por Marcelo Costa
A North Peak Brewery nasceu em 1997 em Traverse City, uma cidade de pouco mais de 15 mil habitantes às margens do Lago Michigan, nos Estados Unidos. A história da cervejaria começa quando representantes de três famílias (Carlson, Lobdell e Czaplicka) compram uma antiga fábrica de doces na cidade para abrigar uma nova cervejaria. Hoje em dia, a North Peak mantém no cardápio quase 20 cervejas com destaque para a série Grizzly Peak de cervejas extremas (que conta com a Hellion, uma IPA de 99 de IBU; Berserker, uma Imperial Stout de 10,2% de álcool; e Humongous, uma Red Ale). Com garrafas no formato de líquido de remédio e rótulos caprichados, a North Peak desembarca no Brasil com três cervejas (das quatro da linha tradicional – faltou apenas a Diabolical), que chegaram aqui muito próximas de seu vencimento, o que, no caso de IPAs, prejudica bastante o resultado. Ainda assim, vamos a elas.
A North Peak Wanderer é uma Session IPA que carrega no lúpulo e alivia no álcool (4.2%). A receita traz quatro lúpulos de plantações próximas à cervejaria (Perle, Willamette, Centennial and Citra) para amargor e dry-hopping de Citra. No aroma, notas cítricas suaves disputam espaço com o malte, fato que sofre influência da distância da fabricação (que também ocorre na Vicious): engarrafadas em 30/10/2013, a força aromática do lúpulo já perdeu bastante espaço para o melado do malte. Desta forma é possível perceber tanta maracujá e abacaxi quanto caramelo no aroma. Na boca, há doçura inicial de malte (caramelo) e amargor pontual de lúpulo (45 de IBU). Há sugestão de cítrica (abacaxi e laranja lima), herbal (pinho) e resina. O amargor (mesmo com um ano de guarda) é presente, mas não agressivo. O final é amargo, cítrico (abacaxi) e resinoso. No retrogosto, cítrico, caramelo e leve resina.
Por sua vez, a North Peak Vicious deseja ser, segundo o rótulo, uma American Wheat IPA, ou seja, uma IPA de trigo (os noruegueses da Lervig fizeram bonito com a White IPA deles) com uma receita que traz dry-hopping de lúpulos Cascade e Amarillo, amargor de Cascade, Perle e Willamette e doçura de malte Pale Ale, Crystal e… trigo malteado. De coloração âmbar caramelada e creme bege de boa formação e permanência, a North Peak Vicious destaca no aroma a força da lupulagem que despeja notas cítricas, florais e herbais em sequencia (como uma boa IPA USA). Há ainda percepção acentuada de caramelo, calda de pêssego, manga e forte resina. Na boca, melaço de malte sobre a língua e amargor assertivo (67 de IBU) na sequencia distribuindo notas herbais e acentuando a sensação de resina do conjunto. O final é amargo, encorpado e resinoso. No retrogosto, maracujá, resina e, em menor escala, caramelo.
Para fechar o trio, Siren, a American Amber Ale da North Peak, uma receita que une maltes Pale Crystal tostado e Carapils com cevada torrada e lúpulos Willamette (EUA) e Fuggle (Inglaterra). De coloração âmbar caramelada e creme bege de boa formação e média baixa permanência, a Siren exibe um aroma interessante que coloca o caramelo do malte em primeiro plano, mas também abre espaço para uma interessante sugestão herbal (pinho) e frutada (pêssego) dos lúpulos. Na boca, doçura caramelada de malte dá às boas vindas. O amargor subsequente surge de forma pontual e traz consigo traços herbais e leve sugestão de condimentação. O final é caramelado, e também levemente amargo e picante. No retrogosto, caramelo e leve amargor.
Balanço
Primeira de um trio do Michigan, a North Peak Wanderer é uma Session IPA simplória, que ainda sofre com a proximidade do vencimento: os lúpulos de aroma e amargor, essenciais para a receita, já estão no ponto mais baixo de sua força. O resultado é American IPA norte-americana que cada um dos 51 estados deve ter quatro ou cinco cervejarias fazendo. Mais do mesmo. Já North Peak Vicious (que também sofre por chegar aqui próxima ao vencimento) é uma IPA de trigo, mas esqueça o trigo (que dá uma encorpada na criança, mas fica em quarto, quinto plano) e uma provável aproximação com o estilo Wheat: o negócio aqui é amargor de lúpulo. Para quem gosta de American IPA, uma boa pedida. Para mim, uma decepção – principalmente depois da ótima Lervig White Ale. É possível tirar mais proveito dessa junção, mas o pessoal da North Peak preferiu ficar no primeiro degrau. Bora subir a escada sem olhar pra trás. Fechando o trio, a Siren, uma American Amber Ale que busca se aproximar o máximo que consegue do Reino Unido (até Fuggles eles usam), e o resultado é bastante agradável, a melhor do trio.
North Peak Wanderer
– Produto: Session IPA
– Nacionalidade: Estados Unidos
– Graduação alcoólica: 4,2%
– Nota: 2,91/5
– Preço pago em São Paulo: R$ 8,90 – 355 ml
North Peak Vicious
– Produto: American Wheat IPA
– Nacionalidade: Estados Unidos
– Graduação alcoólica: 6,7%
– Nota: 2,90/5
– Preço pago em São Paulo: R$ 8,90 – 355 ml
North Peak Siren
– Produto: Amber Ale
– Nacionalidade: Estados Unidos
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 2,95/5
– Preço pago em São Paulo: R$ 13,50 – 355 ml
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