por Bruno Lisboa
Imagina que você tem na discografia discos idolatrados (em maior e menor grau) como “Surfer Rosa” (1988), “Doolittle” (1989), “Bossanova” (1990) e “Trompe le Monde” (1991), que sua banda, bastante elogiada pela crítica (e por outros artistas), nunca foi um grande sucesso de público, e depois de se separar melancolicamente após sete anos de dedicação rock and roll (1986/1993) volta a se reunir 11 anos depois (2004). A questão: vale a pena lançar material novo que se constantemente confrontado com o material antigo? O Pixies responde essa questão com “Indie Cindy” (2014), seu primeiro disco em 23 anos.
O caminho já vinho sendo pavimentado. “Bam Thwok”, a primeira (boa) música da volta do Pixies, saiu em 2004 (e ficou fora do “novo” disco), e demorou mais nove anos para que o grupo colocasse outra inédita na praça: “Bagboy”, de 2013, abriu caminho para “Indie Cindy”, que, na verdade, é uma compilação dos três EPs digitais lançada pelo grupo de Black Francis em setembro de 2013 (“EP 1”), janeiro de 2014 (“EP 2”) e março de 2014 (“EP 3”), todos os trabalhos produzidos por Gil Norton (responsável por “Doolittle”, “Bossanova” e “Trompe le Monde”) em 2012.
Uma das primeiras questões suscitadas pelo lançamento é quanto mudou o mundo (e a música pop) entre 1991 e 2014? De fato, as diferenças entre a década de 90 e o mundo atual são enormes. A tal cena alternativa não está mais no mainstream, o mercado fonográfico (antes uma mina de ouro) segue oscilante buscando fórmulas de sobrevivência e o público consumidor está reduzido a um número cada vez menor. Desta maneira caberia ao Pixies encontrar formas de se reinventar para fins de sobrevivência, e a divisão inicial em três EPs (caprichados) parece ser uma busca por novas alternativas comerciais.
Como álbum de inéditas, “Indie Cindy” dá uma repaginada na carreira do Pixies. Outrora uma banda que primava por uma sonoridade de guitarras estridentes, sujas e vocais gritados, no novo milênio ela surge com uma linguagem muito mais branda e próxima ao pop. Antigos fãs podem até não aprovar, mas uma série de fatores colaboram para esta nova roupagem. A começar pelo fator tempo: era de se esperar que um dia a voz de Frank Black iria se reduzir e migrar para um tom mais moderado em contraponto ao tom urgente do passado – embora ao vivo ele continue berrando dignamente.
Somado a isso é preciso lembrar que a indústria fonográfica almeja um produto que seja vendável e palatável para a maioria, algo que o Pixies negou com veemência no passado, e que acena com delicadeza no novo disco. Mas não se engane: a banda não virou algo genérico e dispensável. “Indie Cindy”, salvo as devidas proporções, mantêm a qualidade da era de ouro. A começar pela produção do veterano e exigente Gil Norton, que lapida com destreza toda a sonoridade criada pelo trio original – acrescidos do baixista Simon “Dingo” Archer.
Composto de 12 faixas, o disco vai ao encontro do peso de tempos passados como é perceptível no cartão de visitas “What Goes Boom”, no proto rap “Bagboy”, na ótima “Magdalena” e em “Blue Eyed Hexe”. Por outro lado, há espaço para canções melodiosas e pegajosas como “Another Toe in the Ocean”, “Greens and Blues” e a faixa título, que expõem uma nova identidade que predomina neste trabalho. A saída de Kim Deal, em definitivo, hoje substituída por Paz Lenchantin ao vivo, é lamentada devido ao seu carisma, mas não sentida.
Se o Pixies do anos 2000 irá agradar velhos fãs e/ou conquistar novos ainda é impreciso dizer, mas a aposta tem dado certo, pois o álbum (que além da versão normal, simples, também foi lançado em versão deluxe com um segundo CD trazendo 13 canções ao vivo da turnê de 2014) debutou na 23ª posição na parada da Billboard, melhor posição alcançada em toda a carreira da banda. De certo apenas o fato de que a versão atualizada deste autêntico patrimônio musical é deveras agradável. Fator este que comprova: mesmo após inúmeros problemas e mudanças, a banda ainda tem lenha para queimar e segue relevante no cenário atual.
– Bruno Lisboa (@brunorplisboa) é redator e colunista do pignes.com
Inicialmente torci o nariz para as músicas novas (a única que me fisgou de imediato foi “Bagboy”), mas com o tempo reconheci a qualidade de “What Goes Boom”, “Indie Cindy” e “Magdalena 318”. “Blue Eyed Hexe”, “Greens and Blues” e “Another Toe In The Ocean” também são boas.
Ao vivo, no Lollapalooza, as músicas funcionaram bem, mesmo as mais lentas e melódicas.
Pode não ser uma obra-prima como “Surfer Rosa” ou “Doolittle”, mas é um disco bom, honesto. Pretendo comprá-lo.
É quase um disco solo do Black Francis, para o bem e para o mal.
Concordo e assino embaixo. Finalmente eu li uma crítica coerente com o atual estado da banda. Eu gostei bastante do Indie Cindy, no geral é um bom disco (é até mais do que podíamos esperar da volta de uma banda após tanto tempo). Minhas preferidas de todo o disco são “Indie Cindy” e “Silver Snail”. Acho um saco esse papo de que a banda se vendeu, está pop, etc.
É bastante difícil opinar sobre isso nesse lance de comparação com os discos da “primeira fase”. Mas achei um disco bem bacana e quanto ao lance de acenar para o comercial creio que não é de agora, se é que podemos chamar isso de aceno, mas em Suffer Rosa tinha Where is My Mind e Gigantic, Doolittle tinha Here Comes Your Man, La La Love You e Hey e no Trompe Le Monde acho que nenhuma se encaixa nesses lance, mas que sempre tiveram uma baladinha ou como dizem por aqui música de trabalho em seus discos isso é inegável, mas sempre foram belas canções.