Texto, foto e vídeos por Marcelo Costa
A confirmação do show da grande banda belga dEUS em São Paulo foi inesperada: sem disco novo para divulgar (“Following Sea”, o último álbum de estúdio, é de 2012) e não muito conhecida fora da Bélgica (onde é headliner de festivais no nível do Radiohead), a primeira apresentação do grupo em São Paulo veio a reboque de seu segundo show no festival Abril Pro Rock, em Recife – o primeiro, de 1996, marcou a primeira participação internacional no festival, e os pernambucanos queriam matar saudade. Sorte dos paulistas.
Formada em 1991 na Antuérpia com nome inspirado numa grande canção do Sugarcubes (o grupo que apresentou Björk ao mundo), a dEUS chamou a atenção da mídia por ser a primeira banda belga a assinar com uma major, a Island Records, casa de Bon Jovi, U2 e PJ Harvey. O sucesso veio logo no primeiro disco, “Worst Case Scenario”, de 1994, que vendeu 30 mil cópias na Bélgica (disco de ouro) e 270 mil em todo o mundo – o disco, preferido dos fãs, ganhou uma edição especial dupla em 2009 com 17 faixas bônus.
De lá pra cá, a dEUS lançou mais seis discos, cravando vários hits underground (muitos deles enormes sucessos em seu país natal) e mudou a formação drasticamente em 2004: da formação original se mantém apenas o vocalista e guitarrista Tom Barman e o tecladista e violonista Klaas Janzoon. O trio Stéphane Misseghers (bateria), Alan Gevaert (baixo) e Mauro Pawlowski (guitarra) entrou junto em 2004 gravando em seguida o elogiadíssimo “Pocket Revolution” (2005), e firmando a formação atual.
O show em São Paulo fazia parte da Fly Tour, e o set list foi bem balanceado, com canções de todos os discos: três músicas do álbum de estreia (que completou 20 anos em 2014), quatro do segundo álbum (“In a Bar, Under the Sea”, de 1996), uma do terceiro (“The Ideal Crash”, de 1999), quatro do quarto disco, e primeiro com a formação atual (“Pocket Revolution”, de 2005), três do quinto (“Vantage Point”, de 2008) e uma de cada um dos dois últimos álbuns (“Keep You Close”, de 2011, e “Following Sea”, de 2012).
Com ingressos disponíveis até a hora do show, a expectativa de público era uma incógnita, mas a banda conseguiu lotar (sem esgotar) a choperia do Sesc Pompeia, que viu uma apresentação impecável, com o quinteto mostrando um pop esquizofrênico de altíssima qualidade. A dinâmica das canções mudava drasticamente durante a execução, e o público foi junto, levado pela marcação pesada da bateria de Stéphane e pela empolgação do baixista Alan. Falando um bom português, Tom Barman parecia feliz e à vontade em São Paulo.
O show começou focado em material mais novo, com destaque para o trator “Oh Your God”. Os primeiros urros de empolgação surgiram em “Fell Off the Floor, Man”, com o clima esquentando ainda mais na maluquice de “Morticiachair” (e muita gente cantando junto). “Hotellounge”, com introdução marcante na guitarra, serviu para acalmar os ânimos para o trecho final, que começou com o caos sonoro de “Sun Ra”, seguiu-se com a climática “Nothing Really Ends”, fechando a primeira parte do show com a empolgante “Bad Timmig”.
“Essa é a nova segunda vez no Brasil, a primeira em São Paulo, mas já queremos voltar”, avisou Tom Barman no bis, e logo após um fã gritar o nome do grande hit da banda, mandou: “Later, later, mais taaarde”, respondeu, em português meio caipira. Sem dúvida, o grande momento da noite, “Suds & Soda” teve o palco tomado por fãs, instigados por Tom Barman, que convocou a invasão. Com cerca de 30 pessoas pulando o grande hit, a dEUS encerrou em São Paulo um show que, quem estava lá, não esquecerá tão cedo. Que voltem logo.
SET LIST
Slow (“Vantage Point”, de 2008)
The Architect (“Vantage Point”, de 2008)
Constant Now (“Keep You Close”, de 2011)
Oh Your God (“Vantage Point”, de 2008)
Instant Street (“The Ideal Crash”, de 1999)
Fell Off the Floor, Man (“In a Bar, Under the Sea”, de 1996)
Morticiachair (“Worst Case Scenario”, de 1994)
Little Arithmetics (“In a Bar, Under the Sea”, de 1996)
If You Don’t Get What You Want (“Pocket Revolution”, de 2005)
Quatre Mains (“Following Sea”, de 2012)
Hotellounge (Be the Death of Me) (“Worst Case Scenario”, de 1994)
Sun Ra (“Pocket Revolution”, de 2005)
Nothing Really Ends (“Pocket Revolution”, de 2005)
Bad Timing (“Pocket Revolution”, de 2005)
Bis
Theme From Turnpike (“In a Bar, Under the Sea”, de 1996)
Roses (“In a Bar, Under the Sea”, de 1996)
Suds & Soda (“Worst Case Scenario”, de 1994)
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne
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