“Ô La Lá em casa”
por Martina Medina
– Tengo muitas canciones românticas – es así? -, canciones sobre el amor, e temas con nombres de comida – como me encanta la comida! Essa é “Salchipapa”, um prato típico de Peru hecho con patatas – ah, no, batatas – e salchicha (como es? sal-tchi-tcha?). Estranho… Generalmente, yo falo mucho en mis conciertos, explico todas las canciones, pero como no falo muito bien português…Bueno..
….Soñaba tanto ese amor, ser mermelada de algún pan con mantequilla…
De olhos fechados, a peruana La Lá se apresentou pela primeira vez no Brasil em um show intimista no Jazz B, numa terça-feira chuvosa (!) de agosto, no centro de São Paulo. A artista foi acompanhada por dois brasileiros xarás: André Calixto, no saxofone, e André Marchiori, seu namorado, na percussão. Mas fez falta um violonista, que, segundo ela, deixa os arranjos mais graciosos ou, em seu “portuñol do demônio”, “engraçados”.
– Verdad, me alertaron acá. Estava estranhando. Estava tocando los acordes de otra canción y cantando “Mango”…Yo no toco tan bien… En el CD “Rosa”, esta canción “Mango” é tocada por um exímio guitarrista.
– Olha como é tímida! Ela é muito tímida – comenta um homem na plateia minutos depois de ter disparado o flashe do iPhone contra o rótulo de um bom vinho que toma com a sua mulher.
La Lá tocou entre erros e acertos de acordes. Cantou baixinho, competindo com coqueteleiras barulhentas e ruidosas japonesas decidindo sobre o próximo hambúrguer. “Me pareció lindo tener la oportunidad de tocar en el Jazz B. Me dio miedo y me pareció difícil”, disse a cantora sobre a experiência.
… Estoy aburrido si no juegas conmigo. Deja… Deja…
La Lá criou sua primeira canção há dez anos quando ainda não sabia tocar “nada en ningún instrumento”. Diante de sacerdotes, alunos e professores, apresentou sua música na universidade jesuíta onde estudava Filosofia em Lima. Quando percebeu que a plateia reagiu bem, se entregou de vez à composição.
Desde então, seu processo criativo tem variado muito. Ás vezes aparecem letra e melodia separadas e, noutras, as duas emergem juntas. Sua forma de criar é, acima de tudo, espontânea e intuitiva, com influências “de todo lo vivido em general, musical y no musical”. ”Viene una melodía, aparecen unos acordes en un sucesión que me gusta y voy encontrando una forma para una nueva canción”, explica.
Seu primeiro e único disco, “Rosa”, lançado em fevereiro deste ano (ouça aqui) é um compilado de temas românticos, familiares e religiosos. O título representa as próprias contradições da artista. “Rosa es un nombre de mujer ridículo y hermoso; es una flor estereotipada y hermosa; es un color que se impone a las niñas y es un color hermoso; es una flor asociada la Virgen María; a Santa Rosa de Lima, una santa de mi país. Tiene muchos significados y no sñe bien por que lo escogí pero todas esas ideas flotaban en mi cabeza”, explica.
Colaboradora em uma revista peruana, ela ainda sonha em ter mais tempo para se dedicar à música. “Es un trabajo que necesita mucho tiempo: de composición, de práctica, de ensayo, de gestión, producción”, resume.
…Deshacerme y reír un salto largo. Por qué quiero ser sirena de la arena?
As canções dão vontade de fechar os olhos para ver as imagens – visuais e sonoras – propostas pela autora, que parece cantar e tocar como quem mergulha. Mas também sai do aquário:
– Soy muy nacionalista. Peru es mucho para mí. Pero cuando pienso en vivir en otra parte, pienso en Brasil. Por la música y por la comida. Me gusta mucho la comida de acá. Pienso como comendo, me lambuzando a boca toda e os dedos de chocolate. O DE AÇAÍ! Hmmm, com leche condensada y frutas. Es muy rico!
Na mesa da casa de shows, dividindo uma cerveja com a repórter e com a fotógrafa, lembrou de um clássico título da literatura latino-americana, “Sin Tetas No Hay Paraíso” (algo como “Sem Seios Não Há Paraíso”), uma série dramática da TV colombiana que conta a história de uma jovem aspirante à prostituta que faz de tudo para aumentar o tamanho dos seios para atrair o rei do narcotráfico. E foi quando o mamão caiu como uma luva.
– Si sin tetas no hay paraíso, entonces me compro dos papayas, pongo en el lugar de las tetas y listo!
Rimos da piada e a convidamos para ir à minha casa, a duas quadras dali, para continuar o papo e arranhar uns instrumentos. Uma parada para um cigarro na cracolândia e fomos os cinco mais um ilustre agregado: Daniel Gralha, do Bixiga 70, e primo de Marchiori.
Chegando, La Lá recusou o convite para um temaki caseiro – ok, sem mágoas, não dá mesmo para competir com a comida peruana -, que foi prontamente aceito por Gralha e Marchiori.
O saxofonista nem chegou a ouvir o convite porque estava deitado num canto do quarto depois de uma limpeza brutal com rapé oferecido pela fotógrafa, que também não fez outra coisa que não desmaiar no sexto andar, o mais próximo que poderia estar de la pachamama naquele momento. “Mira eso, sacales una foto, estan como niños durmiendo jajajaja”
– Que saquê é esse? – perguntou La Lá, parecendo ter encontrado o que faltava.
– Sei lá, o mais barato que encontrei no mercado da esquina. – respondi
– Que rico! Jajajaja. Eu gosto mesmo é de bebida barata! La cerveza que tomé en el bar también era la más barata! Son las más ricas!
Mergulhou em mais um gole e, sem tirar uma foto do rótulo de saquê barato para postar no Instagram, fechou os olhos para ouvir a sinestésica texana Jolie Holland que escorria das caixas de som.
Gimme that old fashion morphine
Gimme that old fashion morphine
Gimme that old fashion morphine
It’s good enough for me
– Martina Medina (Facebook) é jornalista. Fotos de Martina Medina (1, editada por Renata Martin, e 3) e de Renata Martin (foto 2)
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