por Marcelo Costa
Começando uma nova série de dobradinhas de países com duas da Oedipus, de Amsterdã. A primeira é a OOO Lagerlagerlager, uma colaborativa da casa feita com o escritor Pepijn Lanen e o ilustrador Floor van het Nederend, responsáveis pela comic book “Hotel Dorado”. “Na HQ, os personagens bebem uma cerveja chamada OOO e queríamos dar vida a essa cerveja!”, explicam os cervejeiros. O resultado é uma Kellerbier de coloração dourada levemente turva e creme branco espesso de ótima formação e retenção. No nariz, cereais, doçura suave e percepção de grama cortada. Na boca, doçura leve chega antes no primeiro toque e se abre com leve toque herbal e também de cereais, compondo um perfil bastante refrescante. O amargor é baixinho, 15 IBUs. A textura, por sua vez, é leve. Dai pra frente, segue-se o perfil de um conjunto bastante saboroso, mostrando que é possível fazer uma lager com bastante sabor. No final, doçurinha. No retrogosto, herbal, doçura e refrescancia.
A segunda dos holandeses é a Offline, uma White Ale (Witbier) modelo Oedipus, ou seja, um bocadinho diferente. Na receita, maltes Pilsner, trigo, aveia em flocos e centeio combinados com levedura de abadia belga e os lúpulos Saphir, Mosaic, Hallertau Blanc e Mandarina Bavaria. De coloração amarela (team Blue Moon) com creme branco de alta formação e baixa retenção, a Oedipus Offline apresenta um aroma absolutamente incrível, algo como uma Blond Ale vivíssima com leve toque frutado cítrico, algo de uva verde, de casca de limão (ausente da receita), além de doçura de trigo. Na boca, leveza floral no primeiro toque abrindo para um conjunto que traz sugestões de frutas cristalizadas com um toque cítrico. O amargor é baixinho, não chega a 20 IBUs, e a textura é cremosa. Dai pra frente, uma White Ale bastante saborosa e interessante, com frutado caprichado e doçura na medida. No final, doçurinha e um toque de limão e uva. No retrogosto, refrescancia. Delicinha.
De Amsterdã para o Rio de Janeiro, ainda que a cervejaria carioca Jeffrey produza suas receitas na cervejaria Trieste, em Potirendaba, cidade próxima de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, com a Lab Maestro, uma Pale Ale produzida em colaboração com o maestro Isaac Karabtchevsky e sua filha, que escolheram adicionar castanha do Pará e de caju, polpa de caju, pimenta malagueta e folha de limão kaffir na receita. O resultado é uma cerveja de coloração dourada, cristalina, com creme branco de boa formação e média alta retenção. No nariz, notas cítricas picantes derivadas do limão se destacam ao lado da sugestão de pimenta e da polpa de caju. Há, ainda, um leve floral. Na boca, limão destacado no primeiro toque, e dominando boa parte das atenções na sequencia. A pimenta é bastante sutil e o caju ainda mais discreto. O amargor de 28 IBUs é leve e ok, a textura levemente picante sobre a língua e, dai pra frente, segue-se um conjunto bastante agradável e refrescante. No final, limão Kaffir. No retrogosto, limão Kaffir, pimenta sutil e refrescancia. Interessante!
A segunda da Jeffrey é outra colaboração com uma personalidade, desta vez o chef de cozinha Thomas Troisgros, que decidiu inserir jiló, cenoura e pimenta do reino em uma receita de Farmhouse Ale. De coloração âmbar translucida e creme bege clarinho de boa formação e média retenção, a Jeffrey Lab by Thomas Troisgros apresenta um aroma estranhíssimo surgido da combinação de jiló, pimenta do reino e cenoura. Na boca, a estranheza se amplia com a cenoura marcando presença no primeiro toque e tanto o jiló quanto a pimenta do reino surgindo juntos na sequencia para, ao lado da cenoura, oferecer uma sopa gelada para o bebedor, algo estranhíssimo e não muito convidativo. O amargor, segundo a casa, é de 30 IBUs, mas você dificilmente conseguirá se livrar da sensação de sopa gelada para prestar atenção em qualquer outra coisa. A textura é suave e, dai pra frente, o estilo Farmhouse Ale é deixado de lado para essa tentativa maluca de bebida gastronômica que, no meu paladar, não vai a lugar nenhum. No final, pimenta do reino picando a língua. No retrogosto, cenoura e sopa.
Do Rio de Janeiro para Altenkunstadt, na Alemanha, cidade de pouco mais de 5 mil habitantes que abriga, desde 1887, a cervejaria Leikeim, responsável por recuperar um estilo de cerveja popularizado na Idade Média tanto na Áustria quanto na Alemanha, o Steinbier, que havia sido abandonado em 1917, quando a última cervejaria a produzi-lo de maneira artesanal fechou as portas. Desde 2007, a Leikeim voltou a produzi-lo seguindo o método tradicional, em que pedras aquecidas fazem a brasagem do mosto cervejeiro, e a posterior caramelização durante a fermentação. Esse método resulta numa cerveja de coloração âmbar turva de creme branco espesso de ótima formação e retenção. No nariz, doçura caramelada deliciosa acompanhada de sugestão de mel e frutado. Na boca, doçura no primeiro toque, mais caramelo e mel na sequencia, porém de maneira comportada, sem exageros, remetendo ao estilo Kellerbier, com um leve frutado. O amargor é baixo (não deve chegar a 15 IBUs) e a textura, suave. Dai pra frente, uma Kellerbier bastante agradável, com o mel e o caramelo dando as cartas. No final, leve frutado e um tiquinho de herbal. No retrogosto, caramelo e mel. Bem interessante.
A segunda da Leikeim é a Keller (a lager não filtrada) da casa, uma cerveja de bela coloração âmbar acastanhada e creme bege clarinho quase branco de ótima formação e retenção. No nariz, a Leikeim Kellerbier traz sugestão de nozes, deliciosa, salta à frente da doçura caramelada e da percepção de panificação, notas tradicionais do estilo, que também batem ponto aqui, mas de maneira secundaria. Na boca, a doçura caramelada chega antes seguida de mel e, então, nozes, que assume o protagonismo de maneira decidida. Se tiver amargor declarado nessa cerveja, não passa de 10 IBUs, ou seja, docinha, docinha. A textura é meladinha e, dai pra frente, uma bela Kellerbier que os alemães devem fazer com os olhos vendados e uma das mãos amarrada. No final, nozes. No retrogosto, mel, nozes e caramelo. Gostosa.
Da Alemanha para a Dinamarca, ainda que a mítica cigana To Øl produza suas receitas quase sempre na fábrica da De Proefbrouwerij, na Bélgica, primeiramente com a 3x Thirsty Simcoe, uma Session IPA cuja receita combina os maltes Cara Crystal, Melanoidin e Pilsner com flocos de aveia e trigo além de triplo dry-hopping do lúpulo norte-americano Simcoe. O resultado é uma cerveja amarela meio alaranjada de creme branco de ótima formação e longa retenção. No nariz, predomínio de notas herbais com leve acento cítrico remetendo, suavemente, a maracujá. Há, ainda, traços minerais. Na boca, herbal suave no primeiro toque abrindo levemente para um conjunto que equilibra amargor (chuto 40 IBUs) e doçura de maneira elogiosa, com ambos aparecendo de maneira equilibrada no conjunto. A textura oferece leve suavidade e, dai em diante, eis uma Session IPA mais pegada do que as Sessions tradicionais, com bastante herbal e amargor presente. No final, amargor e pinho. No retrogosto, pinho, maracujá, doçura, amargor e refrescancia. Curti bastante.
A segunda da To Øl é a Nul, uma Sour IPA Zero IBU que nasceu de testes com leveduras selvagens próprias blendadas com Saccharomyces e ácido láctico numa receita que ainda traz malte Pilsen e trigo além de lúpulos Citra e Mosaic, apenas para aroma. De coloração amarela suavemente turva e creme branco espesso de ótima formação e longa retenção, a To Øl Nul exibe uma paleta aromática que sugere sidra de maçã em primeiro plano seguida de limão e pera além de percepção de acidez e de azedume comportados. Na boca, a sensação de sidra chega antes no primeiro toque trazendo consigo secura e sugestão de uva verde, maçã verde e pera. Há, ainda, um azedinho bem leve. Não há amargor (mas o azedinho cumpre uma bela função) e a textura é efervescente, com as leveduras fazendo uma festa sobre a língua. Dai em diante, uma Sour bem estranha, mas deliciosa e muito interessante, que finaliza com sensação de sidra e de pera. No retrogosto, azedinho, limão, pera e maçã verde. Curti.
Do Velho Mundo para o Novo Mundo, mais precisamente para a Califórnia norte-americana, terra da Lagunitas, que retorna ao site com sua Sonoma Farmhouse Brett Stout, uma American Imperial Stout de 11.3% de álcool que recebe adição de leveduras Brettanomyces, Lactobacillus e a Ale Yeast da casa, depois descansa por quatro anos em barricas que antes abrigaram vinho. De coloração marrom escura praticamente preta com creme bege espesso de boa formação e retenção, a Lagunitas Sonoma Farmhouse Brett Stout apresenta um aroma com forte sugestão de vinho tinto, percepção assertiva de azedume, leve turfa, doçura e madeira. Na boca, o conjunto surpreende com bastante percepção de vinho tinto no primeiro toque seguido de uma combinação de turfa e azedume comportada, mas bastante marcante. Há doçura, há azedume, e os 41 IBUs de amargor não aparecem tanto, assim como os 11.3% de álcool, totalmente imperceptíveis, ainda que o rosto comece a aquecer rapidamente. A textura é suave desejando ser sedosa, com picância alcoólica intensa – aqui ele dá as caras. Dai pra frente, uma cerveja bastante deliciosa e tortinha. No final, vinho tinho e azedume. No retrogosto, leve adstringência, azedume médio e mais vinho. Uou!
A segunda da Lagunitas é a Wilco Tango Foxtrot, que muita gente mais da música do que da cerveja acredita ter relação com o álbum clássico da banda de Jeff Tweedy, mas “foi só coincidência”, comentou Laura Muckenhoupt, Senior Music Marketing Manager da Lagunitas em entrevista ao Scream & Yell: “Queríamos dar o nome de Whisky Tango Foxtrot (WTF), mas, devido a regulamentação, não podíamos ter a palavra “whisky’ em um rótulo de cerveja. Então mudamos para Wilco. Quando o Wilco e seus fãs viram a nossa cerveja, nos conectamos com eles e tivemos um ótimo relacionamento desde então!”, completou. Trata-se de uma Imperial Brown Ale sazonal (produzida entre outubro e dezembro) de coloração marrom acastanhada escura com creme bege clarinho de ótima formação e retenção. No nariz, domínio completo do malte om sugestão de castanhas, nozes, caramelo tostado e leve chocolate. Na boca, caramelo e melaço no primeiro toque com sugestão de nozes e chocolate na sequencia e, ainda, um leve herbal. Os 59 IBUs parecem 29 de tão baixo que o amargor se apresenta. Já a textura é suave. Dai pra frente, eis uma Brown Ale bastante caprichada e saborosa. No final, caramelo tostado. No retrogosto, castanha, nozes e caramelo.
Oedipus OOO Lager Lager Lager
– Produto: Kellerbier
– Nacionalidade: Holanda
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 3.21/5
Oedipus Offline
– Produto: Witbier
– Nacionalidade: Holanda
– Graduação alcoólica: 4.5%
– Nota: 3.42/5
Jeffrey Lab Maestro
– Produto: International Pale Ale
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 6%
– Nota: 3.29/5
Jeffrey Lab Thomas Troisgois
– Produto: Farmhouse Ale
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 6.5%
– Nota: 1.99/5
Leikeim Steinbier
– Produto: Kellerbier
– Nacionalidade: Alemanha
– Graduação alcoólica: 5.8%
– Nota: 3.48/5
Leikeim Kellerbier
– Produto: Kellerbier
– Nacionalidade: Alemanha
– Graduação alcoólica: 4.9%
– Nota: 3.31/5
To Øl 3x Thirsty Simcoe
– Produto: Session IPA
– Nacionalidade: Dinamarca
– Graduação alcoólica: 5.5%
– Nota: 3.49/5
To Øl Nul,
– Produto: Sour
– Nacionalidade: Dinamarca
– Graduação alcoólica: 6.8%
– Nota: 3.50/5
Lagunitas Sonoma Farmhouse Brett Stout
– Produto: American Imperial Stout
– Nacionalidade: EUA
– Graduação alcoólica: 11.3%
– Nota: 4.17/5
Lagunitas Wilco Tango Foxtrot
– Produto: Imperial Brown Ale
– Nacionalidade: EUA
– Graduação alcoólica: 7.8%
– Nota: 3.45/5
Leia também
– Top 2001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
– Leia sobre outras cervejas (aqui)
Bom dia Marcelo
Quanta cerveja rara…
Avaliações cirúrgicas, parabéns!!!!
Passa a dica, por favor, de onde você conseguiu comprar essas preciosidades
Obrigado, Nelson!
É daqui e dali, sempre. Por exemplo, as holandesas e as dinamarquesas eu comprei no site do Clube do Malte. As alemãs foram importação exclusiva do Oba Hortifruti, loja física mesmo. As Jeffrey são do Pão de Açúcar e apenas as Lagunitas, nessa leva, eu comprei fora do país, em Petaluma, na Califórnia.