por Marcelo Costa
Quarto rótulo lançado pela cervejaria Serra de Três Pontas, a Touro Sentado é uma American IPA que passa por um Dry Hop triplo de lúpulos Citra e Simcoe (primeira IPA desenvolvida, ainda de forma caseira, por Bruno Moreno, sua lupulagem influenciou a Cafuza, grande estrela da casa). Disponível no mercado a partir de março de 2015, a Touro Sentado é uma cerveja de coloração amarela quase dourada com intensa turbidez denotando a não filtragem. O creme branco exibe uma formação majestosa e é de média alta permanência. No nariz, uma explosão de frutas cítricas assim que se abre a garrafa: muito maracujá acompanhado de leve mamão e tangerina. O malte fica na retaguarda, acrescentada uma leve doçura, quase imperceptível. Na boca, textura picante. O primeiro toque traz frutas cítricas (maracujá) e antecipa o amargor (cítrico) potente (mas não agressivo) que vem na sequencia (60 de IBU), colocando um sorriso no rosto de lupulomaniacos. O conjunto investe no cítrico (maracujá, mamão e tangerina) sem se preocupar com doçura até o final, amargo e cítrico. No retrogosto, uma suave adstringência mais… cítrico. Apaixonante.
Lançada em abril de 2015, a Baden Baden American IPA recebe adição de suco de maracujá e passa por um processo chamado Dip-Hop, exclusivo da Kirin Japão, que consiste num chá de lúpulo visando maior exploração dos aromas sem interferir no volume de amargor – que aqui alcança 40 IBUs. De coloração âmbar translucida e creme branco de muito boa formação e longa permanência, a Baden Baden American IPA apresenta um aroma bastante cítrico (com destaque para o maracujá, ainda que de forma menos intensa do que o esperado) e suave presença de notas herbais e condimentadas. Na boca, textura levemente picante. O primeiro toque traz doçura frutada acompanhada de acidez e, na sequencia, amargor baixo, sem soar agressivo, mas com média extensão (o que é um ponto positivo). No conjunto, o maracujá se destaca (com cítrico e doçura) sem grande alarde permitindo perceber notas herbais e doçura de malte. O final reforça a ideia de maracujá, que retorna no retrogosto acompanhada de leve adstringência. Uma aposta interessante.
Lançada em julho de 2015, a Wäls Hop Corn é uma American IPA cuja receita une os lúpulos norte-americanos Columbus, Cascade e Amarillo mais dry hopping de Centennial. Há ainda adição – buscando polêmica e marketing – de high maltose (xarope de glicose retirado da casca do milho e transformado em açúcar), mas falamos disso no final. De coloração âmbar caramelada com creme branco de boa formação e média alta permanência, a Wäls Hop Corn IPA apresenta um aroma notadamente herbal (grama e pinho) com leve toque cítrico (limão) e sugestão suave de resina. Na boca, textura levemente frisante. O primeiro toque traz doçura caramelada rápida atropelada por amargor herbal caprichado e seco, mas não agressivo, alcançando pouco mais da metade dos 70 de IBU que o rótulo anuncia (45 está de bom tamanho). Dai pra frente, herbal suave (pinho), cítrico leve e um traço de resina acompanhado de álcool (são 6.7%). No final, secura e leve herbal. No retrogosto, herbal. Com um pouco menos de álcool seria uma Session IPA bastante ok.
Balanço
Minha American IPA nacional preferida é a Wäls Niobium. Em segundo lugar, empatados, surgem a Tupiniquim Lost in Translation e essa apaixonante Touro Sentado. Precisa dizer mais? Precisa: vá atrás (não só dela como das demais da turma da Serra de Três Pontas). Já a Baden Baden American IPA briga pelo quinhão popular do estilo numa receita que recebe adição de suco de maracujá. Mais suave que a Therezopolis Jade (que se sai melhor em profundidade e custo/benefício), ela busca soar como uma porta de entrada suave para o estilo (no que compete com a muito boa Eisenbahn Frosty Bison). Das três fico com a Jade, mas tanto a Eisenbahn Frosty Bison quanto a Baden Baden American IPA (ainda que doce) são boas pedidas populares do estilo. A Wäls Hop Corn IPA compete com essa linha IPA popular (território que a Jade se destaca). É correta no que se propõe soando até mais suave que as concorrentes. Toda a questão em torno da adição de high maltose é… marketing, com a Wäls tentando “salvar a dignidade do milho” – como se belgas não usassem milho em suas receitas há 500 anos – vendendo algumas garrafas a mais. Não deixa de ser interessante colocar o assunto “cerveja de milho” em discussão, mas isso é mais para um público que acredita que o milho é o grande vilão da cerveja mainstream. A Wäls usa 15% de high maltose nessa receita enquanto as cervejas mainstream trazem 45%, mas o problema não são só os 30% de diferença e sim todo um conjunto feito (pelas mainstream) para parecer insipido. A Wäls Hop Corn IPA não é insipida – mas também não é uma Touro Sentado, muito menos uma Niobium. Segue o jogo.
Serra de Três Pontas Touro Sentado
– Estilo: American IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 6,5%
– Nota: 3,93/5
Preço em média: R$ 17 por 300 ml
Baden Baden American IPA
– Estilo: American IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 6,4%
– Nota: 3,25/5
Preço em média: R$ 17 por 600 ml
Wäls Hop Corn IPA
– Estilo: American IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 6,7%
– Nota: 3,26/5
Preço em média: R$ 17 por 600 ml
Leia também
– Top 1001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
– Leia sobre outras cervejas (aqui)