texto por Marcelo Costa
Carlos Eduardo Miranda foi muito mais que um ídolo. Amigo, conselheiro, parceiro de festas e histórias e ideias e planos e projetos e bons sons, Miranda também conseguiu encontrar tempo para modificar o rumo da música brasileira… algumas vezes. Desde sua passagem pela revista Bizz (as entrevistas com Engenheiros do Hawaii – “Não conseguia entender que raios significavam esses caras até que alguém me disse que eles tomavam café com leite toda tarde” – e o Slayer, feita numa churrascaria rodizio, são clássicas) a suas colunas antológicas na revista General (uma delas, a do Cyberdingo, republicada com autorização dele numa das edições do fanzine Scream & Yell em papel), Miranda era algo especial, uma leitura que trazia um frescor num texto rock n’ roll.
Dai veio o Banguela Records, depois a Excelente Discos, a Trama Virtual, o StereoMono e o Terruá Pará, e muitas (muitas mesmo) outras coisas bacanas que não tiveram o mesmo holofote, mas mostravam que esse cara tinha um ouvido sensível para a coisa toda, além de ter um coração enorme, e um milhão de histórias para contar e viver. Vários discos importantes da música brasileira dos anos 90 para cá tem a mão do Miranda envolvida, e cada pessoa pode fazer um Top 5 diferente (a fase Banguela ainda conta com as estreias de Maskavo Roots, Little Quail e Kleiderman e é toda clássica). Esses cinco abaixo são os meus cinco discos favoritos que o Velhinho ajudou a construir. E você, qual seria o seu Top 5?
1) “Raimundos”, Raimundos (1994)
No especial “Melhores Discos dos Anos 90”, esse debute do Raimundos foi votado em primeiro lugar. Na época, quase 20 anos atrás, escrevi: “Uma das melhores estreias do rock nacional em todos os tempos. Estamos em 1994 e o rock nacional padece de criatividade. Quatro moleques juntam-se no estúdio com o maluco de carteirinha Carlos Eduardo Miranda e saem de lá com essa estreia: rock + hardcore + forro + sexo + drogas. Tudo tosco e primário como o rock deveria ser, sempre”. Descobertos por Miranda, o Raimundos precisou se desvencilhar do guru (como eles próprios o definiram) para crescer, e “Lavô Tá Novo” (1995), mas eles voltariam a trabalhar juntos criando novos clássicos do rock nacional em “Só no Forevis” (1999).
2) “Guentando a Ôia”, Mundo Livre S/A (1996)
Há um consenso em dizer que o disco clássico do Mundo Livre S/A é a estreia “Samba Esquema Noise”, lançado em 1994 com produção dividida entre Charles Gavin e Miranda (ficou em sexto na votação de Melhores dos Anos 90 no Scream & Yell), mas meu favorito é, sem dúvida, o segundo álbum, produzido apenas pelo Miranda. Muito mais cru e mais direto, “Guentando a Ôia” compila alguns clássicos da turma de Fred 04, hinos do quilate de “Free World”, “Destruindo a Camada de Ozônio”, “Seu Suor é o Melhor de Você”, “Leonor” e, principalmente, “Pastilhas Coloridas”. Miranda e o Mundo Livre S/A ainda trabalhariam juntos em “Carnaval da Obra”, o terceiro disco da banda, também uma obra prima.
3) “Coisa de Louco 2”, Graforreia Xilarmônica (1995)
8º disco mais votado no especial Melhores dos Anos 90 no Scream & Yell (é, só deu Miranda), a estreia da Graforreia é um monólito do rock estranho, algo que, de certa maneira, define o bom gosto que o produtor tinha sobre o pop excêntrico. Produção dividida entre o Velhinho e o trio Frank Jorge (baixo e voz), Carlo Pianta (guitarra e voz) e Alexandre “Alemão” Birck (bateria), com várias composições de Marcelo Birck (guitarra e eventual membro da banda), este “Coisa de Louco 2” é um Greatest Hits improvável com clássicos do nível de “Amigo Punk”, “Nunca Diga” (regravada pelo Pato Fu), “Patê”, “Rancho”, “Empregada” (regravada por Wander Wildner) e “Bagaceiro Chinelão”, entre outras.
4) “Sacode”, Nevilton (2013)
“De Verdade”, o primeiro álbum do trio Nevilton, de Umuarama, interior do Paraná, era um belo álbum que fazia jus a seu título: um disco produzido de maneira independente que soava extremamente verdadeiro. Para gravar seu segundo disco, o trio precisava antes responder a uma questão singular: como dar um salto de qualidade na produção sem perder essa verdade? Trabalhando com Carlos Eduardo Miranda seria a resposta. Gravado e produzido no estúdio Toca do Bandido, “Sacode” trouxe força, punch e arranjos encorpados para as grandes canções deste power trio, e, ao menos, um clássico irrepreesível: “Porcelana”, uma modinha de viola que Nevilton havia composto pensando em seu avô, que se transformou num rock endiabrado e poderoso nas mãos de Miranda. Ouça e baixe online.
5) “De Lá Não Ando Só”, Transmissor (2014)
Grande banda mineira formada em 2006 em Belo Horizonte, a Transmissor vinha de um crescimento gradual através de shows e os bons discos “Sociedade do Crivo Mútuo” (2008) e, principalmente, “Nacional” (2011), que atraiu olhares para o sexteto. Para o terceiro disco, a Transmissor decidiu trabalhar com Carlos Eduardo Miranda, que acentuou a pegada rock do grupo, sem perder a delicadeza das referências de música mineira tão queridas aos integrantes. O resultado foi o grandioso “De Lá Não Ando Só”, que ganhou lançamento oficial (em streaming e download gratuito) aqui no Scream & Yell. Ouça e baixe online.
– Marcelo Costa (@screamyell) edita o Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne
A primeira vez que vi o Miranda foi no programa do Jô Soares. Não lembro se ainda na época do SBT ou já na Globo. Figuraça. RIP.
Eu lembro muito dessa entrevista com o Slayer numa churrascaria, da dica que ele dá pra comer muito e levar o dono a falencia hahahhaa
Miranda era muito foda! Minha formação musical passa pela MTV e ele.