Humberto Gessinger não tem pressa. Aos 50 anos recém-completados, quase 30 deles passados entre estúdios e palcos, ele quer distância do ritmo alucinante que marcou o início de sua carreira – foram oito discos em oito anos entre 1986 a 1993, 17 lançamentos com o Engenheiros do Hawaii, entrelaçados com um disco do Humberto Gessinger Trio, seguidos por dois lançamentos em anos seguidos com o poucavogal, projeto com o amigo Duca Leindecker, do Cidadão Quem.
Humberto Gessinger é um cara tranquilo. Ele acaba de lançar um disco, “Insular”, o 21º lançamento de sua carreira e o primeiro solo, “por acaso”, como ele conta mais abaixo. Também acaba de lançar um livro, seu quinto, “6 Segundos de Atenção”. Os dois lançamentos o têm feito rodar pelo país nos últimos meses – mas é sempre uma coisa de cada vez. Se a viagem é para o livro, como foi a que o trouxe a Sorocaba no fim de novembro, para uma concorrida noite de autógrafos numa livraria de um shopping, nada de violão ou instrumentos, nem sequer uma palhinha – no máximo um ou outro inevitável autógrafo num disco.
Humberto Gessinger é na dele. Adora ler biografias e diz que não ligaria se resolvessem escrever a dele – mas, como leitor, acha que tem muita picaretagem no ramo. Gosta de política, mas evita falar sobre porque não quer fazer a cabeça de ninguém. Acha injusto cobrar o envolvimento de artistas no debate político usando a ditadura e a década de 1960 como fonte de comparação. E não sabe dizer se haverá um novo disco dos Engenheiros. “Não tem plano de voltar – o que não significa que não possa voltar”.
Conversei com Humberto Gessinger por cerca de meia hora na tarde de 27 de novembro, antes de ele seguir para a livraria onde ele daria a noite de autógrafos. Simpático, falou como se conversasse com um velho conhecido e relembrou um incidente numa passagem para um show na cidade, em 1993: “Como era mesmo o nome do clube em que a gente tocou? Isso, Recreativo. Lembro que o som era muito ruim e que eu estava de calça de couro e ela rasgou na primeira música, fiquei boa parte do show quase de cueca, escondendo com o baixo.” A entrevista:
Como foi o momento em que você percebeu que tinha coisas a dizer que não cabiam em forma de música e que precisava escrever livros?
Cara, na minha vida a palavra escrita é anterior à palavra cantada, escrevo há mais tempo do que canto. Então a decisão, na verdade, não foi de começar a escrever, mas de lançar meus livros. No principio fui muito reticente, achando que não poderia me expressar mais do que me expressava com a música, e por incrível que pareça o livro que quebrou esse gelo, essa reticência de publicar, foi o menos autoral dele, que foi um livro que fala sobre o Grêmio, para literatura infantil, que fazia parte de uma coleção com vários times (“Meu Pequeno Gremista”, de 2008). Ali saquei que havia uma galera interessada no que eu escrevia. Depois lancei a biografia (“Pra Ser Sincero – 123 Variações Sobre Um Mesmo Tema”, de 2009), e então ficou uma coisa constante como no início da carreira eram constantes os lançamentos de discos, uma coisa quase anual. E descobri que há sim um tipo de comunicação diferente da musical por meio da literatura. Os meus leitores me ensinaram isso. Muita gente começou a observar: “Pô, me sinto muito mais próximo a ti lendo teus livros”, gente que me ouvia há 20 anos, e acho que um pouco se dá pela maneira como eu escrevo e um pouco é característico do formato literatura mesmo. A literatura junta a solidão de quem escreveu com a solidão de quem lê. É um formato mais introspectivo do que a música e dá essa sensação de maior proximidade. É como se jogasse uma outra luz no mesmo objeto.
E são os mesmos públicos? Você tem essa noção, tem gente que gosta só do Humberto escritor, ou mais do que do Humberto autor, cantor, compositor…
A princípio naturalmente o pessoal que começou a se interessar era mais que me conhecia como músico, né? Mas já sinto, senão um público diferente, uma maneira diferente de perceber. As pessoas já não compram os meus livros por conhecer a banda em que o autor toca. Agora, é bem provável que seja, por ambos serem muito autorais, não é ficção que eu escrevo, é bem provável que seja o mesmo tipo de pessoa que se atrai pela música.
Uma questão que o meio artístico abordou nos últimos tempos é o caso do Procure Saber, o lance das biografias. Qual é sua posição a respeito? Você acha que a pessoal tem de ter liberdade para escrever? Se alguém quiser escrever uma biografia sua, você vai autorizar?
Eu vou falar mais como um leitor de biografias, que eu sou muito, do que como um possível biografado, não sei se eu causaria interesse para tanto. Como leitor de biografia, acho que a gente tem direito de saber coisas sobre quem fez a nossa história sentimental. Por outro lado, eu gostaria muito de ser protegido de algumas biografias de muito pouca qualidade que eu mesmo compro. Apesar de me considerar um cara relativamente esclarecido, caio às vezes numas arapucas comerciais, biografias que não têm nada a acrescentar e são caça-níqueis mesmo, usam a figura de alguém conhecido pra ganhar dinheiro. Mas obviamente não se pode enquadrar aí todas as biografias, e acho difícil criar um selo distinguindo uma biografia boa de uma ruim. O que vai acontecer é que vão se liberar as biografias e nós, leitores, vamos aprender a lê-las. A gente não pode acreditar em tudo o que está escrito também. Isso é o que vai acontecer e é disso que eu sou a favor, é uma resposta que eu me sinto cada vez mais repetindo, não só em relação a essa questão, mas em várias coisas que têm acontecido no Brasil, como as manifestações de junho. A impressão que eu tenho é que a gente tá aprendendo a se comunicar e a expressar o país que quer, e isso ainda vai demorar tempo. Então sou a favor disso; que se libere, mas que o leitor fique atento. É claro que tem biografias que são caça-níqueis, mas tem biografias que são fundamentais até para tu entender melhor a obra das pessoas que tu admira.
Então se alguém escrevesse a sua você não ia se opor….
Não, não. Eu não sei se eu teria paciência de colaborar muito, porque eu já escrevi a minha, mas não me oponho, não. Até acho o trabalho de pesquisa interessante. Acho também que essa é uma questão meio ultrapassada, porque tá tudo tão exposto no meio virtual…
É isso estava em discussão. O cara reclama de uma biografia, mas não de aparecer na Caras.
É, mas eu acho que mesmo no meio virtual é tanta informação que vai ser relevante que, de tempos em tempos, alguém com o dom para escrever e para ordenar os fatos faça a história disso. Talvez aconteça isso. Porque, hoje em dia, o que importa não é revelar os fatos, os fatos estão quase todos na cara de todo mundo, é sim fazer a conexão entre eles, racionalizar os fatos. A informação está acessível, falta quem faça as conexões, aí é que a informação começa a ser valiosa mesmo. Quando ela é uma lista de dados, não significa nada, mas sim quando a gente começa a conectar ela, e nesse sentido sempre vai ser necessária, fundamental, a ação de historiadores e pessoas que pensem em música e tal. Mas eu tenho a tendência a gostar sempre mais das autobiografias, apesar de saber que são sempre visões superparciais. Acho que lendo autobiografias, lendo sobre o momento histórico e acompanhando as músicas do artista, mesmo que isso não revele diretamente as coisas, se aprende muito. Mesmo as coisas que uma pessoa esconde revelam muito sobre ela.
Você falou sobre as manifestações. Você acha que falta para os artistas se posicionar mais politicamente hoje?
Acho que se compara sempre as posições dos artistas com um momento histórico muito diferente, onde as opções eram menores e mais explícitas, onde se lutava contra uma ditadura, com o mundo dividido numa guerra fria. O mundo é muito mais complexo hoje, e entre revelar levianamente sua opinião sobre assuntos profundos em 140 caracteres e ficar quieto, passar a impressão de que somos alienados, eu prefiro ficar quieto e passar a impressão de que sou um alienado do que discutir questões profundas com a superficialidade do Twitter, por exemplo. Os tempos são outros, as questões são muito mais complexas e, se nos anos 70 os artistas tomaram a frente pra falar coisas que outras pessoas não podiam falar, hoje em dia as pessoas que são mais gabaritadas pra falar sobre as coisas, os sociólogos e cientistas políticos, têm a chance de falar. Acho que se relativiza um pouco a opinião que um artista tem sobre a política hoje em dia.
Você se sentiria à vontade de fazer uma campanha política, de abrir seu voto?
Não, não. Cada vez tenho menos interesse nisso, em fazer a cabeça das pessoas. Claro, a política em si me interessa, desde sempre, mas cada vez tenho menos interesse em influenciar as pessoas. E não sei se é benéfico um moleque fazer sua cabeça por conta de um músico que ele admira, entendeu? Eu preferia que os caras que me ouvem se interessassem em ouvir opiniões mais abalizadas sobre política. Continuo tendo as minhas opiniões, claro, mas, não sei se é porque eu tô ficando velho – talvez seja por isso (risos) –, mas cada vez tenho mais cuidado e menos vontade de fazer a cabeça das pessoas.
Você está entrando em sua quarta década de participação na cultura brasileira. Como você a enxerga, hoje? Ela está mais rica, mais diversificada?
A cultura brasileira sempre foi muito diversificada e acho que hoje ela está mais fragmentada, não vejo uma grande onda dominante. Desde que eu comecei sobrevivi a várias ondas, até o pop rock foi uma onda, depois a lambada, depois sertanejo, e eu não sei qual é a onda dominante agora. Acho isso bacana, gosto dessa fragmentação, dessa diversificação, mas acho que é como tudo na vida: tem os prós e contras. Tu não pode mais ser um ouvinte passivo, tem que buscar as coisas. Vejo muito a molecada que não viveu os anos 80 e reclama, sente saudade dos anos 80, e eu tento até desmistificar isso. A molecada diz: “Pô, as bandas hoje em dia não são legais”. Cara, deve ter muitas bandas legais por aí, mas que não estão conseguindo espaço que as bandas dos anos 80 tinham. Me parece meio improvável que a qualidade baixe de uma geração pra outra com tanta informação. É claro, artistas de exceção existem em todas as gerações, mas em geral acho que nós, como ouvintes, e agora me colocando como ouvinte mesmo e não como artista, estamos talvez menos generosos na maneira como a gente absorve a arte. Eu, quando comecei, a primeira vez que eu toquei uma música que não fosse minha num show, eu tinha três discos de ouro pendurados na parede, e hoje acho praticamente impossível uma banda começar sem tocar uma cover, parece que as pessoas querem ouvir mais do mesmo. Então, acho que quem reclama da qualidade tem que questionar não só quem está produzindo, mas quem está consumindo.
Isso é uma coisa que pessoalmente eu tenho notado e até brinco com amigos: parece que nenhuma música precisa mais ser composta, tudo o que precisava ser escrito já foi escrito.
Bom, se tu for analisar do ponto da música formatada, pra tocar no rádio para as massas, talvez todas elas estejam escritas mesmo, talvez a gente só precisasse escrever “Something” e mais duas… (risos) Mas eu digo o seguinte: ao largo dessa música há muita música pra ser feita hoje em dia, que não se pretenda hegemônica. Eu me lembro de uma experiência interessante, a gente estava numa rádio e tocou “A Revolta dos Dândis” na íntegra, uma coisa que a gente nunca tinha feito, e causava muito estranhamento. Eu ouvi de muita gente: “Nossa, que coisa incrível”, “Que densidade”, e as pessoas não entendendo como aquilo poderia ser tão denso sendo que é uma coisa popular. Várias músicas tocaram na rádio, e então eu volto a dizer, pô, a gente pode reclamar dos artistas que estão se repetindo, mas a gente tem que pensar em nós como ouvintes, se não estamos perdendo a generosidade. Quando lancei “Infinita Highway”, uma música de mais de seis minutos, ou “Terra de Gigantes”, que era uma música sem bateria, eram coisas que iam contra o sistema, e hoje eu não sei se nós, como ouvintes, temos a generosidade com o que está indo contra o sistema. E tem uma coisa também que me parece que era mais saudável, que era uma certa mistura, por não ter canais muito específicos. Por exemplo, quando comecei tu não tinha uma MTV da vida, caía no mesmo redemoinho dos artistas mais populares, dos artistas regionais. Depois que começou a se especificar muito o som e cada um ficou no seu gueto, pessoal que faz rock n’roll aqui, pessoal que faz rap lá, parece que cada um fala só para sua turma, e isso, para a arte em geral, Arte com A maiúsculo, talvez não seja bacana, talvez as misturas possibilitem um arejamento. Eu senti muito isso no “Insular”, e é uma coisa que eu tenho sentido cada vez mais, necessidade de criar pontes. Eu acho, e o nome do disco se refere a isso, que cada artista, com sua obra, cria uma ilha, um mundo próprio, mas é bacana conectar essas ilhas, misturar… Esse disco, por exemplo, tem muita participação de músicos do Sul, desde o regional até o mais urbano, e saiu um pouco do seu quadrado…
Mas você sempre fez isso, né? Em 1991 já colocava Gaúcho da Fronteira no disco.
É, é, tinha muito, mas nesse disco fica mais explícito, talvez, por conta da produção. Mas realmente tu tem razão, desde o primeiro disco, “Longe Demais das Capitais” (1986), a gente já abordava um pouco isso. E é uma coisa que tem me interessado cada vez mais fazer.
Como você vê hoje uma avaliação da sua obra? Eu me lembro, quando você tocou e postaram no YouTube “A Violência Travestida Faz Seu Trottoir”, eu pensei: “Não sabia que ele tocava essa”, porque era uma música pouco conhecida, um lado B do disco.
Foi em Belo Horizonte, e é uma música desformatada, que não tem o formato clássico da música pop, (e por isso) tocou muito pouco na época. Nos primeiros 10 anos, lancei praticamente um disco por ano, então os discos se encavalavam e era muito difícil fazer o roteiro do show, por exemplo. E hoje em dia eu gosto muito de pinçar essas coisas, algumas releituras, a gente tocou “Vozes” (de “A Revolta dos Dândis”, 1987) em BH também. É muito louco. Faço questão de tocar músicas de todas as fases dos Engenheiros agora, nessa turnê, mas a gente não está tocando tipo “Era um Garoto…”, “O Papa é Pop”, canções que toquei muito e que eram as músicas mais populares dos discos. Não queria fazer isso como se fosse, sei lá, “Eu sou o Led Zeppelin e não vou tocar Stairway to Heaven”, mas de forma natural. É muito fácil fazer o roteiro que tu quiser, mas o que me interessa mais é fazer isso quando há uma vibe receptiva, que acho mais interessante do que simplesmente fazer por vontade própria. E é muito louco que agora nessa turnê está acontecendo isso, e eu acho que até joga uma luz mais parecida hoje com o que eu sentia quando fiz o disco. Porque quando tu lança um disco, ele meio que já não é mais teu, as pessoas pinçam, principalmente antigamente, pinçavam algumas músicas, conheciam poucas músicas do disco, e hoje em dia em me sinto mais próximo da ideia original do “A Revolta Dos Dândis”, do “Papa é Pop”, do que na tour de cada um deles. Lembro que, na primeira vez que a gente foi tocar em Fortaleza, no lançamento de “A Revolta dos Dândis”, eu estava numa rádio e o cara disse: “Pô, estava tocando muito aqui uma canção chamada ‘Refrão de Bolero’, mas eu tive que tirar da programação”, “Pô, mas por quê?”, “Pessoal da gravadora pediu para tirar”. Você vê que raciocínio estranho, de tocar só uma música, mas o ambiente era assim, né? Então sempre que as pessoas ficam reclamando, principalmente esse pessoal da minha geração, que é muito reclamão, “Ah, hoje em dia tudo é mais difícil, o pessoal não presta atenção”, eu tento chamar a atenção pra lados positivos como esse. Quer dizer, hoje em dia não tem essa coisa tão bitolada de uma música. O “Insular” saiu, e eu toco oito canções novas no show sem que isso cause aquele estranhamento de trabalho novo, ao natural, que é como me interessa fazer. E eu me lembro da dificuldade que era fazer isso nos anos 90, por exemplo. Até no “Novos Horizontes” (2007), que foi o último disco do Engenheiros, tocar oito músicas novas era meio assim: “Pô, parece que o cara tá fazendo um manifesto”. E não, manifesto não me interessa fazer, eu gosto de tocar elas ao natural. E nesse sentido acho essas possibilidades muito interessantes. Se eu viesse dar uma entrevista aqui em 1990, você não saberia que eu toquei “A Violência Travestida Faz Seu Trottoir” em BH, entende? E isso é fascinante, a gente tem que aproveitar isso em vez de ficar reclamando. Hoje em dia dá para chegar mais perto do público, de uma maneira mais rápida, e me sinto muito mais vivo hoje, lançando o “Insular”, do que me sentia lançando discos que fizeram muito sucesso, tocaram muito, venderam muito, mas que, logo depois que tu lançava, tu estava naquela alegria, a fim de mostrar tudo, mas tu entrava meio que num trem muito lento, de tocar uma música, de tocar outra, e hoje em dia a gente pode ser mais ágil nesse sentido.
Você acha que sente mais prazer no palco hoje do que sentia 15 ou 20 anos atrás?
No palco, não. Estou vivendo um momento especial no palco, mas acho que por conta dos últimos quatro anos, que fiquei muito restringido ao formato do poucavogal, que era um duo acústico, eu tocava muitas coisas ao mesmo tempo, teclado com os pés, violão, e agora (na turnê do “Insular”) voltar ao baixo e ao microfone é como voltar para casa. Mas acho que é uma coisa só dessa transição. No palco em si eu sempre senti uma coisa bacana, mas, em relação à maneira como eu posso divulgar meu trabalho, acho uma coisa muito mais legal. Putz, eu não trocaria hoje em dia por nenhum momento da minha carreira. Falo que as pessoas estão interessadas, e não precisa mais passar pelo filtro da grande mídia. Antigamente tu falava para dois jornais e falava para o Brasil inteiro, mas ao mesmo tempo tu ficava escravo de uma visão de dois caras, que às vezes poderiam gostar do teu trabalho, às vezes não, e era um saco,. Hoje em dia é mais legal para quem tem trabalhos como eu, que não se pretendem hegemônicos. Não quero que meu trabalho domine o mundo, nunca quis ser número 1 de nada. Vejo um renascimento da música instrumental, músicas mais específicas, que tinham muita dificuldade de entrar num mundo mais monolítico, para esse tipo de arte o cenário hoje é muito mais interessante.
E teremos um novo disco do Engenheiros do Hawaii?
Não sei, cara. Minha visão de futuro e meio assim, curta, dois, três anos, e agora eu quero dedicar muito tempo ao “Insular”, porque acho que consegui neste disco uma coisa que eu não sei se vou conseguir de novo, especialmente na produção, nas gravações com os caras com quem toquei, a turnê também está muito bacana. Quero viver esse momento com intensidade, lançar um registro audiovisual, um DVD, e depois não sei o que vou fazer. E a escolha de lançar como disco solo não foi um lance premeditado. Comecei a trabalhar no disco sem saber pra onde as músicas iriam, não sabia se seria Engenheiros, se seria mais um disco do poucavogal, e só resolvi lançar como solo porque não teve uma banda fixa me acompanhando no disco inteiro. No Engenheiros, por mais que tenha tido várias mudanças de formação, sempre gravei com o pessoal que ia para a estrada, fazia questão de compor algumas músicas com eles, e agora achei mais natural fazer solo, já que cada faixa, praticamente, tem uma formação, muitos convidados, muitos amigos. Então, não tem nenhum plano, nenhum objetivo de voltar – e isso não quer dizer que não possa voltar.
Até porque, na verdade, a gente consegue enxergar um eixo na sua obra, você pega uma música sua e ela tem uma identidade, seja como Engenheiros da fase clássica ou mais recente, seja como Gessinger Trio ou solo…
Nunca me preocupei com essa coisa de buscar unidade na minha obra, mas eu sabia que a própria composição, pelas suas virtudes e seus defeitos, e eu como intérprete, pelas minhas virtudes e meus defeitos, acabam dando unidade à obra. Então fico mais atento às pequenas mudanças, de formação, de ambiente, mas são mudanças periféricas. Eu acho que concordo contigo, que o centro da minha composição não tenha mudado muito, não, tem assim uma cara, uma coisa própria.
– Fernando Cesarotti (@cesarotti) é jornalista e assina o blog Notas de Viagem
Leia também:
– “Insular”: Gessinger está ficando velho. Mas continua o mesmo (aqui)
– Três CDs dos Engenheiros do Hawaii, por Marcelo Costa (aqui)
– “Acústico MTV Engenheiros do Hawaii”, por Marcelo Costa (aqui)
Humberto Gessinger tá ficando cada dia pior. Que pena que ele não ouviu Neil Young…
Humberto não precisa de gente para o exaltar ou xingar. Ele simplesmente continua vivendo do que produz enquanto tantos vivem de marketing pessoal ou assessoria de imprensa. Parabéns pela entrevista, muito conteúdo bacana em apenas 30 minutos de bom papo.
Cada dia que passa eu ADORO esse sujeito.Tenho descoberto mais profundamente os discos dos Engenheiros e vendo que existem muitas coisas boas ali,além dos clássicos,o que é importante.Achei legal essa entrevista,antigamente ele era mais fechado nessas explicações mais entranhadas mas com o tempo,pelo jeito,ele ficou mais aberto pra falar.
Concordo com o André Mantra e posso afirmar que HG tá longe de ser um gênio, mas também muuuuuuuito longe de ser apenas mediano/medíocre. O exercício proposto pelo próprio música dá as letras: esquecer um pouco os sucessos e entender o contexto dos discos.
Eu gostaria de ouvir as composições do Humberto Gessinger gravadas na voz de outros intérpretes e bandas, com outro tipo de produção. Isso é uma coisa que ainda não aconteceu com a obra dele, que permanece muito pessoal.
Sem dúvida nenhuma, como intelectual, é um dos mais interessantes artistas da música brasileira. Sempre teve algo instigante a dizer. É bacana ele utilizar outros formatos, além da música, para expressar suas ideias.
Quanto ao disco “Insular”, destaco a música “Milonga do Xeque Mate”.
Sempre houve um ranço, principalmente de jornalistas paulitas, em relação ao Gessinger e cia. Não é o melhor do mundo, mas nem de longe é o pior. Tem discos muito bons, outros nem tanto, mas o que sempre me chamou a atenção é que ele sempre ficou na dele, não importando muito as ondas do momento. Tem o meu respeito.
Esse cara é foda e coerente.
Ah, e sim, tem talento, coisa que parece estar extinta por essas terras.
…um gênio está longe de chegar aos pés do Humberto.Essa forma é única,ainda bem!
O Humberto é um gênio da música brasileira sim Sérgio Oliveira, o cara produz música há mais de 30, toca vários instrumentos, suas composições perpassam por vários gêneros e sub-generos, suas letras tem uma poesia única, adoro os trocadilhos, as conexões entre as músicas. Digo isso porque já ouvi muito Engenheiros na minha vida e a cada nova canção que conheço me surpreendo com o que cara escreve e toca. É genial!!! Mas é assim mesmo, quando ele morrer vão dizer: gênio!