por Marcelo Costa
Após a Chimay liberar para comercialização sua versão estritamente feita para os monges da abadia (Chimay La Dorée Gold), agora é a vez da Westmalle seguir o exemplo e colocar sua Extra nas gondolas (outra trapista, a Westvleteren, também tem uma receita para os monges, a Westvleteren 6), uma Blond Ale de coloração amarelo palha, creme branco de boa formação e média permanência com 4.8% de álcool. No nariz, muita proximidade com a La Dorée Gold: notas cítricas deliciosas (lima e casca de laranja) aproximam esta Belgian Ale de uma Witibier, mas há também especiarias (semente de cravo e coentro) e leves notas florais. O paladar destaca em primeiro plano a acidez característica da levedura belga (numa picância que também remete a condimentação) e, na sequencia, notas frutadas cítricas que logo são banhadas por amargor moderado. Há trigo, sugestão de maçã verde e lima no conjunto, que destaca a alta carbonatação riscando o céu da boca. O final traz amargor rápido e secura refrescante. No retrogosto, lima, suave adstringência e condimentação. Bela.
A próxima cerveja é produzida na De Proefbrouwerij em Lochristi, cidade próxima de Gent, pela Brouwerij Van Viven (a De Proefbrouwerij aluga maquinário para Mikkeller, 3 Fonteinen, Omnipollo, To Øl e dezenas de outras cervejarias). Conhecida como Smoked Porter nos Estados Unidos, a Viven Porter foi lançada em 2010 e segue, segundo o rótulo, a arte flamenga de fazer cervejas. De coloração preta e creme bege de boa formação e média permanência, a Viven Porter exibe o aroma característico do estilo, com notas intensamente derivadas da torra do malte (café, café e… café além de chocolate amargo). Há leve sugestão de fumaça e madeira. Na boca, uma bela representante do estilo com entrada adocicada e rápida percepção do malte torrado (o que já influencia a sugestão de amargor posterior) e nada dos 7% de álcool. O conjunto agradabilíssimo reforça o aroma com sugestões de café (bem à frente), chocolate amargo e frutas escuras. O final, tradicionalíssimo, é um encanto: amargor de torra, café e chocolate amargo. No retrogosto, café e chocolate amargo. Delícia.
Fechando o trio, a Deuce (Demônio em inglês) não é uma versão inglesa da Duvel (Demônio em flamengo), mesmo que garrafa, tipologia, nome, estilo e graduação alcoólica sejam semelhantes (coincidência?). Produzida pela Brouwerij Roman (responsável pela excelente Ename), de Oudenaarde, também perto de Gent, a pedido de Xavier Depuydt, belga radicado no Rio de Janeiro desde 1996, a Deuce é um Belgian Strong Golden Ale de coloração dourada e creme branco de alta formação e média alta permanência. No nariz, notas cítricas saltam à frente (lima, limão e casca de laranja) trazendo consigo condimentação derivada da levedura, mel e álcool (assim como a Duvel são 8.5%). Na boca, sensação cítrica no primeiro toque, amargor forte na sequencia (turbinado pelo álcool, que risca o céu da boca) abrindo caminho para um conjunto equilibrado que valoriza malte (caramelo e mel delicados), lúpulos (puxado para cítrico) e levedura (condimentação). O final traz (como a Duvel) secura, frutado cítrico mais leve toque de mel. No retrogosto, alegria. É uma cópia da Duvel, mas uma bela cópia.
Balanço
Ando bastante interessado pelas Belgian Ales trapistas feitas para consumo dos padres em mosteiros e, sabendo disso, o amigo Leonardo Dias tratou de trazer uma Westmalle Extra comprada em sua última passagem pela Bélgica. Assim como a Chimay La Dorée Gold, ela era exclusiva do mosteiro (e de seu hotel), mas agora começa a ganhar distribuição. Gosto do estilo porque são um meio do caminho interessante entre uma witbier e uma blond tradicional. Em comparação, porém, a Chimay sai na frente (empatada com a Westvleteren), muito porque o bouquet destas duas se sobressai (e bastante) ao da Westmalle Extra, que, ainda assim, é uma baita cerveja, perfeita para dias quentes. Já a Viven Porter foi uma imensa surpresa, algo que, após descobrir a procedência, De Proefbrouwerij (algo como a Cervejarias Curitiba na Bélgica, guardadas as devidas proporções), se confirmou com uma grande cerveja, de caráter tradicionalista, mas absolutamente excelente. Uma Porter de primeiro escalão. Já a Deuce, por mais que tentem negar, soa exatamente uma cópia da Duvel, mas uma cópia honesta, com assinatura da boa Brouwerij Roman. À primeira vista, ela perde no bouquet pra Duvel, mas vale até um teste cego porque o negócio é milimétrico. Aposta interessante.
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Westmalle Extra
– Produto: Blond Ale
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 4,8%
– Nota: 3,82/5
– Preço pago: 3 euros – 330 ml
Viven Porter
– Produto: Porter
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 7%
– Nota: 3,84/5
– Preço pago: R$ 14 – 330 ml
Deuce
– Produto: Strong Golden Ale
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 8,5%
– Nota: 3,34/5
– Preço pago: R$ 9 – 330 ml
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