por Marcelo Costa
“O Destino de Uma Nação” e “The Post – A Guerra Secreta” estão em cartaz nos cinemas.
“A Forma da Água” estreia dia 01/02 no Brasil
“O Destino de Uma Nação”, de Joe Wright (2017)
Ahhhhh, o cinemão clássico norte-americano parte 1. Nem sempre quando Hollywood tem uma boa história para contar nas mãos, o resultado é um grande filme. Muitas vezes, os tropeços acontecem muito mais por ego, desejos artísticos revolucionários não alcançados e má escalação dos integrantes que compõe a estrutura de uma equipe de filmagem (muitas vezes tudo isso junto) do que pelo próprio material. Quando, no entanto, os elementos estão dispostos no seu devido lugar, sai de baixo que lá vem cinemão para se ver e saborear os detalhes. É nesse quinhão que se encontra “Darkest Hour”, e ainda que a biografia de Joe Wright exiba os vacilantes “Orgulho e Preconceito” (2005) e “Desejo e Reparação” (2007), aqui tudo se encaixou perfeitamente, com destaque para a fotografia belíssima e para a grande atuação de Gary Oldman, favoritaço a sair do Oscar 2018 com a estatueta dourada de Melhor Ator (o filme recebeu outras cinco indicações). Oldman dá vida ao personagem (caricato) de Winston Churchill, vilipendiado na cinebiografia meia-boca de Jonathan Teplitzky, e recuperado com honras aqui. O recorte flagra o estadista às vésperas de assumir a posição de Primeiro Ministro britânico em meio ao furacão causado por Adolf Hitler no final de 1939. Didático,“Darkest Hour” consegue ser muito mais eloquente e explicativo da importância da Operação Dínamo, que salvou mais de 300 mil homens de serem massacrados pelo exército nazista na baia de Dunkirk, do que a obra homônima de Christopher Nolan, mostrando que não fosse o velho turrão, a história da Segunda Guerra Mundial poderia ter sido muito diferente. O resultado: um filmaço tradicional.
Nota: 8
“The Post – A Guerra Secreta”, de Steven Spilberg (2017)
Ahhhhh, o cinemão clássico norte-americano parte 2. Desde já, filme de abertura de uma altamente recomendada trilogia jornalística que acompanha a derrocada de Richard Nixon, o 37º presidente dos EUA (completada por “Todos os Homens do Presidente”, de 1976; e “Boa Noite, Boa Sorte”, de 2006), “The Post” recupera a história conhecida como “Pentagon Papers” para versar sobre feminismo e liberdade de imprensa em um momento crucial da história, cujo atual ocupante da Casa Branca (o 45º presidente) não é lá muito fã nem de um, nem de outro. Os “Papéis do Pentágono” é o nome popular do documento ultra-secreto de 14 mil páginas sobre a política norte-americana na Guerra do Vietnã, um estudo que, entre outras coisas, mostra que vários presidentes mentiram para o povo em diversas ocasiões. Fotocopiado por um ativista e liberado para o New York Times, o documento foi capa do jornal em 13 de junho de 1971, mas uma ação da corte federal proibiu que o jornal continuasse a reportagem. O material então cai nas mãos da equipe do Washington Post, coordenada pelo editor Ben Bradlee (Tom Hanks, eficiente), cuja presidente era Katharine Graham (Meryl Streep divina e indicada mais uma vez ao Oscar), filha do fundador do jornal, que havia assumido a posição após o suicídio do marido, e até então era um joguete nas mãos do conselho do jornal e de políticos. O roteiro foca então na descoberta de força de Katharine, que brilhará tornando-se a primeira editora feminina de um importante jornal norte-americano (seu livro de memórias será laureado com um Pulitzer em 1998), e na briga do jornal com a Justiça por liberdade de imprensa e pelo direito do povo norte-americano de saber as mentiras de seu governo, rompendo décadas de relações entre políticos e empresas de jornalismo (nos EUA, claro). O resultado: um filmaço tradicional.
Nota: 8
“A Forma da Água”, de Guillermo del Toro (2017)
Ahhhhh, o cinemão clássico norte-americano parte 3 (desta vez conduzido por um cineasta mexicano, uma “espécime” que vem dominando – com méritos – Hollywood nesta década). Em 1962, no período da Guerra Fria, uma criatura estranha é capturada na América do Sul e levada por um militar (um vilão caricatural interpretado por Michael Shannon) para estudos em um laboratório ultra-secreto do governo dos EUA. Os norte-americanos desejam utilizar a criatura na corrida espacial, e espiões russos acompanham os estudos, pensando num sequestro. A parte disso tudo, a faxineira (muda) Elisa Esposito (a ótima Sally Hawkins) segue uma rotina diária: ela acorda, coloca alguns ovos para cozinhar, entra no banho, se masturba, toma café, pega o ônibus para o trabalho e chega quase sempre em cima do horário. Elisa trabalha no laboratório, e em um momento de faxina se depara com a criatura, iniciando uma história de amor nos moldes do clássico “A Bela e a Fera”. Guillermo Del Toro recria com capricho o território de fábula que o tornou conhecido com “O Labirinto do Fauno” (2006) num filme sexy que ora homenageia o “O Monstro da Lagoa Negra” (1954), ora acena para “La La Land” (2016), e tem todos os elementos politicamente corretos para os tempos modernos: Elisa é latina e seus melhores amigos são uma negra, a também faxineira Zelda (Octavia Spencer sempre excelente e merecidamente indicada ao Oscar como Atriz Coadjuvante), e um gay, o ilustrador Giles (Richard Jenkins eficiente e também indicado no papel de coadjuvante). A criatura é feia, mas tem um bom coração e se comove com música tanto quanto se apaixona pelos ovos feitos por Elisa. O romance destes dois perdidos numa banheira suja é delicadamente bonito e a paisagem gótica um dos pontos altos de um filme que recebeu 13 indicações ao Oscar, e deve levar entre três e quatro para casa (o México?), mas falta alguma coisa (nesse oceano de citações, recortes, clichês e acusações de plágio) que torne o filme… único. O resultado: uma bela fábula tradicional.
Nota: 8.5
– Marcelo Costa (@screamyell) edita o Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne
Pois é, Marcelo. Gostei do filme” A Forma da Água”,mas não enxerguei os 13 Oscars nele. Bonito,mas muito correto e previsível. Não há nada nele que justifique tantas indicações. Temos pelo menos 10 filmes superiores lançados ano passado. Fiz até uma reflexão sobre ele no meu insta.