por Marcelo Costa
Em 8 de abril de 2009, um navio norte-americano que levava comida e água para auxiliar Quênia, Somália e Uganda foi tomado por piratas somalis e o capitão da embarcação foi feito refém. A história de resgate de Richard Phillips virou em 2010, e ganhou edição nacional, via Intrínseca, em 2013, mesmo ano que uma cinebiografia rememora a história enquanto valoriza o nome de Tom Hanks (o Capitão Phillips), desde já um dos grandes cotados a indicação ao Oscar de Melhor Ator no próximo ano por sua grande atuação no filme.
A rigor, estamos diante aqui de um grande thriller de ação, daqueles que Hollywood sabe recriar melhor do que ninguém. Para o papel de diretor foi chamado Paul Greengrass, o homem que assinou a direção em alguns big blockbusters como “A Supremacia Bourne” (2004), “Ultimato Bourne” (2007) e “Voo 93” (2006), e que está acostumado a cenas frenéticas e tensão no limite máximo. A mão certeira de Greengrass é um dos trunfos de “Capitão Phillips”, e só escorrega no trecho final, com trilha piegas e exageros de atuação.
Pra não colocar o barco na frente dos bois, “Capitão Phillips”, o filme, começa com o personagem de Tom Hanks, um marinheiro mercante, se se despedindo da esposa enquanto discute o mundo moderno e o futuro dos filhos. Seu próximo destino de trabalho é o porto de Omã, um país situado em território árabe, mais especificamente na extremidade oriental da Península Arábica, onde ele assumirá uma embarcação com cerce de 20 tripulantes, que deverá seguir viagem através do Golfo de Áden até Mombaça, no Quênia.
Paralelamente, o roteiro mostra uma aldeia na Somália no momento em que os chefões do crime local aparecem para cobrar dinheiro de cargas roubadas. Sob pressão dos criminosos, Abduwali Muse (Barkhad Abdi) reúne um grupo de piratas e parte a esmo procurando um alvo, escolhendo o cargueiro Maersk Alabama por ele estar fora da rota comum – fato, inclusive, que fez integrantes da tripulação processarem o verdadeiro Capitão Phillips após o sequestro, já que ele deveria manter o navio a 600 milhas náuticas da costa da Somália, mas, quando foi atacado, estava a apenas 240 milhas náuticas.
A partir do momento que os piratas invadem o navio, começa um jogo de suspense que Greengrass manipula com destreza, mantendo o espectador atento enquanto o roteirista Billy Ray constrói – com base no livro de Richard Phillips e em depoimentos da tripulação – um Capitão Phillips preocupado com sua tripulação, aquele tipo de homem que encarna o herói sem fantasia, uma recriação que soa exagerada e irreal, mas que serve ao propósito de dar munição para Tom Hanks atuar, e ele não desperdiça a chance. O resultado final é uma obra cinematográfica que segue uma receita padrão, e que funciona muito bem se seguida passo a passo.
O roteiro, esperto, chega a questionar o capitalismo (o mesmo capitalismo que fez o verdadeiro capitão escrever um livro e vende-lo para Hollywood, a sobrevivência em um crime como se fosse um prêmio na loteria) enquanto justifica as ações dos piratas (“Somos todos pescadores”, diz um deles ) com base no argumento do rapaz que é levado ao crime por necessidade, e diz ao seu assaltado: “Irmão, a sociedade me deve a sua carteira”. Esse panfletarismo anti-EUA funciona em algumas boas cenas e faz pensar, mas o recado final – como sempre – é: não mexa com a carteira de um norte-americano, mesmo que ele tenha a roubado de você. Vazio, “Capitão Phillips” vale por Tom Hanks. E só.
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne
Leia também:
– “Supremacia Bourne” é ok enquanto “Ultimato Bourne” é o mais bacana dos três (aqui)
Assisti o filme quinta-feira e terminei o livro hoje sábado.
Nao vou comparar ambos pois sao midias distintas, mas só dizer que tem coisas que gostei mais no filme e outras mais do livro.
Como aqui é a crítica do filme entao vou me ater a ele.
No começo do filme tem a Catherine Keener (chocado o quanto ela envelheceu) e ela nao aparece em mais nenhum momento do longa, entao pq a escalaram? podiam economizar com uma atriz desconhecida qualquer.
Atuaçao do Tom Hanks é ótima, mas vou ficar indignado se o Líder dos piratas nao for indicado ao Oscar e Globo de Ouro como ator coadjuvante, o cara passa total impressao de ser um pirata diabólico demais.
Paul Greengrass continua eficiente nos momentos de tensao, que é o destaque do filme, pois como roteiro dramático político é fraco e dispensável.