por Marcelo Costa
Sempre fui a favor do download gratuito, para todo mundo, mas, principalmente para artistas que não estão na grande mídia, e precisam construir uma base de fã clube. No meu caso, não tem muito a ver com obter música de graça: eu vou a shows, compro CDs, vinis e o escambau. A facilidade do download gratuito é só uma maneira de chegar ao álbum rapidamente antes, por exemplo, dos correios entregarem a versão física aqui em casa. E tem aqueles casos de bandas que não conheço, baixo, e só depois de ouvir sinto vontade de ter o álbum. Acontece.
Porém, as mudanças tecnologias avançam tão rapidamente que é impossível cravar certezas, e o próprio download gratuito, hoje, encontra-se numa encruzilhada, e quem tratou de trazer isso a tona foi a banda norte-americana Wilco, quando disponibilizou “Star Wars”, seu novo álbum, em seu site oficial, gratuitamente, algumas horas antes do disco aparecer em todas as lojas de streaming. Jeff Tweedy, o líder do Wilco, não sabia, mas dar seu disco de graça para os fãs acabou marcando uma nova fase no consumo de música do mundo moderno.
Nessa nova fase que vivemos, não basta liberar o disco gratuitamente para os fãs, muito pelo contrário: o disco tem que estar disponível para o fã em absolutamente todos os formatos e plataformas. Porque, no exemplo citado, assim que o disco do Wilco caiu nas redes, muitos fãs foram procurar nas suas lojas favoritas de streaming, mas “Star Wars” não estava lá (ainda), e por um momento criou-se uma interrogação na cabeça de várias pessoas: como se baixa um disco mesmo? Pode ter certeza, leitor, muita gente não sabe e pensou nisso.
Desta forma, estamos cada vez mais nos aproximando de um modelo de comércio musical que necessita “ir onde o povo está”. Num primeiro momento, muita gente acreditou que os formatos físicos – CD, DVD, vinil, k7 – estavam fadados a desaparecer, mas o que o momento sinaliza é que há espaço para tudo, porque há quem vai baixar o disco gratuitamente (se não for liberado pelo artista, por uma via não autorizada, mas vai), há quem vai procurar e ouvir via streaming e tem gente que irá querer o vinil, o CD, a fita k7 e a camiseta.
Tudo isso quer dizer que, cada vez mais, uma forma de comercializar um disco (e o download gratuito entra no pacote) não influencia diretamente na outra, pelo contrário: elas se somam. Ou seja, hoje em dia já não basta dar o disco de graça (mas é importante disponibiliza-lo!), tem que coloca-lo no iTunes, no Google Play, na Apple Music, na Deezer, na ONERpm, no Napster; tem que pensar numa tiragem (mesmo que pequena) em CD e vinil, tem que encontrar maneiras de chamar a atenção do consumidor.
Muita gente já vem fazendo isso. Wander Wildner colocou seu novo álbum, “Existe Alguém Ai?” no Bandcamp, e está vendendo o CD e um pendrive de “4 Gb no formato de um cartão de crédito com os arquivos das músicas em .WAV e .MP3 nos modelos em PVC e Madeira”. O Passo Torto liberou seus três discos para download gratuito, mas vende CD e vinil nos shows. De Curitiba, a Banda Gentileza segue o mesmo modelo: download gratuito do álbum “Nem Vamos Tocar Nesse Assunto” no site oficial, e ainda CD e vinil. E os três artistas estão com seus álbuns em todas as lojas de streaming.
Ainda é cedo para dizer que o streaming veio pra ficar (as revoluções tecnológicas mudam o comportamento do usuário a toda hora), mas neste momento é uma plataforma bastante viável. Por outro lado, alguns dos grandes álbuns de 2015 foram liberados gratuitamente: BNegão e os Seletores de Frequencia, César Lacerda, Frito Sampler, Garotas Suecas, Passo Torto, Nenung & Projeto Dragão, Gui Amabais, Letuce, Phillip Long, Marcelo Perdido, Ná Ozzetti e Zé Miguel Wisnik, Metá Metá, Siba, Eddie, The Baggios, Pélico, Cidadão Instigado, Barbara Ohana, Ava Rocha, Cícero, Wado, Diogo Strausz, Jair Naves… e a lista segue, imensa.
A certeza que o momento deixa é que a música precisa estar em todo lugar. Cada vez mais.
– Marcelo Costa (@screamyell) edita o Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne
One thought on “Pensata: Música em todo o lugar”