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Oito países unidos pelo mesmo ideal de compartilhar cultura e, com ela, ideias, sonhos, desejos, revoluções.
ARGENTINA
por Juampa Barbero / Indie Hoy
Como todos os anos, durante o mês de dezembro a equipe do Indie Hoy prepara um balanço dos melhores lançamentos dos últimos 12 meses. Essa contagem meticulosa abarca músicas, discos, filmes e livros que deixaram uma marca neste 2020 muito particular. A seleção das 50 canções do ano teve como base o cenário nacional e foi liderada por Ca7riel e sua ambiciosa “Polvo”, faixa que demonstra a versatilidade sonora do traper e seu lado bipolar. “Ubicación en Tiempo Real”, a estreia solo de Barbi Recanati, ficou em primeiro lugar entre os 50 álbuns, um disco que foi lançado no início da quarentena e serviu como um companheiro ideal para superar o isolamento. Quanto ao cinema, o primeiro lugar ficou com “Retrato de uma Jovem em Chamas”, da diretora francesa Céline Sciamma, por sua sensibilidade e sutileza. Por fim, a seleção de livros optou por recomendar oito títulos que vão desde crítica musical (“Radiohead: Kid A”, de Marvin Lin), poesia (“Los Aviones No Se Caen”, de Eduardo Savino) à ficção (“Ficus”, de Iair Kon).
No final do mês, e para fechar um ano esquecível, o Senado argentino aprovou a Lei de Interrupção Voluntária da Gravidez, um triunfo histórico do movimento político feminino. Após uma luta de décadas e várias gerações, o aborto deixou de ser clandestino em território nacional: o novo direito conquistado foi amplamente festejado pelos músicos, nas ruas e nas redes.
O último mês do ano não economizou em novos lançamentos. Altocamet voltou com um single intitulado “Prohibición” três anos após o lançamento de seu último álbum, “Atrapando Rayos”. Este novo lançamento do grupo Mar del Plata é a primeira prévia de “Surfista Nocturno”, seu próximo álbum agendado para 2021. Uma peça com tons melancólicos e um som envolvente criada em conjunto com o famoso produtor londrino Graham Sutton.
Dois meses depois de lançar “Paranoia Pop”, seu terceiro álbum, Bandalos Chinos compartilharam um presente para a árvore de natal de seus seguidores chamada “Feliz Navibach”. Trata-se de um álbum que inclui demos de algumas das canções mais populares de sua história de 10 anos, discos ao vivo e uma versão inédita do hit “Departamento” cantada em português.
O espírito natalino invadiu também o artista Rudy, de Córdoba, que apresentou, juntamente com Santiago Moraes, como convidado, uma nostálgica canção natalina intitulada “Noche de Navidad”. Essa música usa a milonga para transmitir a tristeza da época com letras que transmitem o sentimento de solidão de diferentes personagens que vêm e vão sem rumo enquanto todos brindam à mesa.
Os meses de quarentena inspiraram Mora Riel, vocalista da dupla de rock alternativo Riel, a explorar seu lado solo. Na angustiada “Mil Dias“, a artista portenha põe de lado o shoegaze de sua banda e explora a fusão de gêneros como o R&B à base de hip-hop lo fi.
Ca7riel e Chita juntaram forças novamente após o sucesso de sua primeira colaboração, “No Fue”, mas desta vez optaram por elevar um pouco os decibéis com um reggaeton vigoroso intitulado “I Rili Don’t Care” e um vídeo dirigido por Orco.
Outra combinação de talentos, talvez menos esperada que a anterior, foi a de David Lebón e Zoe Gotusso. Em “La Previa con Bebe’, programa da jornalista Bebe Contepomi, David e Zoe se reuniram para recriar um dos clássicos do emblemático cantor e compositor argentino, “Quiero Regalarte Mi Amor”, originalmente incluído em seu álbum “Siempre Estaré” (1983).
Depois de arrasar com “Caravana” no ano passado, Wos apresentou a segunda prévia de seu próximo álbum. Se o rapper colocou a vara muito alta com seu álbum de estreia, “Convoy Jarana” mostra que ele está disposto a fazer o que for preciso para bater seu próprio recorde. Neste novo single, ataca com a verborragia explosiva e a atitude frenética que o torna um dos mais relevantes artistas argentinos da atualidade.
Pommez Internacional, a dupla formada por Juan Ibarlucía e Ignacio Cruz, estreou a segunda parte de “Infierno Porteño”, um EP de cinco canções que retrata a desintegração sócio-política que vive a América Latina. Entre máquinas de ritmo estrondosas e sintetizadores vertiginosos, a banda constrói um universo apocalíptico que representa o clima tenso de nossa região.
BRASIL
por Marcelo Costa / Scream & Yell
Dezembro é, normalmente, um mês bastante tranquilo no setor cultural brasileiro. Não foi diferente em 2020, em que a cultura e todas as outras áreas ficaram em segundo plano assistindo a um embate político entre o presidente da república, o genocida Jair Bolsonaro, e o oportunista governador do estado de São Paulo, João Dória, numa queda de braço eterna sobre qual vacina comprar para proteger os brasileiros contra a Covid-19. Politizando a pandemia, os políticos tentam ganhar votos para o pleito de 2022, e todo o povo brasileiro perde. Somos quase 210 milhões de pessoas e seremos, por incompetência de Bolsonaro, uma das últimas nações a terem seu povo inteiramente vacinado. 2020 será conhecido futuramente como um dos anos mais grotescos da História do Brasil, uma nação que foi dividida ao meio por um governo negacionista que firmou seus alicerces com base em fake news e falso moralismo. É impossível visualizar agora um futuro seguro para o país, como um todo, e para o setor cultural, em particular. Pois ainda estamos à beira de um colapso pandêmico, e não temos a mínima ideia de quando tudo voltará ao normal. E quando voltar, teremos que reconstruir tudo, e sei que faremos isso, mas poderíamos estar um pouco mais tranquilos se tivéssemos um homem decente na cadeira de presidente. Sairemos desse buraco como saímos de outros ainda piores, mas as cicatrizes irão nos acompanhar por décadas.
Se não fossem as artes, sei lá se teríamos sobrevivido dignamente a 2020. Então, vamos aos destaques de dezembro:
O último mês do ano abre a corrida para as listas de melhores do ano, e algumas ganham destaque por sua qualidade, variedade e amplitude. A Associação Paulista de Críticos de Arte divulgou sua já tradicional lista de 50 Melhores Discos Brasileiros do ano, e você pode conferir os escolhidos de 2020 aqui. No Scream & Yell, publicamos um grande especial com votos de mais de 100 convidados no mês de janeiro, e enquanto somamos os votos vocês podem conferir a importante lista dos 50 Melhores Discos de 2020 do site Tenho Mais Discos Que Amigos, outro importante veículo independente cultural brasileiro.
NOVIDADES MUSICAIS
O Cólera, um dos importantes grupos do movimento punk brasileiro, teve um de seus álbuns clássicos, “Pela Paz em Todo Mundo!”, reeditado em um box luxuoso para comemorar 35 anos de história. Além da reedição do álbum em vinil amarelo 180 gramas, a caixa traz um extenso material extra incluindo um compacto inédito de quatro faixas ao vivo em 1988, uma fita cassete com os ensaios para gravação do disco, camiseta, pôsteres e muito mais. Merecido!
Outro disco clássico da música brasileira também ganhará reedição, desta vez através do Noize Record Club: “Verde Anil Amarelo Cor de Rosa e Carvão” (1994), de Marisa Monte, será relançado pelo clube de vinil para seus associados em uma edição limitada com vinil rosa e revista exclusiva.
No Scream & Yell, dezembro marcou o lançamento do 31º disco de nosso selo, um compacto duplo unindo os brasileiros dos Autoramas e os argentinos da The Tormentos. Este EP, liberado para download gratuito no site, traz quatro faixas, sendo que duas delas são versões exclusivas para o Selo Scream & Yell.
Um dos assuntos mais comentados na área cultural brasileira em dezembro foi a estreia do extraordinário e emocionante documentário “AmarElo, É Tudo Pra Ontem”, do rapper Emicida, na Netflix. Uma aula de história que mistura vida pessoal e coletiva de maneira urgente, empolgante e inspiradora.
A rapper Flora Matos lançou no dia 22 de dezembro seu novo trabalho, “Do Lado de Flora”, um álbum de 12 faixas que mantém a pegada suave de seu primeiro disco. São canções de amor escoradas na melancolia embaladas por beats leves que grudam na cabeça e fazem o corpo balançar. Destaques para os singles “I Love You” e “Boy Magia” além de um remix de um dos hits do disco anterior, “Me Ame em Miami”.
Artista que tem uma história musical desde os anos 1980, quando formou o grupo Mulheres Negras, André Abujamra lançou dois discos em 2020: o primeiro deles é um projeto antigo, experimental e divertido com o guitarrista do Pato Fu e produtor John Ulhoa, “ABCYÇWÖK”. O outro é “Emidoinã – a Alma de Fogo”, em que ele conta uma história usando simbologias com deuses egípcios, dríadas, personagens mitológicos e seres imaginários. O fogo que tudo transforma, que gera destruição e ao mesmo tempo renova a vida.
Celebrando 85 anos de vida, a cantora e compositora Alaíde Costa lançou “O Anel – Alaíde Costa canta José Miguel Wisnik”, pelo Selo SESC. São 10 canções, três delas inéditas, em que a dama da canção brasileira reencontra o belo repertório de Wisnik. Um disco belíssimo e elegante para fazer o coração flutuar que rendeu um show especial (sem público) que pode ser assistido e ouvido na integra aqui.
De Minas Gerais, o grupo de altcountry Moons revelou o EP “Blood on Canvas”. De Sergipe, o trio de blues rock The Baggios anunciou o lançamento de um novo álbum para 2021 com o single lisérgico “Mantrayam”. De São Paulo, Chuck Hiphólito comentou no Scream & Yell todas as faixas de seu primeiro álbum solo, “Mais Ou Menos Bem”, que conta com versões em português para canções do El Mató e Daniel Johnston. Quem também fez um faixa a faixa especial no site foi o duo Os Almeida, falando de “Os Almeida Ficam em Casa”, disco crítico ao governo de Jair Bolsonaro. Do Amazonas, o quarteto de indie brazilian rock Supercolisor mostra o clipe de “Pardal”, que conta com a pintora chilena MaPa criando uma pintura durante a gravação do vídeo.
CINEMA
Destaques para “Fico Te Devendo uma Carta Sobre o Brasil”, da cineasta Carol Benjamin, um interessante tratado sobre as marcas da ditadura militar em três gerações de uma família (a ditadura é uma cicatriz ainda aberta na pele do povo brasileiro), “Os 8 Magníficos”, último filme do apaixonado cineasta Domingos Oliveira, falecido em 2019, que conta com grandes atores nacionais como Wagner Moura (“Narcos”) e Fernanda Torres (filha de Fernanda Montenegro, atriz indicada ao Oscar por sua atuação comovente em “Central do Brasil”, de 1998), e “Boni Bonita”, de Daniel Barosa, é viagem amarga de amor e autodestruição com bela trilha sonora do músico Apeles.
LITERATURA
Um dos grandes lançamentos recentes foi “A Organização”, livro em que a jornalista Malu Gaspar destrincha a história completa (e a secreta) da ascensão, do auge e da queda da Odebrecht, empreiteira com um longo histórico de práticas escusas que abalou a República e chocou o mundo, envolvendo propinas a centenas de políticos, de prefeitos a presidentes, um sistema de corrupção que parecia inviolável, e lança luz sobre as espúrias relações entre Estado e empresas que condicionaram por muito tempo uma espécie de “capitalismo à brasileira”.
O QUE VEM POR AI
Janeiro é o mês do Top 7 Scream & Yell, um especial de melhores do ano que conta com mais de 100 participantes, com votos abertos e centenas de dicas sobre discos, filmes, séries e livros. Para entrar no clima do especial (que deve entrar no ar na terceira semana de janeiro), veja quem foram os vencedores do Top 7 Scream & Yell 2019.
CHILE
por Equipe POTQ Magazine
O pandêmico 2020 (finalmente) chegou ao fim, mas isso não foi um impedimento para muitos artistas continuarem publicando novas músicas para ouvir (e admirar, por que não). Em um mês em que as atenções estão voltadas para as listas dos “melhores”, é preciso não deixar de prestar atenção aos últimos lançamentos do ano.
O músico e produtor Andrés Landon está de volta com “Y qué wea?“, o primeiro single de “ERA”, seu novo álbum. No limite do spokenword com uma base eletrônica com gosto pelo trap, o músico nos entrega um manifesto direto onde nos diz que não está disposto a cumprir a lista de mandamentos para ser um artista popular. Aquele que encabeça as listas de radares nas plataformas, aquele que tira tempo do seu trabalho para ser CM e também um influenciador (“no les voy a dar en el gusto qué wea/ no quiero entrar en el juego qué wea/ de nuevo pasando el sombrero qué wea/ prefiero empezar de cero una vez más (…) estar activo en redes / ser digno de un meme/ hacer una playlist que defina quién eres”). Esperamos esse álbum com grande curiosidade.
Um dos projetos mais interessantes de 2020 apresenta uma nova música. Trata-se de “Bailemos la Pena“, da elmalamía, que já nos surpreendeu há alguns meses com sua primeira música, “Quieres Más”. Nos encontramos novamente com aqueles sons quebrados que soam como palpitações, enquanto o músico nos fala sobre “ter as emoções ou os sentimentos adormecidos, a ponto de se inflamar emocionalmente ou explodir. Significa muito para mim porque foi uma das primeiras composições que fiz neste novo caminho ”.
E se você quer dançar com um espírito diferente, tem também “O$ho”, a última novidade de Gabriel Rammsy em seu novo projeto Poro. Por aqui nós amamos para as tardes de verão confinadas, com uma vibração tropical e batida de plug. “Este novo single é uma crítica irônica aos artistas do gênero que buscam apenas o dinheiro como fim por meio da música e não a música como fim em si mesma”, explica o músico, intitulado assim a canção de Osho, o professor Indiano que buscou espiritualidade sem descuidar de carros caros e relógios de ouro. Você quer ver o músico oscilando em seu próprio tema em mundos de fantasia? Bem, aqui está o videoclipe.
No início da primeira década de 2000, Raimundo Santander era considerado uma das promessas do novo jazz chileno, liderando diversos conjuntos e projetos como a Orquesta del Viento y Peregrinos, onde, além da improvisação musical, a pictórica esteva presente, junto com a artista Sol Díaz. E finalmente temos novidades sobre sua música. Trata-se do anúncio de “El Tesoro del Presente”, uma nova obra que será publicada via Selo Mescalina em 2021 e que se inspira no campo local, com canções gravadas em um take, “utilizando diferentes tipos de violões, como o guitarrón chileno”, explica. Em dezembro conhecemos “Vals para la Filomena“, onde se destaca o uso da guitarra transposta, uma forma diferente de afinar o instrumento. É um violão de tradição oral que chegou da Europa e no Chile se transformou e permaneceu no campo, sendo desenvolvido por cantoras.
Autotune e house se unem no novo single do Ilmato. Em “Clock” (com um excelente vídeo dirigido por Felipe Prado), já vimos que a proposta estava lá: buscar um pop latino às margens da house music, afastando-se do padrão atual que vê a adaptação de sons de trap e reggaeton como única moeda de sucesso. Desta vez em “TEEN”, o músico junta-se ao produtor Taiko e fala-nos da vontade de regressar aos 16 anos e não ter as responsabilidades que o oprimem -ainda mais neste 2020. Lembra um pouco “I Gotta Feeling”, do Black Eyed Peas, por causa da batida e da estrutura da música, mas isso nunca vai ser uma crítica, porque é um das coisas mais grudentas da história da música, que não nos deixou em paz por muito tempo.
No último mês do ano pudemos ouvir também o primeiro single do quarto álbum de Yorka, uma música onde o pop se destaca, com a marca já característica das irmãs Pastenes. Hoje já conhecemos o videoclipe da música, estrelado pela atriz Josefina Montané e a artista Dindi Jane, que tem que assistir a “conversa escondida na gaveta”. “Tenho que limpar minha bagunça”, diz a canção, que parece um bom empurrão para fazer o que você vem adiando há muito tempo. Elas explicam que esta canção é sobre “repensar a culpa, recompreender o que significa mentira, principalmente na nossa geração onde é repensar como queremos ter relacionamentos amorosos; onde a mentira é uma tônica de problemas e rupturas. É uma música em que o convidamos a ordenar sua mente antes”.
DrefQuila está em uma missão desde setembro: lançar e lançar singles, com algumas semanas entre um e outro. Um mês depois de seu single anterior, ele voltou prometendo reggaeton puro; mas, além de manter aquela periodicidade auto-imposta, “Mariao” (que vem com videoclipe incluso) também surge da vontade de trabalhar com o jovem produtor local Taiko (que já colaborou com Bad Bunny, J Balvin e Ozuna, entre outros).
Cinco anos depois de sua estreia, dezembro marcou o retorno de Vitami com a primeira prévia de seu próximo álbum, “La Eternidad”. Duas décadas de amizade teriam sido motivo mais do que suficiente para Bronko Yotte participar de “Despertar“, uma peça ensolarada que mistura reggae e rap, mas na verdade foi a conexão com essa música e sua letra (que fala sobre como o amor a transcende tudo) o que motivou esta bela colaboração.
Outro regresso foi o do PapaNegro, grupo que por muito tempo parecia destinado a assumir o posto de funk tão popular em nosso país, e que em 2018 entrou em recesso. É sempre bom quando as bandas se aventuram e é o que fizeram com esse single que dá um novo tratamento a “Placer Automático“, baixando um pouco o funk e aumentando os teclados mais modernos. Agora a porta está aberta para ver se esse som leva a novas canções.
Para fechar 2020, duas gerações da cena chilena de raízes negras se uniram em uma colaboração que levou pouco mais de um ano para se concretizar. “Real Luz de Dios“, original do álbum “Almático” que Before Nacer publicou em 2014, foi gravada totalmente do zero para agregar três integrantes do Santiago Soul: EXE e Luna Paz nos vocais e Kenneth Vazquez na guitarra. Uma música que fala sobre a divindade sem gênero que vive dentro de todos nós.
Discos / EPs
Os segundos iniciais de “La Lógica de lo Incierto”, o single de abertura do primeiro álbum de Pulmón, são um bom sinal para quem acredita que este é apenas mais um álbum de música latino-americana. O projeto de Antofagasta liderado por Herman Barrios funde seu lado rock com uma variedade de influências e instrumentos. Stoner, vientos e rockabilly são alguns dos elementos que marcam presença em “Piénsalo Bien”.
O lance de Las Naves, uma dupla que inclui Arturo Figueroa e Roberto Rojas, é realmente atípico: desde 2012 até agora eles conseguem publicar um álbum por ano. “Bienvenidos Espectros” é o nono da série, publicada sob o lema “o último álbum chileno de 2020”. Tendo como influências ABBA, Jeff Lynne, Beck e os Bee Gees, a dupla apresenta sete canções compostas entre o surto social e a pandemia em que vivemos. “Música zumbidora e reflexiva”, experimental mas com um desejo inegável de soar pop.
Em seu segundo álbum, “Donde Sale la Luna Ilumina la Noche”, o IIOII abraçou o conceitual com uma obra de música eletrônica dividida em quatro movimentos. O nome do álbum está longe de ser caprichoso, já que a dupla composta por Gio Foschino e Nicolás Alvarado buscou explorar o que acontece depois que o sol se põe: a relação entre a sombra da noite e o luar, suas nuances e expansões que mudam a todo momento.
Março de 2020 trouxe o lançamento de “Ciénaga”, o primeiro álbum do I.O., pop e experimental em igual medida. Agora, o artista retorna com uma releitura do disco em que dez produtores (incluindo nomes como Entrópica e Jim Hast, o único dos convocados que estava na obra original) transformam essas canções sob suas visões e propostas.
Os caminhos do hip-hop são estranhos de percorrer, e a verdade é que III Puñales não facilita essa tarefa, mas sim procura refugiar-se no grande guarda-chuva da música experimental e entregar um disco que começa musicalmente lofi, passa pelo indie e termina num (por falta de termo mais específico) hip-hop abstrato que flerta com o jazz. Se antes a banda podia ser facilmente comparada a Cómo Asesinar a Felipes, este lançamento os afasta dessa ideia, como dois ramos separados um do outro, mas vindo da mesma árvore.
Depois de publicar seu primeiro e homônimo álbum em outubro de 2019 (sexta-feira, 11, quase se despedindo do Chile Antiguo), o sexteto OXA quis usar a pandemia para um experimento intitulado “La Máquina del Tiempo”: um EP de deliciosa fatura de soul-pop em que reverteram três canções de seu catálogo, incluindo seu single de estreia, “Eterno”. Tudo isso gravado remotamente e em colaboração com Yorka, EXE, La Magdalena e o trompetista Sergio Quijada.
Industria
Dezembro no Chile começou com um dos nossos panoramas anuais favoritos: In-Edit Chile, um festival de documentários musicais que este ano se adaptou às circunstâncias e abraçou o formato virtual. É nesse contexto que vimos e comentamos duas de nossas obras favoritas de seu line up: “Ethiopiques: Revolt of the Soul”, de Maciej Bochniak e “Making Waves”, de Midge Costin.
Enquanto isso, janeiro em nosso país é sempre marcado por Santiago a Mil, festival anual de teatro e artes performaticas que também se adaptou à realidade atual agregando formatos múltiplos, do virtual ao monologo, durante seus 21 dias. Dois convidados musicais se destacam: Laurie Anderson, apresentando o documentário “Heart of a Dog”, e Rufus Wainwright, que fará três shows. Ambas as atividades serão via streaming. Em contrapartida, haverá também uma série de micro-concertos a partir de várias esplanadas de Santiago, num ciclo denominado Voces de Mujer al Viento.
Também, da cidade de Concepción, será realizada a segunda versão do Dart: Festival de Documentários de Arte Contemporânea. Arquitetura e mulher em cena são os dois grandes temas deste ano, representados por quatro documentários que serão veiculados a cada quinta-feira de janeiro em streaming gratuito, acessando o site do Teatro Biobío.
O que vem
Nos próximos dias apresentaremos nosso especial de 2020: uma série de resenhas, artigos e entrevistas em que o foco não está no “melhor de”, mas em como a música (tanto do nosso país como de outras latitudes) dialoga com as circunstâncias não só inéditas, mas inimagináveis até poucos meses atrás.
COLÔMBIA
por Fabián Páez López / Shock.co
Sobrevivemos ao ano mais estranho que já vivemos. Ainda assustados, e na esperança de que em 2021 possamos, pelo menos, sacudir o “novo normal” e voltar ao antigo, em Shock montamos um especial com nossa seleção do que, segundo nossa equipe editorial, foi o destaque deste 2020 maltratado.
Fizemos uma seleção com 35 álbuns locais, 15 EPs e 50 músicas. Visite nosso especial para ver as listas completas. Este mês, também demos um profundo mergulho num fenômeno que está crescendo fortemente na região de Chocó: o Ritmo Exótico, um movimento experimental que cresce na Internet e que agrega canções inclassificáveis. Você pode ler aqui do que se trata.
Nesse dezembro com as luzes apagadas, com toda reativação do vírus, novos tiros de canhão saíram. Este mês dizemos “tiros de canhão” aos lançamentos relembrando os clássicos compilados que a lendária editora local, Discos Fuentes, lançou durante anos com música natalina. Eram verdadeiras joias da música popular de final de ano.
Agora, aqui estão nossas recomendações do mês.
O rapper de Medellín Luis7Lunes lançou “Audio Descriptivo”, um álbum de rap espirituoso, introspectivo e reflexivo. Aqui você pode ouvir e ler a crítica e a entrevista que fizemos. Nós o salvamos para as listagens de 2021.
Um nome novo e interessante emergiu da cena queer local. Trata-se de Jei Fabiane, cujo EP de estreia, “Chico Raro”, se tornou, com efeito, uma raridade musical provocante que funde punk, eletrônico e rock dos anos oitenta. Seu primeiro single, “Maricas”, é dedicado para todos aqueles que ainda estão dentro do armário.
“O Monstro do Acordeão”, Alfredo Gutierrez, do famoso Corraleros de Majagual e um dos ícones da música tropical colombiana, com 60 anos de carreira, lançou um álbum em homenagem à champeta criolla, famoso gênero do Caribe colombiano. O álbum inclui duas canções inéditas e 12 versões de temas clássicos da música popular colombiana. Um disco para dançar grudado.
Também no Caribe colombiano, de Cartagena, Kevin Florez, champetero da nova geração, lançou “Young King”, um álbum de 12 canções em que champeta se mistura em fragmentos com reggaeton e Afrobeat. Além disso, como ñapa, ele lançou um single em que se juntou a três nomes: Mc Killer, Big Yamo e Gabriel Garzón-Montano.
No dia 3 de dezembro, nossa terceira Shock Session de 2020 viu a luz. Nos juntamos à dupla formada pelo peruano-americano David Stewart Jr. (voz e baixo) e a mexicana Chava Ilizaliturri (bateria), Migrant Motel, com a artista de Bogotá indicada ao Grammy Latino Soy Emilia. O resultado foi esse tema que cobre “I Don’t Wanna Know” em espanglês, uma canção lançada há um ano pelo Migrant Motel.
O cantor e produtor da cidade de Cali, Jossman, se juntou a Junior Jein, do Buenaventura, e estreou um suculento e dançante afrobeat com um vídeo tremendo, dirigido pelo pessoal da La ruta estudio. A canção é intitulada “Pa las que se“.
Na mesma linha, a cordobesa Martina La Peligrosa também se aventurou no Afrobeat com uma canção intitulada “Lo mejor de mí“.
Yoky Barrios, rapper da cidade de Bogotá, também se meteu no Afrobeat e o misturou com dancehall e cumbia na música “Apagame el fuego“.
ESPANHA
por Rubén Scaramuzzino / Zona de Obras
Poucas vezes o final de um ano foi tão esperado tanto quanto o deste infame 2020. Em meio a festas de Natal pandêmicas, a tensão política permanente e uma crise econômica crescente, a cultura e as canções são vitais mais do que nunca. Aqui está uma revisão de algumas das pérolas que o mês de dezembro nos deixou.
Singles
Começamos o passeio de singles com Califato ¾ e seu “Çambra der Huebê Çanto” (lê-se “Zambra del Jueves Santo”), um copla-rap-western para celebrar o dia de sua terra, a Andaluzia, ao ritmo da copla, hardcore-rap noventista e o espírito das trilhas sonoras western.
O grande Kiko Veneno vive uma nova juventude em que não para de nos dar doses do seu talento e criatividade. Agora é a vez de “Dias Raros”, música criada e gravada durante o confinamento. Fala-nos do momento (histórico) em que vivemos através de uma crônica sentimental e ao mesmo tempo reflexiva sobre os confinamentos.
Depois de se consagrar com o álbum “Visto en El Jueves”, a brilhante cantora Huelva Rocío Márquez é acompanhada pelo violonista e compositor Canito para dar forma a “Jamás”, uma canção que nasceu do convite de Isaías Griñolo a Rocío para musicar este precioso poema de César Vallejo que fala da dor compartilhada e em que suas imagens ganham atualidade em um ano em que a humanidade enfrenta um desafio sem precedentes.
El Petit de Cal Eril, a banda catalã liderada por Joan Pons que se apresenta maravilhosamente no campo do folk-pop, da canção popular e da psicodelia apresenta “Com quan dormim”, uma canção estimulante que também é publicada em single 7 “edição limitada versão numerada que inclui uma versão de” Close To Me “do The Cure em seu lado B.
Continuando com a língua catalã, nos concentramos em “Reflexe”, uma prévia do próximo álbum de Ferrán Palau. O videoclipe, dirigido por Carles Pons Altamira e gravado em sequência, homenageia o cinema slasher dos anos 80 e 90. Nas palavras do próprio Ferrán: “É uma metáfora visual que reflete dois gêneros e uma homenagem às pessoas que transitam ou que simplesmente não (querem) caber no sistema binário”. Tudo ao ritmo do cajado folk característico do músico nascido em Esparreguera.
Dorian se junta a Pimp Flaco, cabeça pensante da banda Cupido e um nome de destaque no cenário do trap na Espanha, para dar forma a “Dual”, a primeira canção original publicada pela banda de Barcelona após o encerramento da turnê de seu álbum de sucesso “Justicia Universal”. A música, narrada do ponto de vista de uma jovem bissexual agredida por sua condição, é um hino à liberdade individual e à diversidade.
Com o hábito saudável de cantar para a realidade que temos que viver, a dupla da região de Navarra Iseo & Dodosound retorna ao ringue com “Atrapada”, uma música em que continua apostando na mistura de texturas eletrônicas atuais com sons analógicos através de uma canção rasgada e sincera para com 2020, o ano em que tudo mudou completamente.
Bruna, banda comandada por Nadia Álvarez, de León, arranca com uma versão sugestiva em tom feminista do clássico do cantor-compositor e poeta cubano Silvio Rodríguez “Sueño con serpientes“. Para a ocasião, os versos do início da música foram modificados, dando destaque às mulheres na inesgotável luta feminista ao longo da história.
Antecipando seu segundo álbum, que será editado em junho de 2021, a banda madrilena Sonograma publica “Arde el Imperio”, uma declaração de amor acompanhada por um lyric video que oferece uma retroscopia em que duas pessoas se abraçam alheio ao que está acontecendo ao seu redor.
A também madrilena Club del Río oferece um novo single, “De Una Piedra”, uma canção folk-pop que te incentiva a perder o medo e a agir antes de pensar. A música, uma prévia do que será seu novo álbum a ser publicado no início de 2021, traz um videoclipe que explora a premissa da letra: movimento e ação diante da frustração.
Álbuns
Na seção de discos, destacamos a publicação de “Todo Mal”, de Casero, uma obra intimista que, afiliada às propriedades narcóticas do bedroom-pop, surge como uma peça de ourivesaria pop altamente sugestiva. Casero é o novo projeto de Gabriela Casero, que também dá vida a Mow e já fez parte do grupo Solo Astra.
Da Galícia, Néboa chega com “A Realidade Engañosa”, a estreia de um dos mais atrativos projetos propostos pela heterodoxia pop dos nossos dias. Este primeiro álbum do quinteto compõe um quadro de minimalismo pop, pop alternativo experimental e sons que ressoam profundamente na canção tradicional.
Após cinco anos publicando apenas singles e nada em formato físico, a banda madrilena L Kan decidiu editar um álbum que compilasse todas essas canções. “¡Viva la farsa!” compila as canções lançadas desde 2017, somando duas de 2020 e três inéditas, incluindo uma versão de “Como yo soy tan rare”, cumbia do colombiano Gildardo Montoya, maior expoente da música de festa paisa.
Um ano após a publicação do precioso “Nacer en Marte”, a murciana Lidia Damunt lança “Remixes”, um EP em que quatro das suas canções ganham novo corpo e dimensão através da releitura de Putochinomaricón, Joe Crepúsculo, Hidrogenesse e Camilo Lara, do Instituto Mexicano do Som. Para dançar de ponta a ponta.
Cine
Após uma forte depressão, Vicente chega com sua esposa Mariña à remota ilha de Ons para passar o verão. O objetivo é se recuperar emocionalmente e resgatar seu casamento. Mas a permanência se prolonga e segredos ocultos emergirão que não farão nada igual novamente. É a trama de “Ons’, um filme de mistério com conotações dramáticas do realizador galego Alfonso Zarauza apresentado no último Festival de Sevilha e estreado a 18 de dezembro, que se tornou uma das mais recentes revelações do cinema.
MÉXICO
por Cynthia Flores / Indie Rocks!
A Cidade do México está novamente em um “semáforo vermelho”, ou seja, vivendo um bloqueio de emergência obrigatório. Sentiu-se o retorno desta situação, com o número de casos conhecidos da COVID-19 se tornando mais constantes e, na Cidade do México, os hospitais saturados – confirmei pessoalmente devido ao caso de uma tia que demorou quatro dias para encontrar quarto de hospital para tratar a doença. No final, o descuido de muitos continua a prejudicar muitos mais. No final do ano, o renomado compositor mexicano de bolero, Armando Manzanero, morreu de COVID-19 após contrair a doença em sua festa de aniversário numa viagem a sua terra natal Mérida para abrir um museu em sua homenagem.
Por outro lado, a série documental “Quebra Tudo” foi lançada na Netflix e aqui no México as menções negativas e críticas nas redes sociais sobre a cobertura que tem sido dada a esse relato do rock na América Latina não pararam. O que vocês acharam dele?
Lançamentos
Vídeos
Duas jovens propostas musicais no México unem talentos para apresentar “Otros Colores”, Daniel Quien e BRATTY. Ambos fazem parte da nova lista de talentos da Universal Music e trazem tanto o vídeo quanto a música do bolero que fala de outros mundos e dimensões onde certas histórias de amor podem acontecer.
Neste janeiro Zoé lançará novo material. O nome da próxima produção se chamará “Sonidos de Karmática Resonancia” e o single “El Duelo”, que saiu junto com o vídeo dirigido por León Lárregui em conjunto com Margaret Turck, antecipa o álbum. É uma faixa que fala sobre a importância de buscar a liberdade e fugir de relacionamentos tóxicos.
Do selo Sicario Music, Mathilde Sobrino estreia seu single de estreia “Lo Vi Venir” acompanhada por um vídeo surreal dirigido por Rodolfo Haro Garza. Neste single, a cantora e compositora mostra uma nova etapa na exploração de gêneros musicais mais voltados para o electro pop, trip hop e sons alternativos.
Singles
“Beat relajado para estudiar” é o último single lançado pela banda da capital Little Jesus com uma batida muito minimalista e calma que nos convida a relaxar nesta crise de confinamento e a concentrar-nos no que realmente importa. A música é acompanhada por um vídeo lírico realizado por Fernando Bueno Botello.
Com um shoegaze fino e melódico, a banda de Tijuana Policías y Ladrones chega com “Brillo”. Faixa que dá a notícia de que se juntaram à família do selo independente Arts and Crafts México e que emerge de seu próximo disco de longa duração que se chamará “Nubes”.
Uma das propostas deste ano no Indie Rocks !, Daniel Craft, chega com uma simples e esperançosa faixa para piano intitulada “Sin Parar”. Uma balada suave que vai te deixar com um pouco de nostalgia por essa transição do ano.
“María”, de Entre Desiertos, é uma faixa experimental de sutil dream pop que responde à necessidade de levantar a voz diante da violência que vive não só o país, mas o mundo inteiro. Eles afirmam que “este é o single mais litúrgico contemporâneo que já (des) compomos.”
Mais uma vez Daniel Quién dá notícias com a estreia de uma versão muito particular de “Luci”, uma canção de Zoé que faz parte do LP “Aztlán”, que se apresenta como uma pré-estreia do segundo volume de “Reversiones de Zoé”, que será lançado muito em breve. Confira aqui o bate-papo que tivemos com ele sobre os detalhes dessa estreia.
Discos
Se você gosta de stoner e heavy psych, El Culto del Ojo Rojo chegou neste mês de dezembro para apresentar em plataformas e em formato físico seu álbum “El Viaje del Hombre Prometeo”, uma peça de estreia desta banda original com raízes em Juárez, Chihuahua, agora baseados na capital, e que atinge um som poderoso, progressivo e stoner.
Sexores, da Cidade do México, lançou “X”, uma compilação de 12 covers de diferentes bandas underground mexicanas para comemorar os 10 anos desse incrível projeto mexicano que experimenta entre o dream pop, o pós-punk e o darkwave.
Ikiatari, uma banda de cyberpunk e math rock da capital, lançou a última parte do “ON-NOMI”. Trata-se de uma trilogia de EPs cujo significado é “online drinking”, termo que se popularizou no Japão como resultado da pandemia e que serve para nomear as novas formas de nos comunicarmos em um contexto de isolamento.
A jovem zacateca Natalia Díaz, mais conhecida como Arroba Nat, estreia um poderoso EP de folk, pop e baladas: “Los Días en la Sala”. Nele, ela continua a enfrentar a verdade de suas emoções com suas letras e a textura jovial de sua voz.
A título de recordação, durante o mês de dezembro, conforme já referido no panorama anterior, Pepe Mogt apresentou no festival online Mutek o média metragem “Maija Awi: Concierto Campo Alaska”, uma Instalação Audiovisual.
“A instalação-filme não é apenas um registro sonoro de imagens, cores e texturas paisagísticas do ecossistema natural ao qual corresponde o deserto da Baja California, especificamente La Rumorosa ou região de enclave da etnia Kumiai. O exercício é também um pretexto para exprimir a beleza inquietantemente silenciosa da zona e os antigos mistérios que a preenchem através da música produzida e composta por Mogt”. Uma peça extraordinária em todos os sentidos, espero que em breve esteja disponível para todos verem.
Livro recomendado
Editado pela Editorial Sexto Piso, chega “Maten la Música Maldita de Carlos Velázquez”, publicação que contém crónicas muito pessoais de concertos de Nick Cave, Iggy Pop, Marky Ramone e muitos mais no estilo característico do autor coahuilense.
O que vem em janeiro
Por enquanto continuaremos esperando que mudemos o semáforo, no momento não há muito o que esperar de eventos online ou festivais virtuais.
PERU
por Renzo Lobato/ Rock Achorao
Dezembro foi o último suspiro do ano terrível que tivemos que viver e com o qual aprendemos muito, principalmente a olhar ao nosso redor, valorizar e agradecer o que temos. Um ano chave em que aprendemos que precisamos da unidade para crescer, exercício que estamos colocando em prática neste exato momento, compartilhando música e cultura ibero-americana através de oito importantes veículos de comunicação simultaneamente. Depois de experimentar (mais) crises de saúde, políticas e econômicas ao longo do ano, a música se torna nossa melhor pílula para elevar o moral e nos ajudar a imaginar um 2021 onde a sorte está do nosso lado. Isso aconteceu em dezembro de 2020:
Novos singles
Para o Natal, a banda peruano-italiana Cacao Mental nos deu esta extraordinária versão em chave de cumbia da canção natalina “Navidad de los pobres” em cumplicidade com a Orquesta sinfónica della Centrale diga Cuneo. Da mesma forma, o vídeo da música foi gravado no Teatro Cívico Toselli di Cuneo, em Milão, para mostrar a crise cultural que atravessa a cidade.
Ainda na Europa, Lobo Interestelar, o projeto solo do músico peruano Julio Benavides, atualmente radicado na Suécia, continua explorando novos territórios sonoros e nos apresenta esta poderosa versão synth pop de “Berimbau”, uma importante canção folclórica brasileira escrita pelo lembrado músico e poeta Vinicius de Moraes. Para alcançar uma produção grandiosa, ele se juntou a Erik Ekström e Stefan Ekström, que terminou de polir a música para este combo de dança impecável.
Embora o dembow esteja presente em quase todo o pop atual, há algumas áreas que ainda precisamos explorar. Felizmente, Malnati estreou em 2020 para cuidar de um novo nicho na cena independente peruana: o dark reggaeton. Com uma crítica direta ao capitalismo por meio de letras que nos lembram que o trabalhador não está mais apenas nas minas, mas também usa Photoshop, Malnati apresenta “El Obrero”, um corte que incorpora uma guitarra espacial em uma potente batida de reggaeton desacelerada, precisa para mover os quadris e os neurônios. Um “dream-bow” contestador, como alguns rotularam.
Dennis García e Daniel Ruiz-Gonzales dão vida ao projeto Niños sin smartphones que há alguns anos acumula hits de forma muito disfarçada. Sua recente edição, “Cola de Pez”, é uma história violenta de amor e política contada no estilo do realismo mágico. Além do mais, seu espírito independente os levou a fazer um videoclipe caseiro feito apenas com gifs e filtros do Instagram. Nada mal.
Olaya Sound System – “Pasa por mi”: Os Olayitas nos abraçam com todas as boas vibrações do mundo e nos dão essa canção de amizade para nos inspirar e superar os maus momentos. Uma cumbia esperançosa para começar com o pé direito neste 2021.
Novas figuras emergem do submundo de Lima prontas para nos deixar dançando em nossos quartos. Q’armia e La Saya são dois novos e interessantes projetos de bedroomp pop muito mais ousados e despreocupados do que o tímido que conhecemos em 2018. Eles se reuniram para apresentar “Dms perra”, um single de reggaeton de empoderamento e diversão. Embora Malucci seja uma das representantes peruanas deste gênero, ela nos faz conhecer novas propostas.
A Rádio Cuartel TV é um laboratório interdisciplinar que passou de espaço físico em Lima a espaço digital com conteúdo radiofônico e cinematográfico, e que hoje deu um novo e importante passo em sua trajetória estreando como projeto musical. Eles publicaram “Un Minuto de Silencio”, uma música em homenagem aos que partiram para a eternidade que popularizou os torcedores do clube de futebol da Universidade do Esporte quando ocorreu a tragédia do avião F-27 e morreu toda a equipe do rival Alianza Lima no final dos anos 80. A música ganhou um novo significado em 2020 devido às perdas que o coronavírus nos deixa.
O R&B afro-peruano existe? Pois sim. “Más” é o segundo single em que o produtor limeno Rom Lagrise faz sua estreia como cantor e nos mostra o lado mais sensual de seu projeto com uma forte presença R&B ao qual ele acertadamente decidiu adicionar cajon peruano para criar uma nova identidade interessante. A propósito, este é mais um dos novos projetos para prestar atenção em 2021.
Romina Hera estreou como solista em dezembro após participar de alguns projetos locais como Kusama e Baby Steps, onde sons sombrios eram recorrentes. Desta vez e como uma libertação criativa, propõe com “En la Mañana” uma nova fórmula musical criada a partir do seu quarto durante a quarentena, à qual somou a participação do produtor e DJ Daniel Martinetti (Danny eM, Elegant & La Imperial). Teremos que seguir seus passos durante 2021.
Temple Sour é um ótimo exemplo de banda profissional no Peru. Seu crescimento tem sido progressivo e orgânico, baseado na qualidade musical e em estratégias genuínas. Mas, acima de tudo, por se desafiar constantemente e buscar novos rumos musicais. Durante 2020 lançaram uma série de singles com sons cada vez mais distantes um do outro até o final do ano com “The Acid Temple” junto com o talentoso rapper A.C.O no qual, numa base musical de jazz / reggae / funk / rock, eles mostram que o rap também é sua praia.
Novos álbuns
O rap de Nero Lvigui é a radiografia do bairro de La Víctoria, uma área “picante” mas cheia de cor e tradição na capital peruana. Faixa a faixa, “Original gallo de la Vicky” narra os problemas de sua localidade e reivindica de forma muito honesta os marginalizados e esquecidos da sociedade. Se o que você gosta é o verdadeiro rap da rua, recomendamos este álbum bastante ousado e sincero.
Apesar das adversidades, não há dúvida de que 2020 foi um dos melhores anos para a A.C.O, um dos rappers com maior crescimento e reconhecimento internacional. Após vários lançamentos e colaborações ao longo do ano, fecha em grande estilo com o álbum “Lo Que Muere no Acaba”, uma coletânea de canções bastante introspectivas que nos fazem conhecer e nos conectar ainda mais com o artista.
Outra das figuras do movimento urbano peruano que cresce e surpreende é Giru Mad Fleiva. Em “MAD”, seu segundo álbum completo, o rapper demonstra sua grande versatilidade e capacidade de montar perfeitamente vários estilos de rap, do boom bap dos anos 90 ao trap de hoje, e lograr um álbum perfeito que o está catapultando para novos e exigentes públicos internacionais.
Destaques de 2020
Como de costume, no final do ano publicamos três listas com os destaques da música peruana: singles, álbuns (EP’s e LP’s) e videoclipes, para saborear o grande bufê musical que costumamos ter por estas terras. Se você quiser se aprofundar na música peruana, aqui você tem tudo pronto para curtir:
– As 100 canções peruanas de 2020
– Os 25 álbuns peruanos de 2020
– Os 25 videoclipes peruanos de 2020
O que vem em janeiro
Teremos novas músicas do Autobus, a esperada terceira edição do que será seu quarto álbum de estúdio. Há também um novo single de Crik Faluzi, uma das bandas camaleônicas que a década passada nos presenteou; sabemos que será uma colaboração (a primeira da banda) com um grande artista pop. Da mesma forma, a cantora e compositora April Arianne vai estrear sua nova música correspondente ao seu próximo álbum. Por sua vez, Plastical People já anunciou que vai lançar um novo single que nos fará dançar neste verão. Atentos também ao Índigo que em breve anunciará a data de lançamento do novo álbum.
URUGUAI
por Kristel Latecki / PiiiLA
A cultura uruguaia fechou o ano com notas negativas. Depois de várias semanas de aumento sustentado nos casos de Covid-19, o governo decidiu suspender todos os shows públicos até 10 de janeiro, deixando milhares de pessoas sem trabalho novamente, que permanecem em uma situação econômica difícil desde a instalação da pandemia.
Diante desse prazo e de mãos dadas com números recordes de infecções e casos ativos, a Presidência anunciou no dia 6 de janeiro a reativação dos programas ao vivo com “lotação mínima”. Vale reafirmar que em 2020 não houve fontes de contágio em nenhum evento ou sala. Porém, já estamos vendo os resultados imediatos da paralisação da atividade cultural: o Blast, um dos mais populares espaços musicais de média capacidade no país, fechou suas portas para sempre.
Esse contexto se soma ao já anunciado cancelamento do Carnaval e do desfile das Llamadas, festas populares que reúnem o país nos palcos e nas ruas, além de serem fortes atrativos turísticos. No momento estão sendo estudadas alternativas para a realização do Carnaval.
Este 2020 foi complicado, desafiador e triste em vários aspectos, mas algo que felizmente nunca faltou foi a música.
PiiiLA fez sua crítica de discos e selecionou 20 álbuns que marcaram este ano. Mariano Gallardo Pahlen, Inés Errandonea, Lila Tirando a Violeta, Buenos Muchachos, Franny Glass, Eli Almic e vários outros foram os destaques. Confira a lista aqui.
Lançamentos
Como anunciamos nos Panoramas anteriores, o esperado nono álbum de Buenos Muchachos chegou quase no final de 2020 e imediatamente se tornou um dos mais destacados do ano. “Vendrás a Verte Morir” é quase uma peça única, em oposição ao disco “8”, criando um clima único de escuridão e instrumentação meticulosa.
Outro disco de destaque foi “Hybrida”, da rapper Kira1312, obra que traz a consciência feminista e antifascista para o reggeatón, funk carioca e trap. Criando fusões inesperadas com DJ LVZY e fazendo dança em um momento em que não temos pistas para isso, “Hybrida” é um trabalho novo e envolvente.
Por sua vez, Patricia Turnes abandonou por um tempo o formato acústico e lo-fi de seus álbuns anteriores para criar, junto com seus “Paquitos”, Fabrizio Rossi Giordano, Flavio Lira e Ismael Varela, além de músicos convidados, sua obra mais punk. Ela canta para o machismo do rock, para os tipos “incorrigíveis”, para as paixões adolescentes e, como diz o título, para “Todo Lo Que No Se Cuenta En Las Canciones de Amor”.
Unindo suas raízes ao presente, o artista eletrônico Par criou “Puentes”, um EP de três canções feito em colaboração com os músicos libaneses Elyse Tabet, Farah Kaddour e Tony Elieh. O resultado é um projeto muito interessante de busca pessoal e musical atemporal, marcado por ambientes regionais e emocionais.
Fiel ao seu estilo e humor autodepreciativo, Federico González (voz e guitarra da banda La Foca) lançou um EP no meio do Natal com seu projeto quase solo Los Cheques. Criada em conjunto com Nicolás Molina e Ismael González, “Un Avión en Navidad” é intimista, com violão e voz exceto por alguns ornamentos e vozes convidadas, ideal para a ressaca pós-festa.
Quanto aos singles, a banda de rock psicodélico Los Nuevos Creyentes voltou depois de muito tempo sem lançamentos com “Vemos Ahí“, uma faixa que explora um lado mais pop. Porém, seus elementos característicos não faltam: o fuzz e as teclas.
O grupo rapper AFC soube aproveitar bem a pandemia, apresentando um show ao vivo no Teatro Macció, em sua cidade natal, San José, que se transformou em quatro visuais e um EP. E para encerrar o ano ofereceram “Terry”, uma faixa house com um toque retrô para dançar em casa.
Da mesma forma, a cantora-compositora e pianista Bárbara Jorcin (que hoje faz parte da Eté & Los Problems e estreou em 2018) editou “Lanza“, uma canção feminista com tom do jazz e empoderamento.
E para finalizar, Jaime Roos encerrou dezembro com a reedição de sua obra completa com o lançamento dos volumes 18 a 20: “Hermano te estoy hablando” (2009), “En vivo en el Río de la Plata” (2014) e a compilação “Selladas dos” (1981-2019), que inclui raridades e faixas inéditas. Além disso, seus álbuns “Siempre son las cuatro”, “Mediocampo” e “Mujer de sal junto a un hombre vuelto carbón”, com Estela Magnone, foram reeditados em vinil pelas gravadoras Bizarro e Little Butterfly Records.
Videos
Sempre se pode confiar em Los Buenos Modales para fazer ótimos vídeos, e para “Baile Triste” – o segundo single que eles lançaram em 2020 – não foi exceção. Em um funeral dedicado a si próprios, aparecem vários rostos conhecidos (a mítica Cristina Morán, Fermín Solana de Hablan Por La Espalda, a anfitriã e atriz Annasofía Facello) e dançam abertamente graças ao ritmo contagiante.
2020 foi o ano em que Luis Angelero se estabeleceu como artista solo. O ex-Boomerang e produtor lançou três excelentes singles acompanhados por vídeos igualmente excelentes. O último foi “Desesperación”, uma música que parece cantar este ano, mas não. Seu vídeo é surreal e frenético.
Muñe Cach, uma das novas figuras do pop uruguaio, chamou Dani Umpi para interpretar “Coca y Menthos”, uma balada reggaetonada sobre um romance explosivo. Seu vídeo retrata uma festa caseira.
O grupo Dostrescinco saiu para o verão com “En la Vuelta”, uma canção funky com Sapo Gamboa nos scratches, e que revê aprendizados desse ano difícil, fala de angústias e comemora seus 15 anos no rap.
Com o “clima de quarentena”, Alfonsina criou mais uma faixa que marca o seu “Mundo Nuevo”, o som que está a construir para o seu novo álbum. Agora explorando soul e R&B com o produtor BNT, em “Como Drone” ela continua a trazer sua criatividade e mostrar diferentes formas de interpretação.
O que vem em janeiro
Por enquanto nada está previsto na área de shows ao vivo, mas já foi anunciado o lançamento do álbum de Indigo de Hache Souza & BNT, assim como o primeiro single do próximo álbum do No Te Va Gustar, intitulado “No Te Imaginas”.