por Fernando Silva
Deixe de lado o lance do hype: o disco de estreia do trio norte-americano Haim é uma boa notícia pra quem gosta de música. Lançado no fim de setembro, “Days Are Gone” transborda frescor, rock, pop, sintetizadores, amores jovens, harmonias vocais e refrãos pegajosos. E o melhor da história é que as canções das irmãs Danielle, 24, Este, 27, e Alana Haim, 21, têm uma inegável vocação popular.
Pra começar, todas as 11 faixas do álbum são potenciais hits. “Forever” e “Don’t Save Me”, por exemplo, poderiam dominar as rádios e a MTV com seus divertidos videoclipes e melodias carregadas de ganchos (se ainda estivéssemos na era de algum desses veículos de comunicação). O Haim – pronuncia-se ráim – vai direto ao ponto, constrói bases simples e também surpreende.
Com influências que vão de Blondie, Fleetwood Mac e artistas da Motown a girl groups da década de 1990, como TLC, En Vogue e Destiny’s Child, essas californianas de Los Angeles fazem uma saborosa mistura. Em seu liquidificador cabem ainda elogios a Prince, um dos grandes ídolos delas, e uma boa cover de “Wrecking Ball”, de Miley Cyrus, tocada em uma sessão para a inglesa BBC.
Mas se o seu orgulho roqueiro ou indie já estiver torcendo o nariz para elas, acalme-se. Ouça as meninas abaixo apresentando “Forever” em 2010, bem antes do primeiro disco. Ou escute “If I Could Change Your Mind”, toda em versos, pontes e refrãos, seguindo estrutura típica dos anos 1960, e “The Wire” e seu quê de classic rock.
E se você leu ou ouviu que elas seriam apenas uma espécie de “Hanson feminino”, talvez seja melhor dar uma chance às garotas. Duvida? Tente ignorar a beleza que é o balanço funky de “Days Are Gone” ou a grandiosa “Running If You Call My Name”, cujo arranjo faz lembrar Bruce Springsteen.
Este pequeno caleidoscópio pode ser explicado, ao menos em parte, pela formação do grupo. No Rockinhaim, banda na qual acompanhavam os pais nos palcos, em shows beneficentes, eventos e feiras de rua, elas foram aprendendo o bê-a-bá da música. A partir dali seguiriam seu próprio caminho, interessando-se por ritmos variados, e chamariam a atenção da imprensa (primeiro da inglesa, depois da norte-americana) com o EP “Forever”, de 2012.
“Go Slow” estava no EP, entrou em “Days Are Gone” e é um dos canções mais interessantes do Haim. Cheia de groove, a música é um R’n’B cheirando a artesanato pop. Danielle (guitarra), Este (baixo e percussão) e Alana (guitarra e teclados) usam suas vozes aqui não só para prestar uma homenagem ao estilo; elas fazem dos vocais um truque a mais para pegar ouvintes. Fica o aviso: você pode sair cantarolando essa por aí…
Em tempos pesados de NSA (a agência de segurança nacional) nos Estados Unidos e das listas de e-mails vasculhados dos cidadãos, dos efeitos da crise econômica de 2008 e do arranca-rabo entre republicanos e democratas que paralisou as contas do país e fechou locais públicos, as meninas mostram e trazem leveza.
Porém, não é de se estranhar que ecos – mesmo longínquos – do sonho americano e de suas rachaduras possam surgir na letra de uma música como “Falling”, em que cantam “Sentindo desejo / Se sentindo cansada / E com fome também”.
No fim das contas, o disco do Haim é um produto bem mais palpável e prosaico do que as discussões sobre o hype e a busca pela próxima “salvação”. E a primeira tentativa delas para ganhar um lugar ao sol diverte bastante. Despretensioso e bem tocado, o som da banda funciona tanto como um convite à festa quanto para sorrir.
Ótimo post, HAIM é muito mais que um hype e acho que as gurias tem futuro! Btw, mal posso esperar para que surja um show delas por aqui!