por Adriano Costa
Phil Spector foi uma figura muito marcante no cenário musical dos Estados Unidos, principalmente nas décadas de 60 e 70. Como compositor e, principalmente, produtor criou a técnica de gravação Wall of Sound e emplacou sucesso atrás de sucesso. Do seu repertório saíram canções como “Be My Baby” com as Ronettes e “Unchained Melody” com os Righteous Brothers. Além disso, trabalhou com os Beatles no fatídico “Let It Be” e posteriormente com John Lennon, George Harrison, Ramones e Leonard Cohen, entre tantos outros.
Histórias da música pop alardeiam que seu talento musical é proporcional a sua loucura. Em 2003, já com 60 e poucos anos e bem mais recluso do que em sua época de ouro, Spector foi acusado da morte da atriz Lana Clarkson, a qual teria levado para a sua mansão, colocado uma arma na boca dela e atirado. Apenas Phil Spector e Lana Clarkson estavam no quarto na hora do crime, e o primeiro julgamento, em 2007, foi declarado nulo pelo juiz devido ao fato do júri não ter sido unânime. No segundo julgamento, de 2009, Spector foi condenado.
Foi em cima dessa história de crime e julgamento que o experiente diretor David Mamet resolveu ambientar o filme “Phil Spector”, mais precisamente na fase do primeiro julgamento. David Mamet é mais conhecido pelo seu trabalho como roteirista em filmes como “O Veredicto” (1982), “Os Intocáveis” (1987) e “Mera Coincidência” (1997). Em “Phil Spector” ele também assume essa tarefa. Com produção da HBO voltada para a televisão, o longa começou a passar nos canais da rede aqui no Brasil recentemente.
Em pouco mais de uma hora e meia o que vemos é um trabalho que não encontra forças para se afirmar. Fica no meio termo entre ser um filme de tribunal e uma rasa biografia. Enquanto filme de tribunal não apresenta nada de novo e não se sobressai a cânones do gênero, pois não gera tensão alguma, uma vez que já se sabe o resultado final da jornada. Como biografia, deixa ainda mais a desejar, pois simplesmente “arremessa” alguns dados da carreira de Phil Spector, utilizando esses dados mais como adereço do que informação.
Um telespectador menos atencioso ao mundo pop irá se surpreender quando, no filme, Spector exibe o piano em que Lennon compôs “Imagine”, ou, sem nenhum preambulo, afirma que convenceu Paul McCartney sobre as orquestrações em “Let It Be” (numa das raras boas tiradas do filme). Em 1970, dois meses após as últimas sessões de gravação do álbum, Lennon, sem consultar Paul, passou as fitas para que o produtor remasterizasse. O resultado é o último álbum dos Beatles. Inconformado, 33 anos depois, Paul relançou o álbum como “Let It Be… Naked”, sem a parte de Spector.
Essa e outras histórias (como a que ele teria apontado uma arma para Dee Dee durante a mixagem de “End of the Century” – o Ramone negou posteriormente – ou se trancado no estúdio com as fitas masters de “Death of a Ladies’ Man”, quinto álbum de Leonard Cohen, para que o cantor não participasse do processo) ou não aparecem ou são meros adereços num filme que se propõe usar o personagem apenas para ilustrar uma sessão de tribunal. “Phil Spector” foca apenas na história trágica, e não mergulha na mente perturbada de um dos grandes nomes da música pop.
De bom em “Phil Spector”, só mesmo a dupla Al Pacino e Helen Mirren (Jeffrey Tambor, da série “Arrested Development”, também integra o elenco), mas nem mesmo uma grande dupla de atores consegue salvar um trabalho raso. Em meio a um desfile de perucas e pensamentos não muito conexos da figura retratada, Al Pacino mostra todo seu talento, ainda que atrapalhado pelo insosso roteiro e a incipiente direção de David Mamet. Um tremendo desperdício do personagem que dá nome ao filme.
– Adriano Mello Costa (siga @coisapop no Twitter) e assina o blog de cultura Coisa Pop