CD: California Nights, Best Coast

por Flavia Denise

Se o duo Best Coast pudesse ser definido em algumas palavras chaves, estas seriam: sol, praia e muito surf rock. A banda californiana, formada pela irreverente Bethany Consetino e o reservado guitarrista Bobb Bruno, se inspira (mais uma vez) em sua terra natal para a criação do seu terceiro álbum, “California Nights”, lançado oficialmente no dia 01 de maio. Aclamado em 2010 com o álbum “Crazy For You” e não tão amado pelo seu sucessor, “The Only Place” (2012), o Best Coast volta com uma sonoridade mais limpa e apresenta uma faceta bem mais pop do que nos discos anteriores.

Entre riffs de guitarras divertidos e a peculiar voz de Beth, o Best Coast é uma das bandas atuais que mais se proporciona auto curtição em seus álbuns. É até engraçado como tudo parece uma grande brincadeira que, no final das contas, acaba gerando um registro muito interessante, fruto de uma identidade sonora forte que se adéqua a atmosfera californiana que o duo sempre exalta em suas canções exibindo influências que namoram o Fleetwood Mac, piscam o olho para o Mazzy Star e beliscam (beeeem de leve) o My Bloody Valentine.

Vindo de uma leva de bandas como Wavves, Surfer Blood e Cults, o duo destaca em “California Nights” faixas como “Feeling Ok”, que abre o álbum com um sotaque pop-punk que embala o ouvinte à curiosidade de ouvir mais daquele som nostálgico que lembra os bons e (já) velhos anos 90. É interessante como o registro conseguiu um resultado revigorante mostrando uma química perfeita entre o que a banda é hoje e o caminho que já transcorreu até aqui. O som que aqui soa muito mais polido lembra muito pouco as guitarras distorcidas e o caos inocente de “Crazy For You”, e talvez seja essa a intenção do Best Coast: deixar seu garage rock californiano um pouco de lado e tentar a sorte em uma trajetória bem mais comercial.

Em refrões fáceis e muito pegajosos, como exibe “In My Eyes”, Beth reclama de uma solidão pertinente, mesmo que ainda acompanhada de seu parceiro. Parece até que a vocalista faz um retrato bem atual de como as relações interpessoais estão se tornando cada vez mais egoístas. Na canção ela entoa repetitivamente “But you’re in my eyes / You ‘re in my eyes…” e mostra como é difícil não ligar para os acontecimentos e chateações que não param de acontecer naqueles três minutos e quarenta e seis segundos de faixa. Já em “Fine Without You”, a temática mostra um lado mais positivo do fim da relação, salientando que nem todo mundo morre por amor.

A faixa título (primeiro single do álbum) talvez seja a que menos se encaixe no perfil do álbum, e de forma brilhante (e talvez antagônica) se mantém como a melhor música do registro. Com clima leve e melodias que flutuam e se encaixam muito bem ao vocal de Cosentino, “California Nights” surpreende o ouvinte que não espera uma quebra repentina de ritmo tão forte no registro. “I never wanna get so high / That I can’t come back down to real life” diz a composição.

“Wasted Time”, que fecha o álbum (12 canções – todas assinadas por Bethany – em pouco mais de 43 minutos), tem uma atmosfera intimista culminando em um momento de absoluta calma, o que se contrapõe a todo algazarra do início do álbum. Mais pop, mas não menos cativante, “California Nights” é um trabalho digno de uma banda que, desde sua primeira aparição no meio independente, continua mantendo a capacidade de criar música de qualidade.

–  Flávia Denise (https://www.facebook.com/flavsdenise) é estudante de jornalismo e colabora com os sites Pulsa Nova Música e You! Me! Dancing!

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