Três perguntas para Blubell
por Bruno Capelas
Em seu novo disco, a paulista Blubell chuta para escanteio um rótulo que muito deve perseguir uma das maiores commodities do Brasil hoje em dia: cantoras chamadas de “divas”. A negativa aparece logo no título do trabalho, lançado neste mesmo 2013: “Diva é a Mãe”. “Essa palavra tem um peso muito grande, remete a uma mulher solitária e triste que está sempre vestida e maquiada impecavelmente. Não sou eu: estou muito mais pra palhaça”, brinca a cantora, em entrevista curta e certeira ao Scream & Yell.
Em sua carreira, a cantora alia o lado de compositora – em três discos solo (“Slow Motion Ballet”, de 2006, “Eu Sou do Tempo Em Que A Gente Se Telefonava”, de 2011, e este “Diva é a Mãe”, de 2013) – ao de intérprete, como fez no disco com o trio Black Tie (Mário Manga, Swami Jr. e Fábio Tagliaferri), aliando charmosamente o jazz e o pop. “Meu trabalho de compositora sempre andou paralelo ao de intérprete. Até pouco tempo atrás, aliás, a intérprete pagava a maior parte das contas da compositora”, explica. A seguir, ela fala mais sobre o disco novo, as mudanças em seu repertório e se incomodar com rótulos. Cha-la-la.
O teu disco mais recente se chama “Diva é a Mãe”. Os rótulos te incomodam tanto assim? E se você não é uma diva, como você se apresentaria então?
Quem ouviu o disco sabe a resposta pra essa pergunta. Ela está nesse “humor cotidiano” das letras das canções do disco. Em “Diva Uma Ova” eu falo “…você pode me ver cantando embaixo do chuveiro aquela do Lulu, imitando Olivia Newton-John em Xanadú, fazendo omelete, entupindo a cara de tofu…”. Claro que os rótulos me incomodam. Incomodam a qualquer um. Duvido que se eu dissesse aqui algum adjetivo pejorativo que generalize os jornalistas de música do Brasil você ficaria contente… Gostaria apenas de ser chamada de “compositora e intérprete”, que é simplesmente o que eu faço. Essa palavra “diva” tem um peso muito grande. Me remete a uma mulher triste e solitária que está sempre vestida e maquiada impecavelmente. Não sou eu. Pode apostar. Estou muito mais pra palhaça do que pra diva.
O que você sente de evolução entre o “Diva” e o “Eu Sou do Tempo Que A Gente Se Telefonava”, o teu segundo disco?
O “Diva é a Mãe” é um disco mais “amarrado”. São onze canções escritas apenas por mim, sem nenhuma parceria. Por isso acho que ele faz um retrato fiel da minha vida nos últimos três anos, período em que eu escrevi as canções. Tudo que está ali é algo que eu vivi ou que eu senti nesse tempo. A banda também ajudou muito. Diferente da banda do “Eu sou do tempo”, agora tenho um time que eu juntei há dois anos, que entende as minhas canções e com quem eu gosto mais de trabalhar a cada dia que passa… Nossa lua de mel não acaba… E quando todo mundo está falando a mesma língua, isso faz uma diferença enorme no resultado final do trabalho, tanto no disco quanto no palco.
No meio dos dois projetos, você lançou um disco com o trio Black Tie (Mário Manga, Swami Jr. e Fábio Tagliaferri) regravando tanto Cole Porter quanto Beatles e The Who. Como foi a experiência de cantar músicas que não são suas, conhecidas por interpretações que são referência na história? Mudou alguma coisa na tua maneira de cantar depois?
O “Blubell&Black Tie” não foi meu primeiro trabalho como intérprete nem será o último. Meu trabalho de compositora sempre andou paralelo ao de intérprete. Aliás, até pouco tempo atrás, a intérprete pagava a maior parte das contas da compositora…
– Bruno Capelas (@noacapelas) é jornalista, escreve para o Scream & Yell desde 2010 e assina o blog Pergunte ao Pop.
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