Entrevista: Samiam

entrevista por Bruno Lisboa

Sobreviventes da efervescente cena punk californiana do final dos anos 80, a banda Samiam ainda se mantém na ativa com apresentações explosivas mundo afora. Entre idas e vindas (o grupo lançou o primeiro disco em 1990 e fez uma pequena pausa nos anos 2000) e mudanças de formação (mais de 16 músicos passaram pela banda), o quinteto de Berkeley hoje formado por Jason Beebout (vocal), Sean Kennerly (guitarra), Sergie Loobkoff (guitarra), Chad Darby (baixo) e Colin Brooks (bateria) lançou oito álbuns de estúdio e vários EPs.

Os três primeiros discos saíram pelo selo independente punk New Red Archives (que em suas fileiras ainda abriga nomes como No Use for a Name, UK Subs e Anti-Flag) no começo dos anos 90, e o salto veio com o quarto disco, “Clumsy” (1994), bancado pela enorme Atlantic Records que levou o Samiam a acompanhar o Bad Religion na festejada tour “Stranger Than Fiction”, e a uma benvinda parceria com o selo Burning Heart Records, distribuído pela Epitaph. O disco mais recente do quinteto é “Trips”, de 2011, que saiu pela Hopeless Records.

Na conversa abaixo, Sean Kennerly, guitarrista e baixista da banda desde o álbum “Astray” (2000), reflete sobre os quase 30 anos de carreira (“É a vida: um misto de grandes vitórias e arrependimentos vergonhosos”), a experiência com selos independentes e grandes gravadoras (“Há pessoas boas e ruins em ambos os lados”), a cena punk norte-americana de hoje e a amizade com os caras do Dead Fish (“Nós estamos loucos para tocar com eles”), entre outras coisas. Confira.

A banda foi criada há quase 30 anos atrás e a cena musical mudou bastante neste período. Olhando para trás, como foram todos estes anos? O que te motiva a continuar?
Esta primeira pergunta é enorme. “Como foram estes anos”? É a vida – um misto de grandes vitórias e arrependimentos vergonhosos. Quanto a segunda pergunta, nós persistimos. Nós gostamos de vir ao Brasil e tocar! Com exceção de um período da década de 90 quando parecia que o Samiam poderia ter um hit no rádio, nós sempre trabalhamos de forma não lucrativa, movidos pelo amor ao trabalho. Nós simplesmente gostamos de sair uns com uns outros e ligar os amplificadores.

A banda já excursionou com muitas bandas como Bad Religion e Green Day, geralmente sendo a atração de abertura. Eu acredito que aqueles dias foram muitos importantes, pois ajudaram a alcançar um novo público. Como foi esse período?
Importa mais se uma banda é boa do que se ele está abrindo ou não. Eu gosto muito mais de tocar com bandas como Pears ou Iron Chic do que com bandas maiores de merda como o Creed. É sempre divertido tocar com o Green Day e um pouco surreal porque eles se tornaram gigantes.

Esta é segunda vez que vocês tocam no Brasil. Como foi a primeira vez? O que vocês gostam de fazer por aqui, além de tocar claro.
Terceira vez na verdade! A primeira foi incrível, tão louca e estranha como ir a Marte. Nós excursionamos com o Garage Fuzz num ônibus (em 2002)! Éramos apenas garotos inocentes nos divertindo e pulando no oceano (nota: a tour com Garage Fuzz passou por São Bernardo do Campo, Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro, Taubaté, Santos, São Carlos, Florianópolis e Londrina). A segunda também foi bem divertida, mas nós fizemos três shows e fomos embora. Então foi bem mais rápida. Eu amo o Brasil e virei aqui em qualquer chance que eu tiver.

O último álbum da banda (“Trips”) foi lançado em 2011.Vocês estão trabalhando em novas canções?
Sim, temos muitas canções novas, as bases pelo menos. Quanto as letras estamos esperando Jason escrevê-las. Nós provavelmente teremos algo novo em breve. A não ser que você ache “Trips” uma merda. Você gosta do “Trips”? Nós jogaremos a toalha se você não gosta. “El Dorado”, “September Holiday” e “Dead” são algumas das boas canções deste disco. Até mesmo “Nightly”, caramba.

Grande parte dos álbuns da banda foram lançados forma independente. Porém “Clumsy” (1994) foi lançado por uma grande gravadora. Eu sei que este disco gerou atrito com a Atlantic Records. Então a questão é: ser independente é a melhor maneira de se fazer música?
Se pode ir por ambos os lados. Há grandes selos decentes e selos independentes desorganizados e desonestos. Pergunte a alguém que trabalhou com a SST Records, por exemplo. A Atlantic nos fudeu não lançando “You Are Freaking Me Out” por alguns anos (a major segurou o álbum e acabou não lançando o disco, que saiu em 1997 – três anos após “Clumsy” – numa parceria entre Ignition e Burning Heart Records) e isto quase matou a banda. Ao mesmo tempo uma gravadora independente também nos fudeu, processando a gente porque queriam direito de exclusividade de uma faixa que demos a eles de graça. Na maioria das vezes tivemos experiências honestas. Com certeza você tem mais liberdade trabalhando de forma independente, mas há pessoas boas e ruins em ambos os lados.

Como você vê a cena punk norte-americana hoje? Está muito diferente de quando vocês iniciaram nos anos 80?
Está completamente diferente. Aconteceram muitas mudanças desde então. Primeiro de tudo, não havia grana naquela época. Não parecia ser inimaginável pensar que haveria o sucesso de bandas como o Nirvana ou o Green Day. E o sucesso deles fez com que o punk deixasse de ser legal por um período porque muitas bandas ruins começaram a imitá-los e isto era muito óbvio. Isto foi assim até o punk tornar-se menos comercial novamente e agora estamos no meio termo. Ex-Cult (banda norte-americana) é muito bom. Eles me lembram o punk dos anos 80, mas atualizados.

Li numa antiga entrevista que você conheceu algumas bandas brasileiras como o Garage Fuzz. Desde então você teve a oportunidade de ouvir outras? Na mesma noite que vocês tocarão em São Paulo, por exemplo, terá o Dead Fish, grande banda local.
Nós conhecemos o Dead Fish! O Rodrigo me levou numa sorveteria irada na última vez que estive em São Paulo. Nós estamos loucos para tocar com eles!

Como serão os shows da América do Sul? Estão planejando um set list especial para nós? “You Are Freaking Me Out” foi lançado há 20 anos então…
Você está me fazendo sentir incomodado…

– Bruno Lisboa (@brunorplisboa) é redator/colunista do Pigner e do O Poder do Resumão. Escreve para o Scream & Yell desde 2014.

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