Discos do Ano #02
Random Access Memories: Que disco!
por Rodrigo Levino
Artista – Daft Punk
Álbum – “Random Access Memories”
Lançamento – 17/05/2013
Selo – Columbia
Acho que é numa crônica de “Miúdos Metafísicos” que Arthur Dapieve diz que – ou algo próximo disso — Smiths foi a última banda pelo qual se esperou muito um novo disco.
É uma bela boutade, né, mas tem mais. Sem ser nostálgica, a frase congela as cenas de uma espera que não existe mais. Tudo é ultradocumentado e um download não custa mais do que 3, 4 minutos.
Escolher não saber, não ler a respeito, não comentar, não assistir aos vídeos, se contentar com o mínimo de informação foi meio que o jeito que arrumei [quis, na real] de esperar “Random Access Memories”, do Daft Punk. E foi massa.
É bom quando a gente espera um bom disco, do começo ao fim, cheio de canções que por serem canções estão a um pezinho do mais cafona [só melhora], um disco de transas musicais, bom de ouvir [nome de um bom groove de Ricardo Silveira, aliás], de dançar, e ele vem inteiriço, ‘abissal/ como um navio entrando na nave/ de uma catedral’, como diz o poema de Nei Leandro de Castro.
E tudo bem se a crítica isso ou você aquilo, sua opinião e a dos outros etc. etc. etc.. O bom de tudo, repito, foi isso mesmo: não ouvir nada, procurar não saber, deixar o disco ser o que ele é: só um disco. E um disco pode muito.
Ps.: “Random Access Memories” pode muito porque abre à la Quincy Jones, com uma música [“Give Life Back to Music”] que tem Nile Rodgers e Paulo Jackson Jr. juntos tocando guitarra; porque “The Game of Love” é o melhor tributo a Sade que jamais será feito; por ‘my name is Giorgio Moroder, but everybody calls me Giorgio’, antes de o universo ser terraplanado por Omar Hakim na bateria; porque tem Pharrell cantando como nunca antes nem com tanta liberdade – e que linha de baixo!; porque a voz rascante de Paul Williams cantando ‘tell me what you see/ I need something more’ me emociona; por “Get Lucky”, que é um hit de época, um tributo à batida perfeita, encontrada há milianos, vide Nile Rodgers; porque não é um sintetizador em “Beyond”, é Greg Leisz tocando pedal steel e lap steel; e porque ‘I’ll just keep playing back/ These fragments of time/ Everywhere I go/ These moments will shine’. Que disco.
Rodrigo Levino é jornalista e editor assistente do caderno Ilustrada, da Folha de São Paulo.
Semanalmente teremos um convidado no Scream & Yell escrevendo sobre o disco do ano
Especial Melhores de 2013:
– Disco do Ano #1: “Fade”, do Yo La Tengo, por Cristiano Castilho (aqui)
– Disco do Ano #3: “…Like Clockwork”, do QOTSA, por Mariana Tramontina (aqui)
– Disco do Ano #4: “Shaking the Habitual”, do The Knife, por Tiago Ferreira (aqui)
– Disco do Ano #5: “The Next Day”, de David Bowie, por Carol Nogueira (aqui)
– Disco do Ano #6: “Nocturama”, de Nick Cave & The Bad Seeds, por Gabriel Innocentini (aqui)
– Disco do Ano #7: “Dream River”, de Bill Callahan, por João Vitor Medeiros (aqui)
– Disco do Ano #8: “Foi No Mês Que Vem”, de Vitor Ramil, por Thiago Pereira (aqui)
– Disco do Ano #9: “Tooth & Nail”, de Billy Bragg, por Giancarlo Rufatto (aqui)
– Disco do Ano #10: “13?, do Black Sabbath, por Marcos Bragatto (aqui)
– Disco do Ano #11: “Estado de Nuvem”, de Bruno Souto, por José Flávio Júnior (aqui)
Leia também:
– “Random Access Memories” marca guinada no estilo do Daft Punk, por Marcio Padrão (aqui)
Eu acho que o título de disco do ano ainda é do The Next Day, mas Get Lucky já garantiu o título de música do ano, indiscutivelmente.
Também achei RAM um ótimo disco.
Compartilho da técnica de não querer saber nada de um disco que esteja esperando pelo lançamento. Faço isso com todos os lançamentos do Elton John.
Começam a pipocar singles, lyric videos, apresentações ao vivo, snippets, making ofs, e eu não vejo nada. Guardo tudo pra ver depois que consigo comprar o disco e ouvi-lo na tranquilidade da minha sala. Está sendo assim mais uma vez com The Diving Board, que sai em setembro/outubro.