Três CDs: Luana Godin, Joe Silhueta e Etnyah

por Leonardo Vinhas

“sOLa”, Luana Godin (Independente)
O álbum de estreia de Luana Godin é pop, mas mantém um pé saudavelmente ficando na esquisitice. Essencialmente rítmico, o disco oscila entre um batuque afro-doidão pontuado por guitarras pesadas e faixas mais “emepebísticas” arranjadas com influências setentistas que podem incluir o funk e a música romântica. Mesmo com uma banda “cheia” a acompanha-la, a essência de parte de faixas como “Novos Humanos” e “A Despedida” está na percussão. Em “Meu Bem É da Lua”, a coisa vira loucurinha mesmo: ponteios de guitarra e apliques eletrônicos aparecem “entortando” a melodia da canção, impedindo que tudo fique redondinho e previsível (e ainda cabem uns vocais cabrocheados pro final). Já “Negrito” e “Me Falta” flertam com o suingada brasilidade do soul nacional e da guitarrada, respectivamente. É verdade que o resultado final teria se beneficiado de uma produção mais experiente, mas de fato a cantora curitibana entrega um primeiro álbum vigoroso e instigante. E isso sem flertar com modismos ou pesar demais na estranheza, o que não tem sido muito comum ultimamente.

Nota: 7 (ouça no Soundcloud)

“Dylanescas”, Joe Silhueta (Independente)
Joe Silhueta é o nome do projeto encabeçado pelo músico e compositor Guilherme Cobelo, e que marcou presença em muitos festivais e casas noturnas do DF e de Goiás em 2016. Dê um desconto para o título pretensioso do álbum, até porque ele não reflete exatamente a sonoridade: Joe Silhueta está mais para as estradas esburacadas do interior brasileiro do que para as highways bem-asfaltadas dos EUA. Ou, em temos mais claros: sua música traça uma ponte entre o folk gringo com a música de Xangai, Renato Teixeira e outros cantores brasileiros que fazem a ligação afetiva entre o campo e a cidade. Se duvida, vá direto a “Canto de Orfeu”, melhor das cinco (boas) faixas desse seu EP de estreia. Ainda que ao vivo o resultado seja mais interessante, esse Dylanescas apresenta um compositor promissor. E mesmo que o resultado sugira que o melhor está por vir, os sabores de Brasil e Estados Unidos que ele destila já podem ser degustados agora.

Nota: 7 (download no Soundcloud)

“O Homem do Outro Lado do Espelho”, Etnyah (Independente)
Como o nome sugere, o Etnyah guarda reverência ao ideal do rock brasileiro dos anos 1990: roqueiro, sim, mas disposto a assumir a vira-latice como caracteristica indissociável da identidade. A banda de Londrina (PR) foi formada em 1999 e se separou pouco após lançar seu primeiro disco, “Tempo Sujo” (2002). Há poucos anos, Clodoaldo Sanches (voz e guitarra) e Jean Pera (bateria) decidiram retomar os trabalhos e, após a passagem de vários músicos, estabilizaram-se como um sexteto, formação com a qual registraram esse “O Homem do Outro Lado do Espelho”. Os anos 90 continuam representando o ideal da banda, e eles assumem isso sem medo, tanto na sonoridade como na lírica. São guitarras que vão do groove funkeado ao peso, com o baixo a sublinha-las enquanto a bateria e percussão criam uma trama dançante e detalhada. Samplers, teclados e uns metais aqui e ali dão aquelas bem-vindas filigraninhas, e mesmo que soe datado para alguns, o conjunto da obra é sólido. Até porque se trata de um disco de rock de e para adultos, algo pouco comum na juvenília que predomina em terras nacionais. “Conversa Fiada”, “O Toque das Seis” e a faixa-título se destacam no lado mais malemolente, enquanto “O Céu”, “Adeus” e “Tempo Sujo” brilham no espectro mais agressivo. Ainda sobra um espaço para um quase dub, “Açoites”, antes de fechar o álbum.

Nota: 7 (ouça no Bandcamp)

– Leonardo Vinhas (@leovinhas) assina a seção Conexão Latina (aqui) no Scream & Yell.

 

One thought on “Três CDs: Luana Godin, Joe Silhueta e Etnyah

  1. Etnyah Agradece Leonardo Vinhas pelo olho clinico e ouvidos aguçados,”O Homem Do Outro Lado Do Espelho” foi um trabalho árduo,mas reconfortante na finalização,e é muito bacana saber que existem pessoas antenadas,conectadas em coisas boas,pois eu Clodoaldo Sanches particularmente gosto muito do meu trabalho,por isso a fase de criação das letras e dos primeiros acordes é feito com muita dedicação,primeiro eu tenho que agradar a mim mesmo,e não sei se posso dizer que é uma maldição ou um tipo de salvação da música verdadeira,o lance de ser perfeccionista conta muito…e parafraseando o senhor Renato Russo”ora se você quiser se divertir,invente suas próprias canções”…depois que ouvi isso nunca mais parei de compor kkkkk muito obrigado em nome da familia Etnyah.

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