por Bruno Lisboa
André Travassos tem seu nome associado à banda Câmera, grupo mineiro que lançou em 2014 “Mountain Tops”, seu primeiro e celebrado álbum, fez turnê na gringa tocando inclusive no badalado Primavera Sound, em Barcelona, e optou entrar em estado de hibernação em julho de 2016 para que seus integrantes se dedicassem a projetos pessoais – iniciativa que, aliás, André Travassos já havia se aventurado em 2015 com o trio Invisível.
No segundo semestre de 2016, André lançou seu primeiro álbum solo, “Songs of Wood & Fire”, sob o codinome Moons. Descrita como a “banda de um homem só”, o projeto começou a ser concebido há dois anos quando o músico se apresentou no formato voz e violão na Mostra Cantautores, em Belo Horizonte. A partir daí, André partiua trás de um formato onde ambos os instrumentos fossem o fio condutor.
Produzido por Leonardo Marques (Transmissor), “Songs of Wood & Fire” é composto por 10 faixas nas quais o folk, o space rock e a música brasileira convivem em plena harmonia. O álbum ainda conta com a participação especial de vários músicos da cena belo horizontina como Digô Leite, Felipe Continentino, Frederico Heliodoro, Jennifer Souza, Leonardo Marques, Pedro Handam, Rodrigo Garcia, Thiago Côrrea, Tiago Eiras e Victor Magalhães.
“Songs of Wood & Fire” pode ser baixado no modelo “pague-quanto-quiser” aqui e, a pedido do Scream & Yell, André conta os detalhes do processo de criação e fala da belíssima capa do álbum: “É uma pintura de uma talentosa e sensível artista de Belo Horizonte chamada Jade Marra. Durante a gravação eu me deparei com essa pintura e olhando para ela identifiquei e senti os mesmos sentimentos que acredito ter no disco. Aconchego, pertencimento, confiança, introspecção, calor humano, etc. Fico feliz de ver que a capa por sí só tem uma força e por onde passo ela é sempre muito elogiada”, conta. Abaixo, o disco faixa a faixa por André Travassos.
HUNTING YOU
Eu encaro essa música como uma introdução do disco, aquela canção que te convida para seguir algum caminho. Vento na cara, cheiro de mato em uma manhã qualquer a caminho de Cabeça de Boi (na Serra do Cipó) por exemplo.
GOLDEN SUN
Essa música tem certo mistério em sua introdução que se revela com a entrada da banda. É uma letra sobre encarar de forma leve e natural tudo aquilo que não sai da forma como imaginamos e esperamos. Sobre seguir em frente mesmo que eventualmente você se pergunte como teria sido sua vida se todos os seus planos tivessem dado certo.
DON’T BELIEVE THE TRUTH
Esse é uma faixa especial para mim. Ela conta com a participação simultânea dos três bateristas que gravaram no disco. O Felipe Continentino, o Tiago Eiras e o Pedro Handam. Queríamos uma batera levemente tribal/percussiva que tivesse uma força, daí a ideia de gravar três bateria diferentes, mas com o mesmo arranjo. Como a pegada dos três é diferente, deu um flan e a soma que queríamos. A letra por sua vez é sobre acreditar na sua intuição, nos seus sonhos e também desconfiar das verdades que nos são contadas dia após dia.
GOOD LUCK BABY
Simples e direta. Sobre um amor que se foi. O processo de absorver tudo que aconteceu, se reerguer e estar pronto para seguir adiante.
A SONG OF WOOD & FIRE
Essa é uma das composições mais antigas do disco e também das mais especiais. Sobreviveu ao tempo e se fez indispensável nessa linearidade das faixas. Ela foi uma das primeiras que vislumbramos a necessidade do violoncelo que acabou presente em quase todo disco. Não é uma música para ninguém especial, mas para as pessoas que amamos e que nos inspiram a ser pessoas melhores.
COUPLE FATED TO END
A letra mais triste do disco. De uma sobriedade que nem sempre temos durante uma relação. Às vezes nos custa acreditar que algo não funciona mais e que o certo a fazer é seguir em frente. Muitas vezes entendemos isso tarde demais.
THE BEST THOUGHTS ABOUT YOU
Eu gosto muito dessa letra, pois acho ela diferente das demais. Por se tratar de uma narrativa menos abstrata. É uma letra sobre reencontro. Sobre aquele momento que olhamos no olho das pessoas queridas e vemos um filme passar na nossa cabeça tamanha são as boas lembranças que aquele encontro nos proporciona.
GHOST BOY
Essa letra eu fiz depois de ler a historia de um garoto que ficou anos em coma e um dia acordou. Utilizei essa história toda como metáfora para expressar o sentimento de inadequação. Às vezes a gente esta presente somente com o corpo, mas a cabeça e o coração estão em outro lugar.
FAKE EYE LASHES
Essa é sem dúvida uma das minhas músicas preferidas do disco. Ela é densa e leve ao mesmo tempo. Foi a última música que compus para o disco e por pouco não ficou de fora da seleção que havíamos feito. Quando o Felipe gravou a batera dela eu e o Léo nos olhamos e tivemos a certeza que fizemos a escolha certa em mantê-la. A letra eu fiz um pouco baseada na relação da Kim Gordon com o Thurston Moore. Fala de lembranças, desilusões e mais uma vez de confiar na sua intuição.
WE DON’T TALK
Muitas pessoas encaram essa letra de uma forma triste pensando que se trata de uma história que chegara ao fim. Mas, ao escreve-la, eu quis fazer uma homenagem um amor duradouro, inspirador, inexplicável, arrebatador.
OH CARAÍVA (faixa extra disponível no Bandcamp)
Fiz essa música no verão de 2015, in loco. Mais precisamente sentado em frente ao encontro do rio Caraíva com o mar. A melodia e a letra apareceram de primeira e ao longo do dia toquei-a incessantemente e aparei algumas arestas da letra. Ao longo do ano tocava ela em algumas rodas de violão e nos shows solo. A insistência da minha namorada e de duas amigas me fizeram grava-la durante as sessões do disco.
– Bruno Lisboa (@brunorplisboa) é redator/colunista do Pigner e do O Poder do Resumão. A foto acima que encerra o texto é de Breno da Matta / Divulgação