por Marcos Paulino
Nas quatro faixas de seu EP de estreia, lançado há dois anos, a Sinara apresentou uma mistura de rock e reggae, à la O Rappa. Assim, a banda carioca soou menos brasileira do que gostaria. No disco cheio que agora chega às lojas, Luthuli Ayodele (vocal e autor da maioria das letras), Magno Brito (baixo), Francisco (guitarra), João (guitarra) e José Gil (bateria) corrigem essa questão. “Menos é Mais” abre espaço para outros ritmos e exibe mais nitidamente todas as vertentes que influenciam o quinteto.
“Conseguimos trazer os ritmos brasileiros, que estávamos muito preocupados em mostrar”, diz o baterista José Gil. Com o álbum “Menos é Mais”, a Sinara espera, daqui em diante, ganhar mais destaque por seu trabalho que pelo parentesco com Gilberto Gil – José é filho dele, Francisco e João são netos –, conforme diz o baterista nesta entrevista para o Mundo Plug, parceiro do Scream & Yell: “Estamos ganhando nossos espaços sozinhos, fazendo nossa trajetória”. Confira o bate papo.
Quando a Sinara lançou o EP “Sol”, em 2015, o gancho das matérias que saíram na imprensa era sobre uma banda formada por um filho e netos do Gilberto Gil. Agora, quando vocês apresentam o primeiro disco cheio, o parentesco já chama menos atenção que a música?
Nossa relação com o público é diferente da nossa relação com a imprensa. Pra imprensa, o tema do parentesco é interessante, mas essa abordagem tem diminuído, e temos gostado disso. Para o público em geral, isso não é mais recorrente. Estamos ganhando nossos espaços sozinhos, fazendo nossa trajetória.
Daquelas quatro faixas do EP de estreia pra hoje, como você avalia a evolução da banda?
O EP é um formato em que a gente consegue mostrar pouco, em relação a um trabalho cheio. Neste novo trabalho, pudemos mostrar outro lado da Sinara, já que o EP foi muito voltado pro rock e pro reggae. Mas a Sinara não é só isso, somos muito ecléticos, escutamos de tudo. Consumimos bastante coisa, gostamos de ritmos muito diferentes. Isso fez com que as composições, naturalmente, fossem no caminho da pluralidade. O resultado deste disco é um amadurecimento natural em relação ao EP. Conseguimos trazer os ritmos brasileiros, que estávamos muito preocupados em mostrar.
Vocês conseguiram trazer pro novo trabalho a influência da repercussão que o EP teve junto aos fãs da banda?
Com certeza. A gente se relaciona muito com nosso público pelas redes sociais e também nos shows. No show, você vê um trabalho mais completo, então as pessoas que vão nos assistir entendem as nossas influências, a mistura que a gente gosta de fazer. A galera sempre esperou ver isso num disco. Quem nos acompanha sabia que a gente traria músicas mais elaboradas, mais caprichadas, mais bem trabalhadas em relação aos arranjos.
“Sem Ar” entrou na trilha de “Malhação”. O quanto isso é importante pra exposição do trabalho da banda?
Ficamos super felizes com a escolha, é um privilégio. É uma conquista que a música tenha entrado numa trilha sonora. Temos mais é que agradecer, porque a Globo é uma exposição enorme e vai ser uma vitrine pra nossa banda. Esperamos colher o melhor disso. A Sinara é pra todo mundo, não buscamos um público específico, fazemos música brasileira.
A música que entrou na trilha, em sua opinião, é bem representativa da mistura sonora que vocês fazem?
Ela traduz muito bem o que é o som da Sinara. Inclusive é uma música que a gente já vinha tocando nos shows desde a época do EP, e surgiu o momento propício pra gravar neste disco. É uma música que pode, sim, definir o nosso trabalho.
A Sinara traz um tanto de engajamento nas letras. Como essa crise toda que o país vem enfrentando inspirou as composições da banda?
A música e as artes como um todo sempre foram uma forma legítima de protesto. A gente não deixa de apontar as coisas que não estão bacanas no mundo. Também fazemos a nossa crítica com a nossa música, como ferramenta de mudança pra um mundo melhor. Nosso disco casa muito bem com a situação do mundo hoje.
Sempre que lançam discos, as bandas ficam loucas pra cair na estrada e mostrá-los nos shows. E vocês?
Participamos do festival Bananada (em Goiânia), abrindo pra Céu e pro Baiana System, que foi super bacana, e abrimos pro Paralamas no Rio, em Olaria. O lançamento do disco será no Rio também, nesta sexta. Queremos que nos convidem pra tocar em qualquer lugar, levar o disco pra onde pudermos.
– Marcos Paulino é editor do caderno Plug (www.mundoplug.com), da Gazeta de Limeira.