Resenhas por Adriano Mello Costa
“O Colecionador”, de John Fowles (Darkside Books)
Publicado originalmente em 1963, “O Colecionador” (The Collector, no original) é um daqueles livros que mesmo depois de tanto tempo ainda exala frescor e perturbação. Estreia do falecido escritor inglês John Fowles (1926-2005), o livro recebeu elogios mil na época, vendeu um bocado depois, virou filme, etc. e tal. Há alguns anos fora de catálogo no Brasil, ele volta em 2018 pelas mãos da Darkside Books em edição primorosa com 355 páginas, capa dura, tradução de Antônio Bibau e alguns extras saborosos como prefácio de Stephen King, projeto gráfico luxuoso e explicação de referências ao final. Agora é possível se deparar novamente com o confronto entre Frederick Clegg e Miranda Gray, sequestrador e sequestrada, o louco e sua loucura, o colecionador e a presa. Enquanto trava esse embate nada justo, o autor explora as mentes dos personagens em um jogo tenso e aproveita-se disso para ali na margem sublinhar e se estender em temas ainda incipientes de discussão ou em outros universais como o direito a ser livre.
Nota: 7
“Era Uma Vez Uma Mulher Que Tentou Matar o Bebê da Vizinha”, de Liudmila Petruchévskaia (Cia das Letras)
Liudmila Petruchévskaia nasceu em 1938 em Moscou. Foi criança na Segunda Guerra e cresceu durante a Guerra Fria com tudo que isso acarretava morando na URSS no que concerne a liberdade individual. Só começou a ser publicada a passos de cágado na segunda metade dos anos 80, mas sofreu censura em seu país até o final dos 90. A autora, que veio ao Brasil esse ano para a Flip, foi publicada pela primeira vez por aqui pela Companhia das Letras em “Era Uma Vez Uma Mulher Que Tentou Matar o Bebê da Vizinha”, que traz o subtítulo de “Histórias e Contos de Fadas Assustadores”. Com 206 páginas e tradução de Cecília Rosas temos 21 contos divididos em quatro blocos. Neles, Liudmila conta histórias nada comuns com tons sobrenaturais para dar vazão a ideias nascidas dentro de uma vivência nervosa. Ainda que o amor apareça quase que constantemente, ele não salva e contos como “A Vingança” e “Higiene” são tão assustadores quanto poderosos se sobressaindo em um fascinante conjunto.
Nota: 7,5 (leia um trecho)
“O Sol Na Cabeça”, de Geovani Martins (Companhia das Letras)
“O Sol Na Cabeça” do carioca Geovani Martins fez barulho nesse ano. O jovem autor nascido em 1991 recebeu elogios de nomes conceituados, foi tema de várias reportagens, esteve na Flip e viu a estreia alcançar patamares elevados (está na segunda reimpressão e será republicado no exterior) além de, logicamente, inserir o cenário de expectativa para o futuro. Sua obra apresenta 13 contos em 120 páginas, saiu pela Companhia das Letras e é praticamente impossível sair impune dela. Seja pela linguagem contida, pelo ritmo e tensão sempre presentes ou pela veracidade que os contos exalam, “O Sol Na Cabeça” é vigoroso, um chute forte nas partes baixas. Sem definir nitidamente heróis ou vilões (apesar de deixar claro), “O Sol na Cabeça” destroça a desigualdade e racismo presentes no Rio e em tantas outras cidades do país. Contos como “Rolézim”, “Estação Padre Miguel” e “Sextou” ou mesmo os mais líricos “O Cego” e “O Mistério da Vila” nos mostram um autor afiado e cortante que deixa gosto de quero mais.
Nota: 8 (leia um trecho)
– Adriano Mello Costa assina o blog de cultura Coisa Pop: http://coisapop.blogspot.com.br