Texto por Bruno Lisboa
Fotos de Mateus Santos
Realizado há 13 anos na capital mineira, o Festival Conexão é um dos maiores exemplos de resistência cultural na cidade. Se por um lado vive-se um tempo onde se discutem quais rumos devem ser seguidos neste oscilante mercado da música, por outro, a qualidade do cenário segue excelente com um bom número de artistas que merecem exposição.
Após a reduzida edição de transição do Festival Conexão no ano passado, realizada basicamente sem patrocínio, para 2014 os produtores conseguiram apoio via lei de incentivo e expandiram o festival para diversos cantos da cidade: Mercado das Borboletas, Sesc Palladium, Mercado do Cruzeiro, Casa do Jornalista e a estação São Gabriel do BRT Move.
Mantendo a tradição das edições anteriores, a produção destinou ao Parque Municipal grande parte do line up que fora dividido inicialmente em três dias (3, 4, 5 de julho) e três palcos. Mas, devido ao luto oficial decretado pela Prefeitura após a tragédia causada pela queda de um viaduto, as apresentações agendadas para o dia 4 foram transferidas para o dia 6.
O balanço do festival foi extremamente positivo (mais uma vez) e é preciso vangloriar a iniciativa dos produtores do Conexão, que conseguiram trazer para Belo Horizonte uma infinidade de trabalhos relevantes. O desejo de vida longa ao festival se renova a cada edição e esta, em especial, ficará na memória do público.
Dia 03 de julho
Iniciando os trabalhos do primeiro dia, Otto protagonizou uma das melhores apresentações desta edição do Conexão. Visivelmente embriagado, alcoolicamente e energicamente, o cantor pernambucano agiu como o figurino de suas apresentações pedem: dançou freneticamente no palco e interagiu com o público indo ao seu encontro e entregando o seu corpo à multidão feminina sedenta. O repertório girou em torno de seus dois últimos discos (“Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos”, 2009, e “The Moon”, de 2011) e resgatou a pérola “Ciranda de Maluco”, um dos pontos altos da noite. O final apoteótico com “Seis Minutos” corou a apresentação.
Na sequência, a paraense Juiliana Sinimbú, aposta do selo Natura Musical, trouxe à tona toda a herança da nova e efervescente cena local. Apresentando-se para um público reduzido, a cantora privilegiou o repertório de disco de estreia, “Una” (2014), numa apresentação correta, mas que não funcionou para o evento. Para fechar a primeira noite, Renato Godá debutou em palcos mineiros. Apostando no repertório de seu primeiro álbum, “Canções Para Embalar Marujos” (2014), o cantor acabou encontrando um público conhecedor de seu trabalho, que cantava à plenos pulmões suas canções românticas, canastras, em ode à amores vãos. A participação discreta de Javier Maldonado, cantor argentino, colocou ponto final em uma apresentação enérgica e sedutora.
Dia 05 de julho
Coube aos mineiros do Cabezas Flutuantes iniciar o segundo dia de festival, no sábado. O estranhamento ante a disparidade de instrumentos mal equalizados em sonoridades múltiplas perdurou atestando que a banda tem grandes ideias, mesclando influências do indie rock à MPB, mas que ainda precisam ser lapidadas para o palco. Já os paulistanos da Trupe Chá de Boldo deram o ar da graça numa apresentação divertidíssima. O combo formado por 11 músicos trouxe toda a bagagem sonora de seus ótimos discos, “Nave Manhã” (2012) e “Bárbaro” (2010), e aproveitou o ensejo para tocar duas canções novas, a hilária “Diacho” e também “Amores Vão”, que farão parte do novo álbum a ser lançado ainda esse ano.
Quase ao mesmo tempo em que a Trupe atraia grande parte do público presente, Pélico iniciava a sua apresentação no Palco Coreto privilegiando o repertório de seu mais famoso disco, o tristonho “Que Isso Fique Entre Nós” (2011), sem esquecer faixas de seu debute, “O Último Dia de Um Homem Sem Juízo” (2008). Para o fim, a inusitada cover de “Você Não Entende Nada”, hit de Caetano Veloso, fechou a apresentação em alta. Enquanto isso, no Palco Conexão, o duo paraense Strobo unia música regional, groove funk setentista e batidas eletrônicas surpreendendo positivamente. Fechando a noite, os baianos da Escola Pública mostrando influencias de Tom Zé e ganharam o público ao eletrificar o samba em canções de cunho social, que abordam temas do cotidiano.
Dia 06 de julho
Para o dia de encerramento da edição 2014 do Conexão, Jennifer Souza, integrante do Transmissor, trouxe todo o caráter intimista de seu “Impossível Breve” (2013) para o festival. Contando com uma exímia banda de apoio, Jennifer apresentou quase que na íntegra seu elogiado disco solo além da inédita “Ensemble Malgre? La Distance”, faixa que deverá estar presente em seu próximo álbum solo. Sua voz, que ganha beleza ainda maior ao vivo, consegue transmitir de forma fidedigna toda a atmosfera criada em estúdio resultando numa das melhores apresentações do evento.
Na sequencia, os cuiabanos da Vanguart voltaram à BH pela segunda vez com a turnê “Muito Mais Que o Amor” (2013) e é visível como o repertório do disco cresceu no palco. Cada vez mais entrosados, o Vanguart tocou basicamente todo o recente trabalho mesclando com hits como “Cachaça” e “Mi Vida Eres Tu” além de canções inesperadas como “Das Lágrimas”, presente no segundo álbum “Boa Parte De Mim Vai Embora”. Percebesse também uma maior presença da violinista Fernanda Kostchak, que interage ainda mais com seus colegas de banda e se arrisca no teclado. Em performance elétrica, O Vanguart correspondeu as expectativas do público ensandecido encerrando o evento com chave de ouro.
– Bruno Lisboa (@brunorplisboa) é redator e colunista do pignes.com
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