A jornalista Renata Souza, do Acesso Cultural, para uma pauta sobre a criação musical na era tecnológica. Leia o texto da Renata aqui. Abaixo minhas respostas…
Como começou seu envolvimento com a música? E atualmente? Fale um pouco do seu trabalho e um pouco do Scream e Yell.
Meu pai tinha uma vasta coleção de vinis nos anos 70, e eu sempre olhei aquilo com admiração. Hoje tenho mais de 10 mil discos (entre CDs e vinis e boxes) em casa, então acho que o envolvimento começou em casa. Para virar profissão eu precisei sair de Taubaté e vir trabalhar em São Paulo, e ainda assim demorou até eu migrar para a área de cultura, e enquanto isso não acontecia eu abastecia meu próprio site com aquilo que eu gostaria de ver nos grandes veículos. Este site, o Scream & Yell, existe desde 2000, e digamos que já passou da hora de descansar, mas vício é vício e a gente segue carregando ele até onde acha que consegue (pode ser semana que vem, pode ser em 2020, vá saber). Além dele escrevo sobre música e cultura para alguns veículos e, neste ano, assumi a curadoria do projeto Prata da Casa, do Sesc Pompéia, um sonho realizado que termina agora em dezembro (os sonhos bons duram pouco)
Quais as suas principais influencias musicais?
Não sei se tenho influências musicais, mas gostos de ideais passados pela música: nesse quesito, admiro muito o movimento punk e o DIY. Se fossem influências jornalísticas a lista seria imensa começando com Ana Maria Bahiana e André Forastieri e terminando na molecada que está escrevendo agora sobre música, e sempre surge com alguma boa ideia nova. Não dá para parar no tempo.
No cenário atual, quais bandas você indicaria como promissoras?
The Baggios, Molho Negro, Nevilton, Bruno Souto, Transmissor… a lista é enorme e o problema não é falta de bandas promissoras, mas de pessoas (e veículos) que as valorizem. A boa música está cada vez mais ampla no Brasil, e as pessoas precisam apenas descobrir isso.
Em sua opinião, qual a coisa mais legal na cena independente paulistana e o pior obstáculo?
A oportunidade de trocar ideias com músicos de diversos Estados: São Paulo está virando um nicho interessante que anda abrigando muitos nomes geniais da nova música, e essa turma toda aqui em São Paulo pode fazer coisas muito bacanas (e, claro, passar dificuldades: São Paulo não facilita). O pior obstáculo são a falta de bons espaços para as bandas se apresentarem e público interessado em conhecer o novo. A galera tá mais interessada em azaração em forró e barzinho de cover da Vila Madalena e da 13 de maio do que ouvir coisas instigantes. É uma pena.
O que você acha dos programas atuais de competição de bandas (Superstar, por exemplo)? E dos programas de auditório, como Raul Gil?
É um espaço na TV que precisa ser tomado, mas a curadoria, o corpo de jurados, tudo isso mais prejudica o artista do que ajuda. A sensação é de que todo mundo está a espera de uma piada, e não de uma boa canção.
A maioria dos críticos musicais atuais falam sobre um declínio na qualidade do cenário musical atual, principalmente do Rock e, principalmente, após os anos 90. Você concorda que falta qualidade, embora exista a internet que facilita o “nascimento” de novas bandas?
Discordo completamente. Quem fala isso é pai de família que não sai de casa para ver shows ou fica na redação até tarde fechando caderno acreditando que a gravadora vá enviar para ele o CD da próxima grande banda. Quem quer descobrir a qualidade do cenário tem que ir atrás das bandas.
Qual a importância da internet para a divulgação de bandas independentes?
Hoje em dia é vital. Fiz essa pergunta para cinco artistas que colocaram seus discos para download gratuito e todos eles, com veemência, disseram que o download os ajuda não só a vender shows, mas também a vender discos. A internet ajuda muito!
Até que ponto, em sua opinião, a imagem (visual de uma banda) é importante, além da qualidade musica.
Como diria aquela propaganda de refrigerante, “imagem não é nada, sede é tudo”. De nada adianta ter uma imagem e não ter grandes músicas. No mundo atual, é mais importante ser sincero do que ser “arrumadinho”. Até porque o marketing irá vender essa sinceridade. As camisas de flanela do Nirvana são prova disso.