paulista, SP
– Graduação alcoólica: 6%
– Nota: 3.30/5
Hemmer American Double IPA
– Produto: Double IPA
– Nacionalidade: Blumenau, SC
– Graduação alcoólica: 7.8%
– Nota: 3.30/5
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