por Marcelo Costa
Titulo Original: Tesis Sobre un Homicidio (2013)
Titulo Nacional: Tese Sobre Um Homicídio
Thriller psicológico, o segundo filme de Hernán Goldfrid (o primeiro, “Musica en Espera”, é de 2009) é um embate entre mestre e discípulo, que lembra bastante o cinemão hollywoodiano, sem dever nada quanto a acabamento, mas decididamente frouxo no roteiro. O mestre é o admirado criminalista Roberto Bermudez (Ricardo Darin, carregando piano como sempre), professor de Direito Criminal responsável por um concorrido curso de pós-graduação, que acontece paralelamente ao lançamento de seu livro sobre o assunto. O discípulo é Gonzalo (Alberto Ammann), filho de um amigo de Bermudez, que está em Buenos Aires não exclusivamente para o curso de pós-graduação, mas também para se aproximar do professor (o roteiro, confuso, tratará de jogar algumas outras informações – algumas importantes, outras irrelevantes – no colo do espectador conforme a fita avança). O embate acontece quando uma garota é assassinada cruelmente no estacionamento da faculdade em que Bermudez leciona, e os atos seguintes de Gonzalo fazem o professor acreditar que seu aluno não só é o culpado, como está distribuindo peças para o mestre buscando provar um ponto de vista jurídico. Clichês do estilo (reviravolta atrás de reviravolta) batem ponto, mas o roteiro confuso assinado por Patricio Vega (com base no livro homônimo de Diego Paszkowski) mantém um olho no gato e outro no peixe, transformando o embate, que deveria ser secundário, maior que a premissa que busca defender. O resultado é um filme oco, que parece querer soar maior do que é, e tropeça em suas próprias limitações.
Nota: 4
Titulo Original: Now You See Me (2013)
Titulo Nacional: Truque de Mestre
Thriller de ilusionismo em que quatro mágicos travam um jogo de gato e rato com FBI e Interpol, “Truque de Mestre” nasceu para ser uma franquia, e sua continuação já foi anunciada. Neste primeiro filme da série, o roteiro trata de apresentar os personagens que irão mover a trama, todos escolhidos a dedo por uma quinta pessoa. São eles o mágico Daniel Atlas (Jesse Eisenberg), que costuma trabalhar com truques de cartas; Merritt McKinney (Woody Harrelson), que se utiliza de mentalismo e hipnose; Henley Reeves (Isla Fisher), que chegou a ser auxiliar de Daniel, e agora mantém seu próprio programa de mágica; e Jack Wilder (Dave Franco), o novato da turma. O roteiro ainda inclui o ex-mágico Thaddeus Bradley (Morgan Freeman) que, agora, tem um programa na TV desmascarando outros mágicos, e o escrete policial, representado pelo agente do FBI Dylan Hobbs (Mark Ruffalo) e pela detetive da Interpol Alma Vargas (Melanie Laurent). Toda essa turma irá correr de lá pra cá em um thriller pipoca que ilude o espectador, e, inegavelmente, diverte. Porém, escapismo barato, “Truque de Mestre” cria infalibilidade sustentada pelo próprio roteiro, como se um assassino jurasse que é inocente. O resultado, após quase 2 horas velozes, é tão divertido quanto rarefeito. O roteiro de Boaz Yakin, arquitetado para uma franquia, injeta premissas de romance que serão estruturadas nas sequencias, deixando buracos na trama. Como primeiro capítulo, “Now You See Me” é um truque barato que não acrescenta nada a nada, mas quer fazer você acreditar o contrário. Olhe com atenção.
Nota: 5
Titulo Original: En Kongelig Affære (2012)
Titulo Nacional: O Amante da Rainha
1766. A princesa Carolina Matilde (Alicia Vikander) deixa a Inglaterra aos 15 anos prometida em casamento para o primo Cristiano VII (Mikkel Boe Folsgaard), da Dinamarca, e encontra um rei com sinais de loucura. Ainda assim, a jovem rainha consegue engravidar na noite de núpcias, dando a luz ao herdeiro do trono. Obrigação cumprida, relacionamento cortado, até porque Cristiano VII preferia a companhia de prostitutas. Em 1768, Cristiano VII (ainda tendo surtos de loucura) contrata o médico alemão (iluminista) Johann Struensee (Mads Mikkelsen) para acompanha-lo, e a relação “médico paciente” logo se transforma em uma forte amizade, que será abalada não só pela paixão de Struensee pela Rainha Carolina, mas principalmente pelo controle que o médico passa a ter sobre Cristiano VII, que até então um fantoche do conselho do reino, passa a propor leis visando atender o povo, o que contrariava o desejo de controle da Igreja através da submissão. Melhor não estragar a surpresa sobre o que irá acontecer desse ponto em diante neste belíssimo e obrigatório filme de época, representante dinamarquês na categoria Filme Estrangeiro do Oscar 2013 (perdeu para “Amor”, de Haneke), que recria (em 2h e 16 minutos) o real e trágico escândalo político e matrimonial que decaiu sobre a Dinamarca no século 18, e que mudaria a história do país. Produção cuidadosa, “O Amante da Rainha” faz um recorte magnifico de um período conturbado da História europeia, e surpreende positivamente pela agilidade do roteiro tanto quanto pela recriação de época e pelo magnifico recorte histórico. Um grande filme.
Nota: 9
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne