por Richard Cruz
Se você gosta de música POP (essa mesma que toca em rádio FM), Sia é sua artista preferida e você nem sabe. Essa australiana quase quarentona já compôs hits para estrelas de variados brilhos e quilates: de Rihanna a Britney Spears, do rapper Ne-Yo, passando pela cantora albanesa Rita Ora e até quem se orgulha de escrever as próprias músicas, como Beyoncé: “Pretty Hurts”, um dos melhores singles do último trabalho da incansável Sra. Jay–Z, foi escrito por Sia.
Quando você vai na balada, Sia também te acompanha. “Titanium” e “She Wolf”, dois dos maiores sucessos do DJ francês David Guetta, o preferido de 10 entre 10 atores globais, tem Sia nos vocais. “Titanium”, inclusive foi co–escrita por ela.
Sia, inclusive, esteve envolvida até mesmo na composição da horrenda música-tema da Copa do Mundo de 2014. Mas esse pequeno deslize na carreira deve ser desconsiderado em nome dos dólares que ela ganhou e que devem ter sido investidos na produção de sexto álbum “1000 Forms of Fear” e dos recentes vídeos que a cantora vem fazendo.
A estratégia criada pela cantora para promover o álbum optou pelo básico: a divulgação está sendo feita basicamente por meio de vídeos e de apresentações em talk shows e, mesmo sem uma turnê, “1000 Forms of Fear”, lançado em julho do ano passado, debutou na primeira posição da Billboard norte-americana com 52 mil cópias (sendo o disco com menor vendagem a aparecer no topo mais alto da parada da revista nos últimos dois anos) e se aproximou das 200 mil cópias nos EUA no começo de 2015 (800 mil cópias no mundo todo).
Nos videoclipes, Sia não aparece. Em “Chandelier” (que periga ter o refrão mais grudento dos últimos 10 anos), a dançarina mirim Maddie Ziegler ziguezagueia por um quarto de visual sinistro e finaliza o vídeo com uma saudação beirando a psicopatia. Em “Elastic Heart”, a mesma bailarina faz par com Shia LaBeouf, astro de “Transformers”, em uma performance dentro de uma gaiola gigante.
A coreografia de “Elastic Heart” foi inspirada no trabalho do artista alemão Joseph Beuys (1921-1986), que se trancou numa sala com um coiote selvagem durante três dias. Nas últimas horas, o animal permitiu que o homem o abraçasse. Sia já teve inclusive que se defender de acusações de pedofilia por causa do vídeo. A reação das pessoas, ainda que previsível nesses tempos de conservadorismo extremo, foi classificada pelo diretor do vídeo como “ridícula”. Mesmo assim, já foram mais de 160 milhões de visualizações no Youtube. O de “Chandelier” já ultrapassou a marca do meio bilhão.
Ausente dos clipes, nas apresentações na TV, Sia aparece sempre de costas ou com uma venda nos olhos. Quem brilha, geralmente, é a dançarina Maddie, que diz que “foi contratada para ser uma mini–Sia”, reproduzindo de maneira impecável as coreografias dos vídeos.
O álbum em si é uma colcha de retalhos. Cada música de “1000 Forms of Fear” parece ter sido composta para (ou por) um artista diferente. E isso é uma virtude. Os dois primeiros singles tem letras que retratam situações de superação. No caso de “Chandelier”, a cantora fala sobre quando beber deixa de ser divertido e passa a ser aterrorizante (“One, two, three: drink / Throw ‘em back till I lose count”, diz o refrão). Já “Elastic Heart” faz a ponte com o indie: sua primeira versão tem participação do trip hop atualizado do The Weeknd.
“1000 Forms of Fear” também abre espaço pra baladas grandiosas (“Big Girls Cry”), rockinhos new wave (“Hostage”) e tentativas de soar experimental, como em “Free the Animal”, que traz versos que não ficariam deslocados num disco do Nine Inch Nails (“Detonate me / Shoot me like a cannon ball / Granulate me / Kill me like an animal / Decapitate me).
O diferencial está mesmo na voz de Sia, que já foi acusada de não pronunciar corretamente as palavras. Com um timbre que lembra o de uma Rihanna com esteroides, (vide o refrão de “Chandelier”), a voz rasgada da australiana e sua imagem (num dos vídeos, a cantora é representada apenas por uma peruca) não parecem se encaixar num cenário pop dominado por malabarismos vocais estilo American Idols (ainda que Lady Ga Ga dê um aceno). Mas a estratégia funciona. Ao vivo, ela se garante e a performance arrepia. A garganta aguenta os agudos e afaga os ouvidos quando decide soar suave.
Sia ainda tem muito fôlego pra mostrar e parece que nem mesmo as mil formas de medo do título do disco vão impedi-la que continue a fazer sucesso. Mostrando a cara, ou não.
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Já acompanho Sia desde os tempos de Zero 7. E é muito legal vê-la colhendo os frutos de seu enorme talento.
Zero 7 contribuiu muito para minhas playlists pessoais. Todas as demais vocalistas (Tina Dico e Sohpie Barker) também trilham seus caminhos para o estrelato definitivo. E para quem tem talento e carisma a esbanjar isso é apenas uma questão de tempo.
Parabéns Sia.
Confesso que não sabia que ela tinha cantado no Zero 7. Valeu pela dica. Hora de reouvir a banda :