por Marcelo Costa
No finzinho da página de entrada de seu site oficial (http://marceloperdido.com.br/), Marcelo Perdido avisa: “um cachorro pequeno, solo, mas não sozinho”. Após estrear com a banda Hidrocor no álbum “Edifício Bambi”, em 2012, Perdido vira uma nova página em sua carreira com o lançamento de seu primeiro disco solo, “Lenhador”, que conta com produção de João Erbetta (Los Piratas) e Felipe Parra (Hidrocor) mais uma porção de amigos participando ativamente do processo de gravação.
“Acho muito bom poder tomar todas as decisões agora, até porque continuo tocando e convivendo com amigos, agora até mais, pois sempre preciso chamar um ou outro diferente para fazer um show ou divulgação”, conta Marcelo Perdido por e-mail ao Scream & Yell. Entre os amigos que marcam presença estão Laura Lavieri (enchendo de candura com sua voz a melodia de “Sacolé”) e o guitarrista João Victor dos Santos (Bazar Pamplona), sem contar os produtores, que se desdobraram nos instrumentos.
De Los Angeles, João Erbetta gravou cavaquinho, guitarras, percussão, ukulele, glockenspiel, piano, mandolin (entre outros) e convocou o norte-americano Pete Curry para a bateria. Em São Paulo, Felipe Parra gravou violão, baixo, teclados e programações escudado por Paulo Chapolim (Ludov) na bateria. O resultado, segundo Marcelo Perdido, é um disco outonal, o primeiro de quatro álbuns que ele espera lançar nos próximos anos, “cada um representando uma estação do ano, que metaforicamente acompanham os meus momentos de vida”, explica.
Liberado para download gratuito em seu site, “Lenhador” é um disco repleto de climas e nuances buscando valorizar a inquietação de um compositor, que flagra a consciência de um lenhador na faixa título (“Lenhador, volte aqui / não dê ouvidos ao seu coração / veja a fila de árvores”), recomenda uma ida á Paquetá e tenta entender a chegada da idade adulta, que deixa amigos de infância e chinelos para trás enquanto “a luta não acaba depois de dormir / não acaba nunca” (“Vincent William e José”). Abaixo, três perguntas para Marcelo Perdido.
“Lenhador” é sua estreia solo: como é estar solo após ter uma banda? Muda o processo? É melhor, pior ou há tanto pontos negativos quanto positivos?
Eu já tive algumas bandas durante a adolescência, ai vim para São Paulo para fazer faculdade e não encontrava ninguém para tocar comigo. Tive de aprender a tocar violão para conseguir continuar a compor, foi o começo do processo de ser solo. Mas eu ainda não tinha percebido isso, achava importante ter uma banda, pois eu não tinha muita coragem de me apresentar sozinho. Dai formamos a Hidrocor, fizemos um disco e desmontamos a banda. A Hidrocor serviu muito para eu aprender o processo de produção musical, eu não sabia bem como rolava, então não sabia dirigir a coisa. Quando a banda acabou eu já me sentia maduro o suficiente para conseguir me apresentar como Marcelo Perdido, e o principal, conseguir me fazer entender para o Felipe Parra e o João Erbetta, os deixando produzirem meu disco de uma maneira que eles respeitassem o que eu estava querendo e sentido. Acho muito bom poder tomar todas as decisões agora, até porque continuo tocando e convivendo com amigos, agora até mais, pois sempre preciso chamar um ou outro diferente para fazer um show ou divulgação, o único ponto “negativo” é que as opiniões das pessoas e das criticas às vezes fogem da música e focam na sua pessoa, mas por outro lado quando isso acontece na mesma proporção que o carinho acaba valendo a pena.
Como foi o processo do “Lenhador”? Eram canções que você já tinha ou tudo surgiu para você pensando no álbum?
Eu pensei esse disco como disco mesmo. Tenho uma ideia de uma apresentação da minha carreira solo um pouco mais longa, não para nesse disco inicial. Meu projeto é fazer quatro discos, cada um representando uma estação do ano, que metaforicamente acompanham os meus momentos de vida. Quando escrevi as músicas do “Lenhador”, eu tinha essa sensação outonal, de transição mesmo. A Hidrocor era algo ensolarado, eu não me sentia mais assim, como ainda não me sinto. O próximo disco que já está praticamente todo escrito (devo entrar em estúdio no começo do próximo ano) é um disco mais introspectivo ainda, frio, duro e difícil, como o inverno. A minha mulher me acha meio maluco por pensar assim, em me apresentar em quatro discos, em pesar ao longo prazo, mas a minha música é uma pesquisa pessoal, uma maneira de organizar o que eu penso e sinto, e isso leva tempo. Não acho que todo mundo vai sacar ou “acompanhar” isso, talvez as pessoas até achem que os discos funcionam sozinhos, mas respondendo objetivamente a pergunta: cada disco será pensando como disco, compondo em cima do norte da sensação que cada estação me traz.
Desde o Hidrocor que é perceptível sua aproximação com videoclipes. Quantos clipes já saíram do “Lenhador”? Como é para você pensar a música como imagens?
Quando eu decidi que lançaria o disco, eu queria romper com algumas coisas que acho que acabei perdendo a mão na Hidrocor, uma delas foi o videoclipe como ferramenta de divulgação. Na Hidrocor o clipe de “Ma Cherie” passou dos 100k views, só que isso não impactava em nada nos shows nem em “fãs” da banda. Para esse disco eu decidi que não faria “clipes” tradicionais, queria fazer um vídeo para cada música, mas vídeos que fugissem da estética imposta pelas câmeras fotográficas que filmam, aqueles clipes que mais se parecem com um exercício de fotografia do que uma maneira de reinterpretar a música. Para isso busquei na minha memória afetiva o momento dos VHS, que foi na linha do tempo do audiovisual, o momento da verdadeira popularização do vídeo, os amadores podiam fazer seus próprios filmes, famílias podiam registrar seus momentos. Então até o final do trabalho de divulgação de “Lenhador”, espero ter um vídeo para cada música, que não serão exatamente clipes, já tenho lançados 5 ou 6 até agora 🙂
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne. A foto que abre o texto é de Leonardo Mascaro.
Três perguntas para:
– Juliana R: “Projetos de versões me ajudaram a crescer enquanto intérprete? (aqui)
– Fernando Rosa: “O conceito básico do festival El Mapa de Todos é trazer novidades” (aqui)
– Selton: “Não sabemos dizer exatamente para onde vai o nosso som? (aqui)
– Nevilton: “Ficamos muito felizes com a boa recepção do “Sacode!”? (aqui)
– Gustavo Galo: “Apesar do disco levar o meu nome, “ASA” é coletivo? (aqui)
– Erika Martins: “Modinhas” é uma volta as minhas origens portuguesas (aqui)
– Will Prestes: “O WAHGEE nasceu móvel e completo? (aqui)
– Jair Naves: “Dessa vez quero tentar algo diferente? (aqui)
– Giallos: “Não precisa baixar as calças pra fazer um disco” (aqui)
– The Baggios: “Se você ouvir nossas musicas irá notar Alceu, Raul Seixas…” (aqui)
Não tem muito a ver com a entrevista, mas vai de desabafo. Não da pra entender pq é tão dificil pra um artista indie conseguir levar 100 pessoas para um show enquanto qualquer carro com som alto estacionado na esquina de uma maloca consegue aglomerar o mesmo tanto rapidinho.
Eu moro na favela, pra eu ir aos shows que eu gosto gasto 1h30 a 2h de transporte público, mas mesmo assim faço questão de comparecer para apoiar o artista. Eu fui no show da Hidrocor e do Bona Fortuna na praça Victor Civita, era grátis, num lugar da hora, localizado em um região onde em regra residem os apreciadores de música indie (pinheiros, vila madalena e afins), show com mais outras bandas e, tirando as próprias bandas e seus amigos, acho que não tinha nem 30 pessoas que foram pra assistir os shows. Da raiva.
Mesma coisa um show do Charme Chulo que fui em 2013 ali na praça da república, uma puta banda com uma puta história e tinha 10 pessoas assistindo.
Tinha que ter um reportagem do Globo Reporter pra saber como que artista (tirando os que vivem de editais) conseguem sobreviver.
Tentando responder ao Christian aí em cima como esses artistas indies sem público sobrevivem:
1- Já tem grana suficiente para viver e a música é um hobbie para satisfazer o ego.
2- Através de boas críticas da imprensa “especializada” e da participações de artistas “cool” (fazer parte de uma panela ajuda) nas gravações o artista consegue entrar no circuito SESC e no circuito de editais ( Virada cultural, Virada Paulista, Circuito Paulista, etc) que pagam muito bem e não exigem que o artista tenha um grande público.
3 – Produzem sua obra, mas devido ao baixo retorno não sobrevivem e depois de um tempo vão para outras atividades que remunerem o suficiente para pagar as contas.
4 – Um ou outro se destaca mais e aí conseguem criar um público suficiente para se manter sem as “curadorias e editais”.
Detalhe, vi a foto desse Marcelo Perdido e achei que era o Amarante. Até quando as bandas/artistas da nossa geração vão continuar na sombra estética/sonora do Hermanos?