por Leonardo Vinhas
Existem entrevistados (não só do meio artístico) que fazem o possível para ser evasivos, se esquivando de perguntas que possam expor suas contradições (quem não as tem?) ou aspectos discutíveis de seu trabalho (idem). Há ainda aqueles que, logo de cara, estabelecem assuntos “indiscutíveis”. Quando isso acontece, não há muito para o jornalista fazer: ou aceita ficar com o que tem – e entregar um texto superficial e insatisfatório – ou tenta buscar no silêncio as entrelinhas que possam dar algo mais sólido. Alternativas difíceis, que nem sempre dão bons resultados.
Por isso, foi surpreendente que Sebastián Cebreiro, um dos dois vocalistas do La Vela Puerca, tenha escolhido o caminho oposto, desistindo da entrevista por e-mail e optando por fazê-la por telefone. Nas perguntas encaminhadas via internet, havia muitos questionamentos sobre o que o jornalista acreditava ser a “juvenilização” das letras e da sonoridade da banda, conhecida por abordar com infrequente coragem os fantasmas do envelhecimento, da descrença e do rancor.
Cebolla, como Cebreiro é conhecido, disse que “por escrito, às vezes não se pode explicar bem o que você quer dizer, saem respostas curtas que não transmitem o que você pensa”. E não desviou de nenhuma das perguntas, embora as mais espinhosas tenham ficado para o final da entrevista, concedida antes de um ensaio para uma série de três shows que fornecerão material para um novo DVD da banda.
Embora La Vela Puerca tenha em outro Sebastián (Teysera, ou El Enano) seu frontman e compositor principal, muitas canções são cantadas a duas vozes com Cebolla. Ele ainda assume a voz principal em algumas canções, e é compositor ocasional. Começou na banda como percussionista e só foi pros backing vocals “porque ninguém mais queria”. No palco, é o mais carismático dos oito integrantes, saltando e gesticulando o tempo todo, e conclamando a participação do público com naturalidade e sem populismos.
Em novembro, a banda virá ao Brasil pela segunda vez: será headliner da segunda noite (27/11) do festival El Mapa de Todos, em Porto Alegre. A primeira vez foi “há muitos anos”, uma experiência que não foi muito feliz para a banda. Independentemente disso, o Brasil é parte importante do imaginário musical do octeto, que sempre declarou ter em bandas como Titãs e Legião Urbana suas maiores influências.
Aliás, eles organizaram uma homenagem à banda de Renato Russo em Montevidéu, tocam covers dessa cepa ao vivo (“Que País É Este?”, “Eu Sei”, “Bichos Escrotos”, “Nome aos Bois”, “O Beco”), tiveram Dado Villa-Lobos como convidado em shows, e Teysera até cantou canções do Legião em uma turnê que Dado e Marcelo Bonfá empreenderam com vocalistas convidados num período pré-Wagner Moura.
Essa enorme admiração pelo rock dessas terras foi um dos muitos temas nessa que foi a primeira entrevista da banda para um veículo brasileiro. E como é um dos temas mais agradáveis, foi por ele que começamos.
Como está a expectativa de vocês para esse show no Brasil em novembro?
Temos em conta que o Brasil definitivamente não olha muito para o resto da América Latina em termos musicais. Mas existe muito intercâmbio no teatro e nas artes plásticas, e muitos shows brasileiros chegam até Montevidéu. Por isso, mais que tocar, vai ser um privilégio. Nós [da banda] nos abastecemos de muitas bandas brasileiras.
Por enquanto só tem essa data de Porto Alegre confirmada. Vocês têm planos de estender a permanência por aqui?
Gostaríamos de tocar em São Paulo. Posso estar enganado, mas acho que Buenos Aires e São Paulo são as capitais do rock da América do Sul. Além disso, os Titãs são minha banda de cabeceira, e são de São Paulo. Você sempre quer tocar onde seus ídolos tocaram, passar pelos lugares onde eles estiveram, conhecer os espaços que abriram as portas para eles. Estive aí em 1998 e gostei muito da cidade.
É um pouco como Montevidéu, só que bem maior, sem praia e com bem mais loucura.
Sim, é uma loucura mesmo, mas isso é que fascina. E creio que deve ser o melhor lugar para uma banda tocar no Brasil.
Olha, vocês vão tocar em Porto Alegre, que tem recebido muito bem as bandas latinas. Esse festival no qual vocês vão tocar, El Mapa de Todos, trouxe várias delas. E há outras cidades com público bem receptivo ao que é novo, como Recife e Goiânia, que têm cenas underground bem fortes e festivais com muitas novidades.
Estamos totalmente ignorantes ao que rola no underground brasileiro, o que é uma pena. Já tocamos uma vez em Porto Alegre, há muito tempo atrás, um show com a Comunidade Ninjitsu. Foi algo totalmente despojado. Na época, fomos sem qualquer divulgação, não tínhamos nada nem perto da estrutura que temos hoje. Foram poucas pessoas, e em vez de tocar antes da Comunidade, tocamos depois. Quando o público viu que cantávamos em espanhol, boa parte foi embora (risos). Foi um pouco triste, nos deixou um gosto amargo. Mas te digo de coração que espero que as portas se abram. Não só por nós, mas pelas bandas de nosso país. Como eu te disse, o Uruguai como um todo se alimenta muito de música brasileira.
Mas essa coisa de encarar públicos menores faz parte da trajetória do La Vela Puerca, não? Por exemplo, hoje vocês têm um público considerável na Alemanha, mas os primeiros shows, em 2003, eram para menos de 50 pessoas.
Sim, totalmente verdade! E isso é uma das coisas que mais valorizamos como banda. Em 2003, na primeira vez que tocamos na Alemanha, tínhamos acabado de tocar para 10 mil pessoas aqui no Uruguai, e depois estávamos com uma plateia de 23 pessoas num vilazinha do interior da Alemanha. Naquela época, sentíamos que tínhamos o mundo todo para mostrar nossa música, e a verdade é que o mundo não nos conhecia, então toda noite tínhamos que sair e ganhar o público a partir do zero. Isso foi muito importante, manteve viva a banda. Agora, passados 10 anos dessa primeira turnê alemã, já temos públicos de mil pessoas ou mais nos shows que fazemos em cidades grandes, como Hamburgo. Como toda banda uruguaia, tivemos que dar duro.
Inclusive sobre isso, Roberto Musso (líder dos também uruguaios El Cuarteto de Nos) disse que “La Vela Puerca e No Te Va A Gustar foram as bandas que provaram que era possível viver de música no Uruguai, e se arrebentaram para isso”. Foi pesado assim?
Sim, foi um sacrifício muito grande. Quando a banda começou a ter um público muito grande, entendemos que não haveria muito mais crescimento no Uruguai e teríamos que sair do nosso país e bater em outras portas. Então fomos para Buenos Aires, que tem um mercado impressionante para bandas de rock. Foi uma coisa precária, de ter que dormir muitas vezes nos mesmos palcos onde tocávamos, ou nas casas de amigos, no chão. Demorou alguns anos até que fôssemos sem perder dinheiro, mas conseguimos que a banda se estabelecesse na Argentina, que tivéssemos um trabalho próprio por lá. Mas conseguimos, e ainda no caminho fizemos muitos amigos. Foi algo que gerou muitos frutos não só para nós, mas também para o rock uruguaio. Em certo sentido, tivemos uma parcela de responsabilidade nisso de despertar a curiosidade [para o rock uruguaio na Argentina], depois outros vieram e também fizeram seu trabalho. Hoje em dia o rock uruguaio está bem presente no cenário argentino.
Tanto que agora vocês vão fazer Luna Park de novo (nota: um dos principais espaços de shows na capital argentina, tão importante que as bandas costumam usar a expressão “fazer um Luna” como sinônimo do nosso “chegar lá”).
Três datas em agosto: 22, 23 e 24. Apresentamos o disco “Piel y Hueso” para 15 mil pessoas no [clube] GEBA (mesmo local que recebeu Morrissey em 2012 e deverá receber Bruce Springsteen em 2013), tocamos para 25 mil pessoas no Estádio Ferrocarril Oeste em 2007, e já tínhamos feito três Luna antes, tudo a graças as nossas canções, e temos o privilégio de voltar para mais três Luna, que serão mais 7, 8 mil pessoas, sei lá. Apesar dos 18 anos que levamos na estrada, continuam a acontecer coisas que nos surpreendem muito. Estamos fazendo tudo isso sem apoio de uma multinacional, sem gravadora, em plena independência! Quer dizer, às vezes é difícil de acreditar que conseguimos isso! Mas isso [essa independência] é importante para nós. Demora muito tempo para conseguir resultados assim, mas também dá para curtir muito mais os resultados.
Esse show vai ser diferente da apresentação que vocês vêm fazendo da turnê Piel y Hueso (que teve um show registrado aqui no S&Y)? Porque o disco novo tem só três faixas…
Na verdade, vamos gravar um DVD ao vivo. É a primeira vez que estamos comunicando isso publicamente. Esse DVD vai se chamar “Uno para Todos”, assim como o show. Às vezes você não tem um show novo para apresentar, mas como queríamos gravar um DVD, demos este nome (risos). Brincadeiras à parte, o que acontece é que, quando lançamos um disco, tocamos todas as canções dele, e depois fazemos, na mesma noite, o show “normal”. Porque um show não é só o que você, artista, quer apresentar, mas também o que o público quer ouvir. Não se pode ser óbvio, mas também não se pode ser egoísta. Sabemos que há pessoas que querem ouvir nossos sucessos mais antigos. Então, para este show, não será muito diferente. Vamos tocar temas de todos os nossos álbuns, inclusive algumas do disco de estúdio que faz parte de “Normalmente Anormal” e que não costumamos tocar ao vivo.
Mas imagino que vocês privilegiarão canções que não entraram no ao vivo do “Normalmente Anormal”.
Sim, estávamos pensando nisso e falávamos disso ainda há pouco. E não é só colocar as faixas que não entraram no anterior, mas aproveitar a oportunidade para contemplar aquelas canções que, por questões técnicas ou de momento, não foram registradas em disco como a gente queria. Então podemos até repetir canções do “Normalmente Anormal”, mas em outras versões. Neste momento, ainda estamos escolhendo as faixas, não temos uma lista definida. Mas vai ser diferente, sim.
Vamos falar então do disco novo, ou melhor, “minidisco”, como vocês mesmo chamam. Qual é o conceito musical por três de “Pasaje Salvo”?
Ele tem duas musicas que ficaram fora do “Piel y Hueso” e uma terceira que é nova. Nós nunca nos conformamos em ter um estilo, sempre buscamos as coisas que eram certas para o nosso momento. “Piel y Hueso” era um disco com canções para tocar ao vivo, trazíamos essa coisa forte, a galope. “Pasaje Salvo” é um pouco um resgate do que tinha ficado fora dele, com uma cereja no bolo, que é a nova, “De Amar”, que e algo diferente [do álbum anterior]. Mas algo em comum às canções do La Vela é que todas tentam deixar algo na cabeça das pessoas. As canções têm mais personalidade do que quem as compõe, elas muitas vezes nos transcendem e ganham identidade pessoal. O que posso te dizer é que, como sempre acontece, as canções de “Pasaje Salvo” são as que queríamos fazer
Tem uma coisa no “Piel y Hueso” – e por extensão, no “Pasaje Salvo” – que me parece que é a guinada para uma sonoridade e uma lírica mais adolescentes. Os discos anteriores vinham de tratar questões mais maduras, mais densas. “El Impulso” em especial: temas como “Neutro” e “Frágil” tinham uma reflexão diferente do que se propõe nesses dois discos mais recentes. Vocês veem dessa forma?
Pode ser que os últimos discos tenham certa rebeldia adolescente, mas tem também uma canção como “La Teoria”, que fala de como as pessoas se prendem de modo ferrenho a uma palavra, uma teoria, e não veem o todo. É uma canção que fala de amadurecer, de enfrentar a vida. “Sobre la Sien” e “Así Vivir” também falam de amadurecer. Elas deixam conceitos no ar que podem ser entendidos dessa forma. Foi o disco mais honesto que poderíamos fazer naquela época. É verdade que “El Impulso” foi outro momento, tocava em assuntos mais escabrosos e mais sombrios, as letras foram mais pesadas e mais sentidas. Mas não acredito que “Piel y Hueso” seja adolescente.
A impressão que tenho é que “El Impulso” tinha o peso da estrada sobre os ombros de vocês, como se as turnês intermináveis e o desgaste da estrada já os estivessem maltratando, machucando mesmo. Inclusive está ali “Sanar”, uma canção que é a banda refletindo de forma bastante melancólica sobre si própria.
“El Impulso” como um todo refletia isso. Era a época em que não parávamos de tocar. Estávamos tratando de sobreviver como banda, não podíamos parar, e isso tudo gerou essa contrariedade: gostávamos muito do que tínhamos, isso de ser uma banda e estar na estrada com suas canções, mas também precisávamos nos distanciar desse sistema para poder revalorizar a coisa toda de ter uma banda com os amigos e viver dela. A partir dessas dores saiu um disco que é, creio, muito sombrio e escabroso. Ainda assim, se investigar esses dois discos que vieram depois, você pode ver que tem sua parte madura, que há um tom adulto ali.
Talvez vocês tenham ficado mais relaxados em “Piel y Hueso”? Mais confortáveis?
Exatamente. E não vamos esquecer que tem a parte roqueira, bem alta e na cara, mas também tem a parte reflexiva: o disco 2 fala de amadurecimento, tem “3 Minutos”, que me faz pensar no futuro, passado e presente. Tem “Hoy”, tem canções nas quais você pode dizer que a sonoridade e os assuntos são distintos, e sim, mais adultos.
De fato. Mas colocar isso em dois discos separados acabava dando uma percepção diferente. Como se declarasse que os dois lados da banda já não se misturavam mais.
Veja bem, essas são duas faces da mesma moeda. Sempre tivemos essa cara mais tranquila, essas canções sempre existiram [em nosso trabalho]. Mas em um disco “normal”, de 12 ou 13 faixas, elas não poderiam coexistir com tanto espaço. Quando vimos que tínhamos tudo aquilo de canções mais lentas (nota: seis, que formam a íntegra do segundo CD de “Piel y Hueso”) e nos doía deixar alguma fora, decidimos fazer um disco duplo. Afinal, os dois lados nos representam. Os dois discos propõem dois estados de ânimos diferentes, é meio que o cérebro e o coração da arte que fazemos.
E foi arriscado, do ponto de vista mercadológico, sair com um disco duplo, não? Porque mesmo que as vendagens não representem a principal fonte de renda de uma banda, um disco duplo tem um custo muito alto. É um risco elevado, ainda mais para uma banda independente, que maneja seu próprio selo.
Com certeza! Pensamos: “como é o disco que queremos lançar?” E se estivéssemos em uma gravadora, seria o mesmíssimo disco, e teríamos que peitar a gravadora para defender nosso ponto vista. Então, o risco existiria de qualquer forma, porque queríamos que fosse um disco duplo, acreditávamos nessa necessidade. Sempre conduzimos nossa carreira na ponta de uma lança, e pensando muito no que queremos fazer. Não somos uma banda que grava um disco por ano, só gravamos um álbum quando temos canções que nos representam. Pegue “Normalmente Anormal”: foi a mesma coisa. Lançar um CD duplo com DVD pelo nosso próprio selo custou uma fortuna irrecuperável! O que empatamos em “Piel y Hueso” também não se recupera. Mas vamos e fazemos isso, para que possa tocar ao vivo e continuar nossa história. Para “Piel y Hueso”, preferimos sair do convencional: nada de fazer pré-produção, entrar em um estúdio e gravar. Alugamos uma chácara e praticamente fomos morar quatro meses lá. Alugamos equipamento de Buenos Aires, trabalhamos nas composições, fizemos como quisemos, e se não tivesse sido assim, não teria sido o disco que é, e que nos representou naquele momento, e do qual estamos orgulhosos.
Me chamou a atenção também como tem muitas composições suas ali. Nunca houve tantas composições suas nem dos outros integrantes nas composições como há em “Piel y Hueso”. E fiquei pensando se não seria porque Teysera não estava se sentindo mais à vontade com o papel de ser o compositor principal.
Essa banda começou com um punhado de canções que Sebá (Teysera) tinha. A partir delas que a banda nasceu. E eu comecei a compor nessa banda, não sabia compor antes. Fui para os vocais de apoio porque ninguém queria fazer, mas eu não sabia e aprendi nessa banda. Tudo o que sei de música aprendi com essa banda. Sebá é um compositor muito forte, e faz canções que chegam em um nível… E para fazer canções nessa banda, elas têm que chegar a esse nível. Não por prepotência dele ou algo assim, mas porque sabemos quão alto é o padrão que ele estabeleceu com o que ele faz. Ele é um intelectual, um poeta, lê muito, tem ideias incríveis. Eu já fiquei com muitas canções na minha casa, que não entravam nos discos porque entendi que havia muitas melhores. Não nos importava, nunca importa, de quem são as canções que entraram. Mas veja, sempre teve espaço para todos. “El Viejo” é um de nossos maiores sucessos, e é de Nico (Lieutier, baixista). O último tem muito mais canções minhas em parte porque o disco tem mais faixas, claro, mas porque escolhemos, como sempre, as que ficavam melhores no disco, e calhou que havia algumas minhas nesse grupo. Depois de 18 anos, todos entendemos qual é nosso papel na banda. Sebá é o compositor, mas durante a escolha do repertório de um disco, a ênfase é nas canções, e não de quem elas vêm. Sempre dissemos que a banda está à frente das pessoas. Os egos pessoais não podem modificar sequer o arranjo de uma canção, quanto mais dizer o que entra ou não em um disco!
Sendo independentes, como é para vocês a questão do download ilegal? Porque veja, é fato que muita gente – como seus fãs brasileiros, por exemplo – só conheceram a banda porque baixaram os discos ilegalmente, já que não há como comprá-los aqui.
Nunca disse que nunca tinha baixado música na minha vida, como interpretaram algumas pessoas sobre umas coisas que falei. Mas a verdade é que eu gosto de vinis, de ter os CDs originais das bandas que gosto. Sempre comprei, e continuo comprando, muita música. O que disse é que tem que haver certa coerência na hora de escutar a música, porque uma coisa é difundir, outra é extinguir. Uma das minhas bandas preferidas, La Chancha Francisca, sempre foi independente. Isso no Uruguai quer dizer pouquíssimos discos, uma dificuldade enorme para gravar e lançar. Se você piratear sempre uma banda como essa, um dia ela vai deixar de existir, porque não terá como bancar seus discos. Mas quando gosto de uma banda, tenho que cuidar para mantê-la viva. Se vou até a porta de um açougue para presentear carne a quem estiver passando, o açougueiro vai me matar! Não posso comprar todos os discos que gosto, e a internet facilitou muito a transmissão de bandas que você não conhece, reconheço que isso já não pode faltar, mas não pode ser ao custo de matar as bandas. Eu não consumo música pirata, ainda mais uma banda independente – até porque sou uma delas e peço o mesmo para mim. É a única maneira que tenho de continuar fazendo o que faço. Não posso ser o cara que eternamente o cara que vai perder grana com a música.
O Pez recentemente fez shows no Brasil e seu líder, Ariel Minimal, disse em todas as apresentações que “a música é o importante, e o disco é um souvenir”, por isso disponibiliza toda a discografia da banda para download gratuito no site deles. O que você acha disso?
Respeito muito o que o Minimal acha, mas isso tem a ver com a estrutura de que cada banda dispõe. Se nós tivéssemos um ótimo estúdio, uma sala nossa, com os padrões dos estúdios onde já gravamos, seria lindo, e provavelmente poderíamos fazer o mesmo. Podemos nos dar ao luxo de fazer algo como “Pasaje Salvo”, que é um presente aos fãs, mas essas canções nos custaram dinheiro. Pagamos estúdio, com técnicos e assistentes, nunca vamos recuperar o gasto, mas já sabíamos que seria assim. Só que não pode ser assim a vida inteira. Isso é uma balança, e não pode pender sempre para lado da banda. Insisto: difusão não tem – não pode – ser extinção.
Pra terminar: no documentário “Normalmente Anormal”, o Enano diz que essa expressão, a do título, é a que define a maneira como o La Vela Puerca faz as coisas. Essa definição segue vigente?
Totalmente! Nunca uma banda uruguaia havia ido à Europa em turnê. Nunca uma banda de rock uruguaia pôde sobreviver de sua música. A possibilidade de fazer uma turnê pelos Estados Unidos, tocar para 25 mil pessoas na Argentina… Se você se põe a pensar nas coisas que aconteceram e ainda acontecem, é tudo normalmente anormal.
Quem sabe com essa passagem pelo Brasil em novembro, vocês não viram a primeira banda uruguaia a dar certo por aqui?
(risos) Deus te ouça, Leonardo! Estamos empolgados só de poder tocar aí, mas poder ter um público que nos permita voltar muitas vezes é um sonho lindo demais!
– Leonardo Vinhas (@leovinhas) assina a seção Conexão Latina (aqui) no Scream & Yel
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