por Leonardo Vinhas
Fernando Rosa é um homem dedicado a uma das causas mais dignas que se possa conceber: seja à frente do site e selo Senhor F ou capitaneando a organização do festival El Mapa de Todos (evento que une bandas de toda a América Latina para shows em território brasileiro), sua missão auto-imposta é levar música de qualidade a quem estiver interessado, da maneira mais acessível possível.
O El Mapa de Todos começou em Brasília em 2010, e no ano seguinte se mudou para Porto Alegre. Suas edições anteriores trouxeram ao Brasil nomes estrelados (Babasónicos, El Cuarteto de Nos, La Vela Puerca), cultuados (El Mató a Un Policia Motorizado, Los Mentas, Turbopótamos, Javiera Mena) e surpresas (Juan Cirerol, Esteban Copete y Su Kinteto Pacífico, Bareto) de países vizinhos, além de notáveis presenças made in Brazil.
Como o evento vem ganhando mais público a cada ano, Fernando se sentiu confiante para ampliar a proposta em 2014, aumentando o número de dias e de locais em que o festival se realizará – mais uma prova de que o El Mapa de Todos já é um evento fundamental para o calendário cultural brasileiro e latino-americano, pelo menos no cenário independente (não são poucos os produtores estrangeiros que compareceram nos anos passados).
Na entrevista a seguir, o produtor comenta as mudanças e dá argumentos para justificar sua crença de que 2014 será o melhor ano do El Mapa de Todos.
Esta edição terá cinco dias em vez de três, os shows acontecerão em mais de um lugar e finalmente o festival se encerrará num fim de semana – uma briga antiga sua (nos anos anteriores, ele se encerrava na quinta-feira). O que representa essa ampliação?
Sim, o festival cresceu neste aspecto, incorporando alguns dos espaços mais importantes da história cultural de Porto Alegre. Isso é um avanço importante, pois democratiza o acesso ao festival, adequando a relação artista-espaço-público. O Opinião é um espaço clássico de Porto Alegre, palco de grandes shows ao longo de seus 30 anos. Nele, continuamos com dois dias do festival, com cinco shows por noite, incluindo os artistas e bandas com sonoridades mais potentes, como os colombianos Bomba Estéreo. O Teatro São Pedro é o palco ideal para apresentar o uruguaio Daniel Viglietti, com um show baseado em voz & violão, para um perfil de público mais maduro. O Teatro Bruno Kiefer, por sua vez, dentro da Casa de Cultura Mário Quintana, um centro de agitação cultural, é apropriado para os novos artistas, como Boogarins. Ainda temos o palco do Ocidente, onde lançaremos o festival e ocorrerá o Sarau Elétrico Latino-americano, com shows acústicos. Ao mesmo tempo, levamos o festival para o final de semana, o que permite a presença de um público da região metropolitana, do interior e de outros estados. De fato, em nossa quinta edição, com patrocínio da Petrobras, acreditamos que estamos dando um passo importante para transformar o festival El Mapa de Todos em um evento de Porto Alegre.
Nos anos anteriores, sempre houve um – ou mais de um – nome gaúcho como headliner. Por que neste ano não temos nenhum?
Atendendo demanda de boa parte do público que frequenta o festival, resolvemos ampliar a aposta em headliners nacionais e latinos. Isso já vinha acontecendo desde a primeira edição, com a presença de um artista latino e/ou nacional fechando uma ou duas noites do festival. Os artistas locais apresentam-se com regularidade na cidade, muitos deles mais de uma vez por ano, o que em parte tira o atrativo para um público de festival. Por outro lado, a lógica tradicional do headliner, do ponto de vista do conhecimento por parte do público, não se aplica rigidamente ao El Mapa de Todos. Na verdade, já experimentamos todas as formas de escalação, incluindo ter dois headliners por noite, em terceiro e quinto shows, por exemplo. Neste ano, temos noites com um show no Ocidente, e outra com dois shows, no caso do Teatro São Pedro, com Daniel Viglietti e Luiz Marenco. No Opinião, teremos o Bomba Estéreo e mundo livre s/a, secundados por dois artistas que poderiam ser os headliners, o uruguaio Buenos Muchachos e a chilena Camila Moreno. Ao mesmo tempo, temos um grupo novato, como o Boogarins, fechando um dos dias. A rigor, a maioria dos artistas e dos grupos apresentam shows que podem superar-se, independente da posição no lineup.
De todas as edições, esta é provavelmente a que menos apresenta nomes de apelo público. E também há muitos artistas com uma proposta intimista. Quais foram os critérios para a escolha do lineup deste ano?
Ao contrário, é a edição que traz nomes mais fortes, especialmente latinos, como a internacional Bomba Estéreo, o histórico Daniel Viglietti, e Camila Moreno, também nome de destaque além das fronteiras do Chile. Por outro lado, mundo livre s/a é um dos nomes nacionais com grande público no Sul, Boogarins é atual destaque junto ao público mais jovem e Luiz Marenco é ídolo da música regional do estado. Ainda vale citar os uruguaios Buenos Muchachos, um dos grupos mais importantes do Uruguai, com ascendência sobre a colônia uruguaia no Rio Grande do Sul. Acredito que os artistas intimistas continuam com o mesmo espaço dos festivais anteriores, talvez apenas com locais mais adequados para as suas apresentações. Nesta edição, o festival acentuou a diversidade musical, incluindo cumbia psicodélica, ritmos regionais e música pampeana, mantendo o rock como fio condutor das escolhas. Os critérios de curadoria são variados, pautando-se por estabelecer um mosaico musical capaz de resgatar a história, apresentar nomes fundamentais, mesmo que pouco conhecidos entre nós, e promover novos artistas nacionais e latinos. O conceito básico do festival El Mapa de Todos é trazer novidades, surpreender o público e difundir a melhor música latina.
– Leonardo Vinhas (@leovinhas) assina a seção Conexão Latina (aqui) no Scream & Yell
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