por Marcos Paulino
Gal Costa não quer saber da chamada zona de conforto. Se “Recanto”, de 2011, apostava em alfinetadas de eletrônica de forma radical, o recém-lançado “Estratosférica”, seu 29º disco de estúdio, com o qual comemora cinco décadas de carreira, mantém a busca por algo diferente, “arrojado”, “jovial”, mas mais “palatável”, três adjetivos que ela mesma utilizou nesta entrevista ao PLUG, parceiro do Scream & Yell.
Gal quer ir ao encontro do público jovem, assim como são vários dos compositores que escolheu para gravar neste álbum, entre eles os irmãos Marcelo e Thiago Camelo, Céu, Lira (ex-Cordel do Fogo Encantado), Criolo e Mallu Magalhães. Mas também tem gente das antigas assinando algumas faixas, como Lincoln Olivetti, Caetano Veloso, Milton Nascimento e Tom Zé. Sem contar Guilherme Arantes, este numa faixa bônus na versão digital.
Produzido por Alexandre Kassin e Moreno Veloso e com direção artística do jornalista Marcus Preto, “Estratosférica” atende ao pedido de Gal, que não queria “um disco careta, clássico”. Méritos também da banda que a acompanha: André Lima (teclados), Guilherme Monteiro (guitarra), Pupillo (bateria) e o próprio Kassin (baixo e programações). Abaixo, Gal fala sobre a nova fase, e avisa: “Não sou nenhuma garota, mas estou me sentindo jovem”. Confira o papo.
Na foto da capa do novo disco, você está parecendo bastante jovem. Ao chegar aos 50 anos de carreira, é realmente assim que você se sente?
É sim. Estou me sentindo com vontade de trabalhar, com garra, com gana. O disco é o reflexo da minha alma. Não sou nenhuma garota, mas estou me sentindo jovem.
E há também vários jovens que assinam diversas das faixas do CD. Como foi o processo de escolha dessas músicas?
Quando ainda estava na estrada com o “Recanto” (disco lançado em 2011), chamei o Kassin pra produzir este disco. E durante uma conversa com o (diretor artístico) Marcus Preto, de quem me aproximei bastante com a convivência em São Paulo, ele se encarregou de buscar canções junto a vários compositores. Ele foi juntando esse repertório e depois escolhi as que eu gravaria. As escolhidas foram as que realmente bateram em mim, principalmente “Sem Medo nem Esperança”, que tem uma letra magnífica do Antonio Cícero feita pra mim, pra este meu momento.
A ideia de trazer compositores das novas gerações foi também com o objetivo de renovar seu público?
O “Recanto” já foi feito porque uma geração mais nova estava de olho nas coisas que eu, e os tropicalistas de um modo geral, fizemos nos anos 60. Foi um disco justamente com um olhar pro público jovem. A ideia de gravar essa geração que eu nunca tinha gravado está ligada a isso, mas também é uma consequência do que está acontecendo ao longo dos últimos cinco ou seis anos. O que acho muito bacana nesse disco é que gravei muita mulher. São compositoras e cantoras que têm uma referência do meu trabalho, como a Céu (que assina a faixa título em parceria com Pupillo e Junio Barreto) e como a Marisa Monte (responsável por “Amor, Se Acalme”, parceria com Arnaldo Antunes e Cezar Mendes), que mandou espontaneamente uma música pra mim. É bacana essas pessoas, que já têm uma admiração pelo meu passado, comporem pra mim. Isso é bonito.
Há duas músicas bônus, presentes apenas na versão digital do álbum. Você se mantém ligada no mundo virtual?
Ligadíssima! Tenho Face, Twitter, Instagram e gosto de navegar. Gosto muito!
Uma dessas é do Guilherme Arantes, de quem ainda você não tinha gravado nada. Como se deu essa parceria?
Sempre gostei muito dele, queria ter gravado, que ele tivesse feito uma música pra mim, mas não houve oportunidade. Estava falando com o Kassin ao telefone e ele disse que estava indo a um show do Guilherme Arantes. Eu disse que adorava ele, e o Kassin prometeu pedir uma música. O Guilherme mandou (“Vou Buscar Você pra Mim”), mas o disco já estava completo. Mesmo assim nós gravamos e disponibilizamos a música no iTunes.
Você pediu aos produtores que o disco saísse da zona conforto. Ficou como você queria?
Pedi ao Kassin e ao (produtor) Moreno (Veloso) que não fizéssemos um disco careta, clássico. Queria um disco arrojado, mais palatável que o “Recanto”, mas que tivesse uma estranheza nos arranjos, que fosse eletrônico, jovial. Gravamos as bases no estúdio, com minha voz guia, e depois eles transformaram bastante esse material. Deu no que hoje resulta o disco, que ficou do jeito que eu queria.
Quando começa a turnê desse novo trabalho?
Vamos começar a ensaiar, pra estrear na segunda quinzena de agosto. Por enquanto, estou fazendo a divulgação do disco, faremos ainda o clipe da música “Quando Você Olha pra Ela”, da Mallu Magalhães. Aí tem algumas coisas na TV, e depois vou me dedicar ao show.
– Marcos Paulino é editor do caderno Plug (plugmusic.zip.net), da Gazeta de Limeira.
Leia também:
– Gal Costa: “O público jovem já anda ouvindo meus discos dos anos 60? (aqui)
– Recanto”, de Gal Costa, é um álbum econômico, corajoso e… fake (aqui)
– “Live in London, 1971”, de Gilberto Gil e Gal Costa, é um álbum histórico (aqui)
Agora parece que virou obrigação todo artista com uma história incluir esse povo (Mallu Magalhães, Criolo, Emicida, Jeneci, Tulipa) pra parecer moderno. Vide Tom Zé que declarou no seu tropicália Lixo lógico que nem conhecia esse povo, aceitou participação por indicação do produtor. É uma pena, nem Gal nem Tom Zé precisa de “panelinha” pra renovar o público.
tom ze nunca precisou. essa galera é que idolatra ele. ele tá se lixando pra velha e pra nova guarda.
Então, Cleber, justamente por esse histórico dele eu estranhei ele aceitar artista “empurrado” por produtor que não tem nada a ver. Ainda se fosse um Catatau, um Lucio Maia…