por Bruno Capelas
“Songs for Slim”, The Replacements (Independente)
Ah, o clichê das reuniões de velhos amigos. Os sujeitos da vez são os Replacements, rapazes dos anos 1980 que despedaçaram muitos corações com riffs matadores de guitarras e letras contundentes. Entretanto, ao contrário de muitos contemporâneos, a volta do grupo de Paul Westerberg nada tem de oportunista. “Songs for Slim”, primeiro trabalho da banda em 23 anos, tem como objetivo levantar fundos para o tratamento de Slim Dunlap, ex-guitarrista do conjunto, que sofreu um derrame em 2012. Ao fã xiita, vale o aviso: deixe a expectativa de lado. Apenas Westerberg e o baixista Tommy Stinson participam do disquinho, e não há aqui nenhuma nova canção vinda diretamente de Minneapolis (o EP traz cinco covers nada óbvias). À primeira escutada, os instrumentos parecem desafinados e os arranjos, desalinhados – especialmente nas faixas de abertura (“Busted Up”) e encerramento do EP (“Everything’s Coming Up Roses”). Mas calma: a velha energia da banda ainda está presente, e ela atinge um ponto altíssimo em “I’m Not Sayin’”, uma pérola escondida de Gordon Lightfoot que não passaria despercebida se colocada em “Tim” (1985). Pode parecer pouco, mas é mais que suficiente para quem quer relembrar os velhos tempos em prol de um bom amigo. Saúde!
Preço: R$ 60 (apenas em vinil). Há também versão em MP3 à venda
Nota: 6
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– “Stereo / Mono”, uma aula de independencia de Paul Westerberg, por Mac (aqui)
“The Happiness Waltz”, Josh Rouse (Yep Roc Records)
Há 15 anos na estrada, o norte-americano Josh Rouse se notabilizou por uma receita musical: seu principal ingrediente é o folk-rock, com pitadas do easy listening a la James Taylor e um certo molho (de soul) branco cujo resultado lembra muito os bons momentos do Simply Red. Se, graças a uma mudança de ares e amores o cantor incluiu certo tempero espanhol em sua mistura, em “The Happiness Waltz”, seu décimo álbum, Rouse volta a cozinhar pratos que o consagraram tempos atrás (vale muito conferir a dobradinha “1972” e “Nashville”, respectivamente de 2003 e 2005). Trocando em miúdos: o créme de la créme do compositor são canções ensolaradas, saudando as coisas pequenas e bonitas da vida (“prazeres simples são tudo o que eu preciso/quando você está perto de mim”, declara na suingada “Simple Pleasures”), sem pretensão alguma de mudar o mundo, mas não por isso incapazes de deixar o seu dia mais feliz. É o que provam “This Movie’s Way Too Long” e “Julie (Come Out of The Rain)”, duas baladas que seriam figurinha fácil nas paradas de sucesso nos radinhos de pilha da década de 1970, mas hoje são apenas capazes de provocar sorrisos em paladares que não se contentam com o pop fast-food nosso de cada dia. Sinal dos tempos.
Preço: R$ 50 (importado)
Nota: 6,5
Leia também:
– “El Turista” é próximo passo da conversão do passaporte de Josh Rouse , por Mac (aqui)
– “The Best of The Rykodisc Years” lança luz sobre a bela carreira de Josh Rouse, por Mac (aqui)
“Wakin’ On a Pretty Daze”, Kurt Vile (Matador)
Quarto disco de uma carreira iniciada em 2008, “Smoke Ring For My Halo” (2011) fez o nome de Kurt Vile aparecer para o mundo, graças a pop songs nubladas de boa estirpe lo-fi (vá correndo ouvir “Baby’s Arms”). Após um tempo excursionando com Thurston Moore (incluindo uma passagem por São Paulo em abril de 2012), Vile retorna à baila com “Wakin’ On a Pretty Daze” – em bom português, “acordando em um belo torpor”. O nome do álbum não poderia ser mais apropriado. Apoiado em guitarras sujas e violões impressionistas, Vile deixa de lado as canções de curta duração (mais da metade das onze músicas do disco tem mais de seis minutos!) e embarca em uma jornada psicodélica, ensolarada e preguiçosa. Os melhores momentos da viagem são a abertura “Wakin’ On a Pretty Day” e seus nove hipnóticos minutos, e “KV Crimes”, conduzida por um riff de rock clássico tocado de maneira desleixada (alô, “Sweet Jane”). Boas paradas também podem ser encontradas nas fofas “Girl Called Alex” e “Never Run Away” e na força de “Goldtone”, que segue as marcas de pneus deixadas por J. Mascis e Neil Young. Ainda há muito para se andar, mas até agora não se pode dizer que Kurt Vile não percorreu um bom caminho.
Preço: R$ 50 (importado)
Nota: 7
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– Bruno Capelas (@noacapelas) é jornalista, escreve para o Scream & Yell desde 2010 e assina o blog Pergunte ao Pop.
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