por Marcelo Costa
Se os anos 90 descobriram o barulho das guitarras (com Nirvana e Raimundos, que lideraram a votação daquela década, à frente) e os anos 00 consagraram o indie (com Los Hermanos e Strokes deitando e rolando), os anos 10 observaram a música negra (o inicio de quase tudo), em suas mais diferentes variantes, (re)assumir seu lugar de destaque no panorama mundial. Com o monopólio da indústria “escolhendo” o que cada um deve ouvir (com jabás em rádio e TVs) indo por terra num mundo em que cada um agora escolhe o que quer ouvir, na hora que quiser, o rap, o samba, o r&b, o jazz e o funk escalaram as paradas e colocaram alguns nomes inéditos nas décadas anteriores no topo do mundo.
Ok, ainda que os vencedores nas duas categorias sejam dois nomes de vasta carreira (e um deles, branco e anglo-saxão), uma olhadela atenta nas duas listas de 50 discos (uma nacional, a outra internacional) destacará a força de nomes como Kendrick Lamar, Beyoncé, Kanye West, Frank Ocean, Criolo, Emicida, BaianaSystem, Djonga, Black Alien, Rihanna, Elza Soares e Rincon Sapiência: só essa turma teve mais de 30 discos citados pelos 100 votantes que compõe o júri Scream & Yell nessa votação (Emicida teve nada menos do que cinco discos listados, sendo que três deles ficaram no Top 25 nacional! No campo internacional, Kendrick colocou um disco na 2ª posição e outro na 23ª!).
São 100 discos dos mais variados estilos, mas a lista final é apenas a ponta do iceberg: com os 100 votos dos convidados abertos para o leitor, é possível mergulhar em uma infinidade de álbuns que mostra, um pouco, a grandiosidade artística da década que passou. É fácil destacar “estranhezas” quando uma, duas ou três pessoas “decidem” quais os melhores discos para uma publicação. Já com 100 pessoas envolvidas, a lista acaba soando um tiquinho mais óbvia, afinal, é o que mais atingiu a maioria dos votantes (o disco clássico de Elza Soares, por exemplo, foi citado em 50 das 100 listas!), mas as “estranhezas” estão todas aqui e ali, e se você procurar irá encontrar muita pérola que não foi devidamente reconhecida.
Curiosidade: dos 10 anos passados, 2018 e 2019 foram os anos mais fracos com apenas 7 discos citados dos dois anos juntos entre os 100 álbuns da lista final. A fartura acontece entre 2013 e 2016, quatro anos que tiveram mais de 50 discos citados (a produção nacional bombou em 2017, o ano com mais discos nacionais citados, 8 – já na gringa, o ano bom foi 2013, que teve 10 discos elencados no ranking final). Só em 2012 houve um equilíbrio entre Brasil e o mundo com 5 discos listados de cada ano.
Ao contrário da tradicional votação de Melhores do Ano do Scream & Yell (que estará no ar logo mais), cujo vencedor é decidido por citação, ou seja, vence o disco que mais apareceu em listas, na votação de Melhores da Década a formulação é diferente: como a lista é mais ampla, há um peso maior se o disco aparece elencado em primeiro e um peso menor se ele é décimo da lista. É simples: o disco 1 leva 10 pontos, o 2º leva 9, o 3º leva 8, o 4º leva 7, o 5º leva 6, o 6º leva 5, o 7º leva 4, o 8º leva 3, o 9º leva 2 e o 10º, 1 ponto. Listas com dez discos citados sem ordem de preferência rendem 5,5 pontos para cada disco (todos os pontos divididos por 10 discos). Primeiro critério de desempate: quantidade de votos. Segundo: maior voto.
Dito tudo isso, abaixo as grandes estrelas dos anos 10: atente-se para as curiosidades, como o fato do Tame Impala não ter nenhum disco no Top 15, mas seus três discos somados colocarem a banda no Top 10 de artistas, à frente, por exemplo, de Courtney Barnett e LCD Soundsystem, que tiveram apenas um disco citado, ambos no Top 10. Ou de Emicida, que figura na 4ª posição do ranking de artistas, e cujo primeiro álbum citado, “AmarElo” (2019), aparece na 13ª posição, seguido de “O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui” (2013) e “Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa…” (2015) em 22º – ainda foram citados “Emicidio”, de 2010, e o disco ao vivo dividido com Criolo, de 2013. Confira a lista total:
INTERNACIONAL
01) David Bowie – 344.5 pontos (dois discos)
02) Kendrick Lamar – 247,5 (três discos)
03) Arcade Fire – 218 (dois discos)
04) Kanye West – 165,5 (três discos)
05) Beyoncé – 157 (três discos)
06) Frank Ocean – 145 (dois discos)
07) Daft Punk – 138 (um disco)
08) Arctic Monkeys – 111,5 (três discos)
09) Tame Impala – 111.5 (três discos)
10) Nick Cave & The Bad Seeds – 93,5 (três discos)
NACIONAL
01) Elza Soares – 418.5 (três discos)
02) Criolo – 298 (quatro discos)
03) Céu – 183.5 (três discos)
04) BaianaSystem – 176.5 (dois discos)
05) Emicida – 172 (cinco discos)
06) Tulipa Ruiz – 147 (quatro discos)
07) Boogarins – 146,5 (três discos)
08) Metá Metá – 138 (três discos)
09) Marcelo Jeneci – 132 (um disco)
10) Juçara Marçal – 105.5 (um disco)
Aproveite a área de comentários para deixar o seu Top 10 e confira o especial dos:
– MELHORES DISCOS DOS ANOS 90 –
– MELHORES DISCOS DOS ANOS 00 –
Só me surpreende a Céu estar na lista entre os dez discos. Acho que ela tem coisa interessantes como o disco Vagarosa; mas ainda precisa trilhar um bom caminho pra ter essa representatividade toda.
Voltando a Céu: Djonga e Karina Buhr entraria no lugar dela fácil fácil. Ou Mesmo AVA Rocha com o excelente Trança que nem apareceu em lista nenhuma.
“Trança” apareceu em uma das 100 listas. Sobre entrar isso ou aquilo, é tudo questão de opinião pessoal. Essa é a sua, bacana. Na minha lista existem muitos outros discos que não entraram, mas que EU acho que deveriam ter entrado. Isso quer dizer que a lista é “errada” ou “falsa” ou algo assim? Não. Essa lista é o resumo de 100 listas, 100 olhares de pessoas que trabalham com música, curtem música, ouvem música (e música nova, atual) muito mais do que média dos brasileiros. Ela é uma representação de um certo recorte. Dizer que isso é melhor, aquilo é excelente, é óbvio do ponto de vista pessoal: cada uma das 100 listas terá discos que a pessoa acha melhor, excelente, e tal. De resto, você está menosprezando a carreira da Céu. Você tem todo o direito de não gostar, mas dizer que ela tem que trilhar um bom caminho é desmerecer uma carreira tanto. Que caminho o Djonga trilhou? Que caminho a Karina Buhr e Ava Rocha trilharam diferente da Céu para serem mais avaliadas no seu ponto de vista? Pra que diminuir alguém para aumentar outro?