por Adriano Costa
Quem acompanha quadrinhos de modo geral, principalmente as aventuras de heróis e vilões mais antigos, vez ou outra se depara com algum tipo de viagem no tempo. Na Marvel então, isso é bem frequente. Quarteto Fantástico, Vingadores e X-Men são alguns dos grupos que já utilizaram este expediente em suas peripécias. Isso sem muita dosagem, o que gerou resultados positivos e alguns pequenos desastres e constrangimentos pelo meio do caminho.
“X-Men: Dias de um Futuro Esquecido” (X Men: Days of Future Past, 2014) é o novo longa da franquia e utiliza o mesmo estratagema de viagem no tempo para contar sua história. Novamente com o diretor Bryan Singer na regência (ele havia dirigido os dois primeiros filmes da trilogia anterior em 2000 e 2003) e sendo o trabalho subsequente ao bom “X-Men: Primeira Classe” de 2011, comandado por Matthew Vaughn, o roteiro utiliza as duas “turmas”, por assim dizer, dos mutantes, fazendo o elo entre a trilogia inicial e a nova.
O ponto de partida da nova película é uma realidade caótica repleta de desesperança onde os Sentinelas (máquinas criadas para caçar mutantes) mudaram sua programação e passaram também a atacar pessoas comuns deixando a humanidade de joelhos. Como se fosse uma última frente de batalha, os X-Men ainda resistem em um pequeno grupo que, além de Charles Xavier (Patrick Stewart) e Magneto (Ian McKellen), conta com Wolverine (Hugh Jackman), Blink (Bingbing Fan), Colossus (Daniel Cudmore) e Bishop (Omar Sy), entre outros.
Vendo a resistência prestes a desabar, um plano é montado a partir de uma tensa e angustiante reunião. Identifica-se que no passado, mais precisamente em 1973, quando Mística (Jennifer Lawrence) mata o idealizador do projeto Sentinela, Bolívar Trask (Peter Dinklage), é que o atual cenário tem princípio. E a ideia é mandar alguém para esta época com o intuito básico de impedir o assassinato. O escolhido, devido ao fator de cura, é Wolverine, que assim tem sua consciência transportada para o seu eu muitos anos mais novo.
Lá no passado, Wolverine precisa primeiro juntar os jovens Xavier (James McAvoy) e Magneto (Michael Fassbender), quando os dois eram inimigos fatais, uma tarefa nada fácil. Contando com a ajuda do Fera (Nicholas Hoult) e do garoto Mercúrio (Evan Peters), Wolverine ruma para a missão. Com o cenário montado, o filme parte para o campo da ação, das brigas ideológicas e da pressão psicológica. E o diretor Bryan Singer (que patinou depois de sair da franquia), amarra de maneira consistente todos esses lados, mesmo com algumas decisões ruins no roteiro.
A liberdade criativa de “X-Men: Primeira Classe”, que rendeu bons resultados, aqui causa uma porção de confusões. Não se sabe como Kitty Pryde conseguiu mandar Wolverine ao passado, ou porque Mercúrio aparece tão alegre, já que ele sempre foi tão amargurado nos quadrinhos (ao menos deixaram a arrogância), só para citar dois exemplos. A decisão de mostrar também vários personagens da primeira trilogia em participações especiais agrada a primeira vista, mas se analisada friamente não tem necessidade de existir. Isso sem contar que falta ação para os Sentinelas (em especial os clássicos).
“X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido”, contudo, é aquele tipo de trabalho que consegue acertar mais do que errar, mantendo assim a franquia em cima dos trilhos. Mesmo com Hugh Jackman aparecendo com destaque nos cartazes, são Jennifer Lawrence, James McAvoy, Michael Fassbender e Peter Dinklage que aparecem com proeminência na trama. Bryan Singer sai vitorioso da empreitada, pois consegue novamente mostrar uma parte do talento já apresentado outrora, enquanto prepara o longa final dessa nova fase dos mutantes. Mas que podia ser melhor, podia.
– Adriano Mello Costa (siga @coisapop no Twitter) e assina o blog de cultura Coisa Pop
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– “X-Men Origins – Wolverine”, um passo atrás da trilogia (leia aqui)
Um dos melhores filmes de super-heróis já feito. Muito em parte por deixar de lado super-poderes para se concentrar num tom mais realista, sem uma batalha épica de bem contra o mal. Pelo contrário, aqui não tem mocinhos ou vilões, e sim pessoas com pontos de vida e objetivos diferentes tentando o melhor para a humanidade e/ou sua raça.
E vale uma menção honrosa para a pequena participação de um dos poucos super-heróis brasileiros: o Mancha Solar.