Festival Vaca Amarela 2013, Goiânia

Festival Vaca Amarela enche o Martim Cererê com três dias de bons shows
por Tomaz de Alvarenga

A cada festival, Goiânia reafirma sua soberania quando o assunto é rock independente. Se Belo Horizonte possui a maior média de bares por habitantes no país, a capital de Goiás ostenta a melhor média de bandas (boas) por habitante. Em três dias de novembro, 47 bandas subiram ao palco do Centro Cultural Martim Cererê, sendo 35 do estado, para se apresentar na 12ª edição do Festival Vaca Amarela, reafirmando o compromisso do evento (como das outras produtoras da cidade) em fomentar a cena local, na qual brota uma banda interessante na mesma velocidade em que um pequi é apreciado com arroz em qualquer restaurante.

Após quase dois anos fechado para reforma, o Martim Cererê (que também irá receber o Goiânia Noise em dezembro) é referência obrigatória em Goiânia quando se fala em cultura. Composto por dois anfiteatros cobertos (ideais para shows médios), há um bar e uma área aberta (porém cobertas por tendas, devido ao período chuvoso) com várias banquinhas de produtos e alimentação. Atrás dos teatros, outro teatro, este de arena, aberto, que a produção usou como lounge para o encontro de músicos, produtores e jornalistas, e que recebeu apresentações de DJs (a cerveja oficial era Cerpa, que era vendida ao público em três faixas de preço, mas também havia Colorado, para os paladares mais exigentes).

Os shows apresentavam uma boa qualidade do som (com exceção do Dead Fish, alto e mal equalizado, e do Corazones Muertos, insuportavelmente alto). Os telões, com projeções foram um charme e um atrativo à parte. O ar condicionado interno não deu conta da demanda quando os teatros ficaram lotados, mas resfriavam bem se os locais não enchiam. Apesar de a lotação máxima ser de 2 mil pessoas (público corrente, pois o primeiro show era às 18h e o último começava à 1h), havia a preocupação de não ir além de mil dentro do local. No primeiro dia, lotou. No segundo, foram 1800 pagantes (a produção afirmou que reduziu um pouco a carga de bilhetes) e o terceiro, chegou próximo da marca do segundo dia.

No total, 15 apresentações no primeiro dia (quinta-feira, 14 de novembro, véspera de feriado), 16 na sexta e 16 no sábado, sempre alternadas entre os teatros. O tempo de show era perfeito: 30 minutos, o que deixou as apresentações otimizadas e dinâmicas, período considerável para a banda dar seu recado e ao mesmo tempo não “cansar” o público. Apenas os headliners Bonde do Rolê (quinta), Projota (sexta) e Dead Fish (sábado) puderam ir além.

Primeiro dia: 14 de novembro
O maior destaque foram os goianos da Cambriana (foto acima), com um som climático e melódico, claramente influenciados pelo rock inglês pós-1990. Teatro abarrotado, com fãs cantando todas as letras. A cereja do bolo foi uma bela cover de “Lucky”, do Radiohead. Também merecem registro o Ultravespas (GO), com seu som bem psicodélico e sessentista e o já tradicional rock do Johnny Suxxxx n’ the Fucking Boys (GO). Mais cedo, o Versário (GO) também agradou, com seu pop/rock extremamente competente.

Os paranaenses do Bonde do Rolê encheram o teatro com muita alegria e golfinhos infláveis, levando o público ao delírio, principalmente com o hit “Solta o Frango”. A decepção do dia foi o trio Nevilton (PR), que se apresentou para um teatro surpreendentemente vazio e, por mais que se esforçasse, fez um show morno, que não empolgou, com repertório baseado no recente “Sacode”, que pelo jeito ainda não caiu nas graças da plateia, que se animou mais com as músicas do primeiro álbum, o ótimo “De Verdade”. Até Spice Girls entrou no repertório, mas a impressão é de que o show ainda será maturado, da mesma forma que a percepção do público para com este novo trabalho.

Segundo dia: 15 de novembro
Foi impossível assistir ao show do Projota (SP). Com lotação máxima do teatro, alguns não conseguiram entrar e acompanharam nas proximidades da entrada. O acesso ao backstage foi fechado para outros artistas e jornalistas, tornando a tarefa de acompanhar o show impossível. Ainda no hip hop, Patrick Horla (GO) foi uma bela surpresa, mesclando suas rimas com uma banda no palco.

O bom rock esteve presente com elogiadas apresentações dos goianos do Mad Matters (com três guitarras) e do Space Truck (mesclando o rock dos anos 70 e 90, reunindo ótimo público, mesmo tocando cedo). Da mesma forma, os brasilienses do Cassino Supernova arrancaram aplausos (show animado, bem sessentista, com uma oportuna homenagem a Lou Reed em uma versão de “Sweet Jane”).

Os fãs do rock mais pesado curtiram o Dry (GO), os argentinos do Petit Mort (com uma música barulhenta e ao mesmo tempo dançante) e o Corazones Muertos, apelidados de Velvet Revolver por alguns, por um som extremamente alto e visual condizente.

A música brasileira estava representada com o Porcas Borboletas (MG), que possui um público fiel na cidade, aplaudindo a mistura de MPB, rock nacional e pitadas de psicodelia, com catarse em “Super Herói Playboy”. O Caboclo Roxo (GO) fez o público dançar com a salada sonora, com frevo e altas doses de percussão.

Os dois destaques do dia foram o ápice do todo o festival. O Overfuzz (GO) é um power trio agressivo, fazendo um som pesado, variando entre o rock alternativo e o pós-grunge. Show empolgante, principalmente graças ao desempenho do baterista Victor Ribeiro, um monstro. O Boogarins (foto acima) confirmou os elogios da crítica, com um show (muito) superior ao álbum, mesclando uma música climática, pesada e ao mesmo tempo, experimental. O frissom sobre o grupo fez o teatro lotar e o backstage também, com outras bandas curiosas pela apresentação dos goianos.

Terceiro Dia: 16 de novembro
Já tradicionalmente como o dia mais pesado (apelidado de “vaca preta”), o evento passeia por diversas vertentes do rock. O new metal estava lá, representado pelo ótimo show dos goianos do Coletivo Sui Generis (com dois MC’s, bom público e show eficiente), o hardcore do Vero HC (GO) e o mesmo estilo, mas com uma verve straight edge, do Lost in Hate (DF).

O stoner, tão tradicional na cidade graças a grupos clássicos como o MQN e o Black Drawing Chalks, teve no Hellbenders (foto acima) seu fiel representante. Os pequenos Diogo, Braz, Victor e Rodrigo se agigantam no palco, com um som pesado, sujo e agressivo. Também dignos de aplauso foram as apresentações dos locais Cherry Devil (stoner), Kamura (a maior roda de mosh do festival), Aurora Rulles (recorde de camisas preta em um show), além dos australianos do Don Fernando, também passeando (com competência) pelo stoner e fazendo o público bater cabeça. Os capixabas do Dead Fish encerraram o festival com alguns hits e um repertório ainda engessado, em virtude da recente troca de guitarristas (saiu o Philippe Fargnoli e entrou Rick Mastria).

Ao final, o produtor do evento João Lucas foi sucinto sobre o que está por vir. “Dependendo dos headliners da próxima edição, podemos até sair do Martim Cererê, mas já fizemos várias edições do festival aqui, que considero o melhor local de médio porte para se fazer show no Brasil”, avalia. O próximo encontro em Goiânia com a boa música independente já está marcado no mesmo local: entre os dias 6 e 8 de dezembro, com a 19ª edição do tradicionalíssimo Goiânia Noise Festival. Nos aguarde.

TOP 7 DO FESTIVAL
1. Overfuzz (GO)
2. Boogarins (GO)
3. Cambriana (GO)
4. Hellbenders (GO)
5. Ultravespa (GO)
6. Cherry Devil (GO)
7. Don Fernando (Austrália)

– Tomaz de Alvarenga (@tomazalvarenga) é jornalista e escreve no Correio Braziliense

– Todas as fotos por Fora do Eixo / Vaca Amarela / Divulgação (veja galeria completa)

O Scream & Yell viajou para Goiânia a convite da produção do evento

5 thoughts on “Festival Vaca Amarela 2013, Goiânia

  1. Boa resenha… mas você não deve ter assistido o show do Shotgun Wives na quinta-feira… Acredito que a banda merece alguma citação.. pra mim foi a melhor. OBS: Não consegui entrar no show da Cambriana… (Estupidamente LOTADO!!)

  2. uou, bom texto. mas achei o show do nevilton incrivelmente surpreendente. muito melhor do que o disco, bastante animado e envolvente. me chocou positivamente

  3. O problema do Nevilton é o seu Tiago Chapolla que sacaneia o Nevilton e o baixista Lobão e fica entrando e saindo da banda e prejudicando seu andamento.Isso se reflete nos shows,infelizmente.Acho que também a banda,já que está na Oi Musica,deveria estar no rádio e na TV,o que ajudaria nisso.Fora o resto.

  4. Eu achei o show do Nevilton muito bom, e até achei que o batera segurou legal a onda…assisti o show da grade e a grande surpresa foi no final quando olhei pra trás e vi que não tinha mais que 10 pessoas atrás de mim!??.Hellbenders, Cambriana e Overfuzz realmente foram showzaços mas ainda me imcomoda um pouco a questão da língua inglesa, infelizmente se percebe um sotaque um tanto constrangedor; apesar do instrumental perfeitamente executado pelas bandas.Por este quesito coloco o show dos Boogarins como o melhor…realmente de uma psicodelia absurda que só cresce ao vivo.Sobre a estrutura vale ressaltar a grande variedade de cervejas e comidas vendidas com filas rápidas e práticas.Legal também foi ser um evento legalize, podia-se fumar um baseado tranquilamente sem incomodo algum, o que é uma dádiva!

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