Petálas, Massacre, Homem-Máquina

por Adriano Mello Costa

“Massacre – A Saga Completa” , Vários (Panini)
Os anos 90 foram palco de várias decisões bem questionáveis das duas grandes editoras de quadrinhos do mundo em relação aos seus personagens. Na Marvel, por exemplo, uma saga bastante criticada foi “Massacre”, que sucedia a ótima “Era do Apocalipse” e teve diversos detratores na época. Nela, os X-Men precisam lidar com um traidor dentro de suas fileiras e com o surgimento de um vilão extremamente poderoso (que dá o título à saga). A Panini Comics resolveu republicar essa história em três edições agora em 2015 e a primeira delas tem 260 páginas e reúne além dos títulos dos mutantes e seus derivados, revistas do Quarteto Fantástico, Vingadores e Hulk. Sem extras e com capa cartonada (e bem feia visualmente) exibe como vantagem ter a trama na ordem cronológica dos títulos da casa das ideias onde a saga se desmembrou. Em “Massacre – A Saga Completa – Volume 1” uma constelação de autores é reunida. Lá estão Mark Waid, Scott Lobdell, Tom DeFalco, Jeph Loeb e Peter David, sendo que o mesmo ocorre com os desenhistas com nomes como Andy Kubert, Mike Deodato, Carlos Pacheco e Mike Wearingo, entre outros. Todavia, essa constelação não foi suficiente para fazer da história algo palatável e válido. O vilão quase invencível que precisa ser derrubado a todo custo é fruto da psique quebrada e destroçada do Professor Xavier em conjunto com Magneto. Para que ele caia é preciso sacrifícios, mas, como se sabe bem, nos quadrinhos sacrifícios quase nunca são para sempre e logo em seguida no evento “Heróis Renascem” tudo volta ao normal. Por mais que hoje a Marvel e, por consequência, a Panini tentem ressaltar “Massacre” como algo válido e importante, as coisas não são bem assim. Mesmo com tantos nomes bons envolvidos e grandes cenas de ação com arte competente, a saga continua patinando e não é nada além de mediana.

Nota: 6

“Pétalas”, de Gustavo Borges e Cris Peter (Tambor e Marsupial)
O inverno é rígido, pesado. É necessária muita dedicação para sobreviver em clima tão hostil, e seria normal que essa dedicação deixasse o semblante mais pesado, o coração mais duro. No entanto, quando um jovem sai para buscar lenha e se depara com um visitante meio estranho vestido com terno, ele automaticamente o convida para se aquecer na sua casa (mas antes pede ao pai), e ao invés de dureza, exibe generosidade. Esse é o tom de “Pétalas”, graphic novel que conta com roteiro e arte de Gustavo Borges (da webcomic “Edgar”), cores da excelente Cris Peter (“Casanova”, “Astronauta: Magnetar”) e foi financiado coletivamente batendo recorde dentro do campo de quadrinhos na plataforma que cuidou da campanha. Logo após a finalização ganhou as livrarias e bancas do país em edição conjunta da Tambor e da Marsupial Editora. “Pétalas” têm 56 páginas e exibe diversos mimos ao leitor nos vários extras que carrega. Não tem falas na história e o que normalmente representa uma aposta de risco, já que são poucos autores que conseguem se sair bem com esse tipo de empreitada, aqui se mostra plenamente funcional e demonstra o talento do jovem quadrinhista de apenas 20 anos. A arte meiga e limpa ganha maior dimensão devido às cores sempre magistrais de Cris Peter, que melhora ainda mais a cada trabalho. “Pétalas” é uma história adocicada demais, podem até falar alguns, contudo em tempos tão cheios de ódio, radicalismo e egoísmo, uma obra que verse sobre temas tão nobres como altruísmo, bondade, grandeza e compaixão, tem seu lugar sim. Com o uso desses temas envoltos em magia e fantasia, Gustavo Borges apresenta outro bom lançamento dentro do cada vez melhor mercado nacional de quadrinhos e deixa grande expectativa para seus próximos trabalhos.

Nota: 7,5

“Homem-Máquina”, de Tom deFalco, Herb Trimpe e Barry Windsor-Smith (Panini)
As republicações de quadrinhos antigos no Brasil, via de regra, sempre trazem os mesmos personagens, os mesmos ícones, e, em alguns casos, até as mesmas obras. Então é de se vangloriar que a Panini Books tenha colocado no mercado um encadernado de capa dura e lombada quadrada apresentando o obscuro Homem-Máquina como protagonista. Criado na segunda metade dos anos 70 para a Marvel pelo mestre Jack Kirby quando este voltava de uma temporada na DC Comics, o personagem até teve alguma importância no universo da editora, mas há anos está escanteado e aparece muito raramente. Nesta reedição, “Homem-Máquina” traz 100 páginas e exibe uma minissérie publicada originalmente entre outubro de 1984 e janeiro de 1985, com roteiro de Tom deFalco, desenhos de Herb Trimpe e arte-final e cores do grande Barry Windsor-Smith (de “Arma X”). O álbum apresenta ao leitor um futuro distante e complexo (o ano de 2020) onde uma empresa chamada Baintronics domina o mundo com alta tecnologia e deixa tudo e todos sob seu jugo e comando. Todavia, nem todos aceitam isso pacificamente e um grupo de rebeldes ainda resiste com bravura. São esses rebeldes que deparam com o Homem-Máquina desativado e quebrado dentro de uma caixa, fora do ar há 35 anos. Entrando de supetão na briga por liberdade, o androide criado como instrumento de guerra que se torna algo mais, desenvolvendo personalidade, pensamentos e sentimentos próprios, é fundamental para a rebelião. “Homem-Máquina” é uma história que versa sobre opressão, independência, coragem, ganância e soberba, temas sempre atuais. Já publicada aqui antes há muito tempo na extinta revista Heróis da TV, essa edição é um sopro de frescor dentro do mercado de republicações, um alento contra o mais do mesmo, além de ser uma história com várias virtudes.

Nota: 8,5

– Adriano Mello Costa (siga @coisapop no Twitter) e assina o blog de cultura Coisa Pop

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