entrevista por Marcelo Costa
Colaboração de Alessandra Marucci
entrevista publicada em 29 de março de 2002 na versão 1.0 do Scream & Yell
No exato momento que duas pedras fundamentais do rock anos 90 são finalmente lançadas no Brasil, um dos responsáveis aporta no país para shows (incluindo um no Abril Pro-Rock 2002), bate-papos em programas de TV e passeios em sebo. A dobradinha de estreia do Pavement, ex-banda de Stephen Malkmus, deveria constar da lista de álbuns mais influentes da década de 90, junto com “Nevermind”, do Nirvana, e “Blood Sugar Sex Magic”, dos Peppers. O supra-sumo do que se convencionou chamar indie rock está ali, elevado a categoria de clássico: guitarras barulhentas possuídas por feedback e distorção, levemente desafinadas unem-se a letras absurdamente inteligentes, ou, inteligentemente absurdas, como queiram.
Dez anos depois (yep, o tempo passa), Stephen Malkmus desce para o lado debaixo da linha do Equador com um belo álbum solo na mala, lançado em 2001, e sua banda, a The Jicks (formada logo após o fim do Pavement) para uma série de shows que prometem emocionar o cada vez mais representativo underground nacional. Como noticiado em outros lugares, Malkmus prometeu ensaiar uma os duas músicas do Pavement para presentear o público brasileiro, mas vindo de Malkmus, nunca se sabe (o termo “ironia” parece ter sido escrito para ele).
O S&Y conseguiu um bate-papo meio lacônico via e-mail com o homem que detonou o Smashing Pumpkins em 94, tirou sarro da voz de Geddy Lee, do Rush, em 97, e hoje contenta-se em diminuir de forma preguiçosa o ritmo das canções para cantar sobre beijos ao som de Dire Straits, fuçar sebos atrás de discos de bandas desconhecidas dos anos 70 e… se divertir com tudo isso: “Eu estou mais relaxado agora, estou me divertindo mais… a mesma vibe do começo Pavement”, ele avisa. Confira.
O que você esperava quando decidiu montar um banda de rock? Isso, dez anos depois, se realizou?
Sem expectativas maiores do que gravar um disco, fazer uma tour… ou seja, tudo certo.
Qual a diferença dos tempos do Pavement, uma banda, para a carreira solo?
Eu estou mais relaxado agora, estou me divertindo mais… a mesma vibe do começo Pavement.
Suas letras sempre são muito elogiadas. De onde saem os temas?
Do dia a dia, de livros, de histórias engraçadas.
Qual a sua maior influência, como letrista e como músico?
Acho que Lou Reed, principalmente por causa dos discos do Velvet.
Os dois primeiros álbuns do Pavement (“Slanted & Enchanted”, de 1992, e “Crooked Rain, Crooked Rain”, de 1994) estão sendo lançados no Brasil agora. Como você os apresentaria ao público brasileiro?
“Slanted” possui uma energia jovem que nenhum outro disco do Pavement tem… ele é bem direto, bem simples… uma boa introdução para quem não conhece a banda. Não é o meu disco preferido, mas eu gosto muito dele. “Crooked” é mais calmo que o primeiro… tem alguns hits que viraram clips. Eu gosto mais do “Crooked” do que do “Slanted”.
E é o “Slanted & Enchanted” que é freqüentemente apontado como um dos álbuns mais influentes da década de 90. O que você acha disso?
Acho legal… o começo dos anos 90 foi bem generoso.
Você chegou a ouvir o Preston School of Industry (a banda de Scott Kannberg, a outra metade pensante do Pavement)? O que achou?
Eu escutei e achei bem para cima… o Scott deve estar feliz.
Como você vê a música na atualidade? Tem alguma banda nova que tenha te impressionado?
Eu gosto de algumas bandas… sem uma cena ou tipo de música em especial. Eu curto o Godspeed Your Black Emperor, Notwist, US Maple….
Você ainda toca covers do Oasis nos shows? E por que Oasis?
Eu fiz isso algumas vezes, na época as piadas tinham graça….
De quem foi a ideia de gravar a cover de “The Killing Moon”, do Echo & The Bunnymen? Você curte?
Sim, gosto dos primeiros discos do Echo. Existe uma tradição nas Peel Sessions de fazer um cover… escolhemos “Killing Moon”… e eu gosto daquela versão.
Um dos colaboradores do meu site sempre diz que o seu disco solo lembra umas coisas do John Lennon solo… alguém já lhe disse isso? o que você acha?
Já me falaram isso… eu acho legal, Lennon é um cara legal.
Como é sobreviver tendo um trabalho independente? Pergunto isso porque no Brasil existem muitas bandas excelentes que sofrem para sobreviver tocando. Parece que, nos Estados Unidos ao menos, há uma cena que permita um músico sobreviver lançando discos e fazendo shows sem precisar estar nas paradas.
Acho que é tão difícil viver de indie rock tanto no Brasil quando nos EUA. Muitas bandas tem empregos durante o dia… é claro que a estrutura dos EUA é maior, mas acho que é praticamente a mesma coisa.
E o próximo disco, quando sai?
Vamos começar a gravar em Maio… ainda não sabemos ao certo quando sai.
Você conhece alguma coisa de música brasileira? Gosta?
Conheço só os manjados, Caetano, Mutantes e Tropicália… eu acho legal, quero comprar uns discos diferentes quando estiver por ai e me inteirar melhor.
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne.