por Izabela Costa
Os paulistas da Holger estão em ritmo de festa. Com disco novo debaixo dos braços, “Ilhabela”, lançado em novembro de 2012 (e disponibilizado para download aqui), a banda que mistura axé, eletrônico, pop, rock e um tantão assim de malemolência e simpatia, quer fazer barulho “para agradar quem tá nessa com a gente”. É uma nova fase de um grupo que, apesar de ter lançado apenas um álbum oficial (“Sunga”, de 2010), já teve várias fases.
“A nossa música mudou tanto quanto as nossas pessoas”, justifica Marcelo Altenfelder (guitarra e vocais), o Pata, em conversa por telefone com Izabela Costa, do programa de rádio e site Perdidos no Ar. No transito, a caminho de sua casa, Pata falou sobre rótulos, piadas internas, correria, projetos futuros e comida. E avisou: “A gente não se leva a sério”, mas “não somos uma piada”. O resultado completo da ligação você confere agora:
No começo da carreira, logo que a banda surgiu, a sonoridade e até mesmo a postura da Holger era um tanto quanto diferente da fase atual. Hoje em dia dá pra sentir mais energia nas músicas, além das composições que agora já rumaram de vez para o português. Como que se deu todo esse caminho? Foi algo espontâneo ou já era um destino certo escolhido pela banda?
A nossa música mudou tanto quanto as nossas pessoas. Quando começamos com a banda a gente contava com 19, 20 anos de idade e hoje eu já tenho 26. Então é assim, tudo que eu vivi e o que o resto da banda viveu refletiu nas nossas músicas. Viajamos muito, tocamos com outras bandas, conhecemos muita gente diferente. Foi um acúmulo de referências mesmo.
Levando em consideração todo esse acúmulo de referências e todo o trabalho feito pelo grupo até hoje, você acredita que exista um rótulo específico para o tipo de música que a Holger faz?
Eu acho que não, mas quem quer criar [um rótulo], cria. Nos enquadramos com uma série de bandas por aí, o que pode nos colocar num certo nicho, mas definir um rótulo já é mais difícil. Quando me perguntam, eu costumo dar uma resposta diferente, só para facilitar a resposta. Ás vezes eu falo pop rock, ou algo mais para o eletrônico. Para cada pessoa penso numa resposta diferente.
Sobre o “Ilhabela” [último disco, lançado em novembro de 2012], queria entender mais como foi todo o processo de produção, a relação de vocês com o produtor Alex Pasternak (Lemonade). Houve bastante diferença entre esse disco e o antecessor, “Sunga” (2010)?
O “Sunga” a gente criou num espaço de um ano, entre ensaios. Um chegava com uma ideia e o outro com mais uma. Algumas vingavam e outras não. Talvez por isso seja um disco com menos unidade que o “Ilhabela”, que foi praticamente composto em dois meses, pois tínhamos na mente que agora era hora de fazer um disco mais conciso. E como fazer isso? Escrever as músicas numa tacada só. Tirando as duas faixas escritas com o Bonde do Rolê, “Pedro” e “Treta”, a gente pensou em tudo lá na Casa do Mancha [casa do agitador cultural Mancha, localizada no bairro da Vila Madalena, São Paulo. Serve como local de ensaio e de pequenas apresentações musicais] . Tocávamos diariamente, eram mil riffs e mil letras que iam e vinham, e isso nos ajudou a estar abertos a qualquer tipo de ideia. Em “Ilhabela” abonamos a censura e por isso ele saiu como um disco mais sincero. Além do mais, ele foi composto em português, o que muda muito. Tivemos de reaprender a compor.
E sobre o Alex?
O Alex é um cara do meio eletrônico, que tem referências parecidas com as nossas. Ficamos extremamente satisfeitos com todo o trabalho, independente se vai vender ou não. Existe aquele orgulhinho de saber que fizemos tudo ali, acho que é isso que mais importa pra gente.
Logo que “Ilhabela” saiu eu li muitas resenhas que criticavam um ponto em comum: a fraqueza das composições. Entre os argumentos mais expostos, alguns textos diziam que o disco não passava de uma grande piada interna da banda, na qual os ouvintes ficavam sem entender muitas coisas. Por outro lado, em uma entrevista recente, você disse que “Ilhabela” foi feito por vocês e para vocês. Rolou mesmo essa questão de ‘piada interna’ junto a uma preocupação de incluir o ouvinte, ou nada disso que eu te pergunto faz sentido?
Quando começamos a compor em português, pensávamos em tudo que falamos, imaginamos e até mesmo os amigos que fazemos em português, esse tipo de coisa que acontece no dia a dia, que é o que nos toca de fato. Eu penso assim: estou no trânsito e essa demora vai me atrasar cinco minutos, um tempo que vai mudar todo o resto da minha existência. Essas coisas pequenas e simples, elas têm um impacto tão grande na vida, que foi justamente delas que decidimos falar. Parte da crítica sempre espera uma seriedade, não só na letra, mas em todos os aspectos. Não estou querendo dizer que a Holger é uma piada, nós não somos uma piada. São apenas bobeiras do dia a dia que musicamos, vai da sensibilidade e do gosto. Acho muito mais clichê tentar imitar o Los Hermanos, o que vemos em 99% das bandas brasileiras, né? Estamos sempre abertos às críticas, mas enfim, impor uma seriedade, se levar a sério demais… A gente não se leva a sério.
Em uma outra entrevista, li que na hora de organizar as faixas houve um embate entre a banda e o Alex, porque este queria que a canção “Ilhabela” fosse a primeira e o grupo que ela fosse a última, como de fato ficou. Houve mais alguma curiosidade de bastidores como essa?
Não entraram três músicas e a letra de “Ilhabela” foi um parto, ela quase nem existiu por causa disso. Um dos meninos falava “eu não gosto”, então fazíamos tudo de novo, depois outro falava que não gostava, a gente arrumava de novo. Em alguns momentos ninguém aguentava mais, no entanto todos sabiam que ela era uma das nossas melhores músicas. Passei uma noite em casa rabiscando papel até a letra final sair. Em “Abaía” teríamos uma participação da Banda Uó, mas por conta de incompatibilidade de agendas, acabou não rolando também.
Sobre a experiência de se apresentar no Lollapalooza este ano, como foi? Li e ouvi muitos elogios. Foi bom mesmo? Deu tudo certo?
Fiquei mais feliz do que imaginava. Tocamos à uma e meia da tarde, e era cedo para um feriado. Então boa parte do público que estava lá foi pra ver a gente mesmo. Não faço ideia de quanta gente tinha, mas sei que era o suficiente. Eles cantavam as letras, fiquei extremamente feliz com isso. Não saberia dizer se foi a melhor apresentação do Holger, mas uma das mais importantes, sem dúvida. E era o passo que tínhamos de dar agora, nessa fase, sabe? Tocamos muito concentrados, algo que as pessoas não estão acostumadas a ver. Sempre nos viam bêbados, brincando sem parar, mas uma vez com o “Ilhabela” pronto, vimos que seria difícil de tocá-lo. No começo da banda eram três acordes, muito mais fácil de tocar. Dessa vez não, a gente quis tocar direito, então decidimos não beber e nos concentrar.
Todos os integrantes possuem outras atividades profissionais, correto? Qual a dinâmica de organização da banda para fazer tudo acontecer?
O Arthur [Britto, bateria e guitarra] acabou o doutorado de Filosofia, em Lógica. Eu me formo médico em maio do ano que vem; o Tché [guitarra, bateria e percussão] e o Pepe são formados em Audiovisual. Inclusive o último clipe lançado, “Se Você Soubesse”, foi ele [o Tché] quem editou, ele é muito bom no que faz. Mas assim, é difícil, cada um dá seu jeito, tentamos sempre achar um denominador comum para ensaiar. Por exemplo, nas últimas 48h, se eu dormi seis, foi muito. É bem difícil, mas eu e os meninos gostamos muito de todas as nossas atividades.
Mas existe uma ideia de que se a Holger estourar, vocês abandonariam suas respectivas profissões para se dedicar exclusivamente à banda?
Se por um acaso chegarmos num nível que valha a pena, financeiramente falando, talvez podemos pensar em largar tudo. Só que acho isso tudo muito difícil, uma vez que eu sou completamente apaixonado pela medicina. Mas eu também sou completamente apaixonado por música, não vou largar nenhum dos dois. E sei que o Arthur também é doido por Lógica, o que já é uma doidice em si [risos]. Mas o resto dos meninos, acho que largariam tudo sim. Eles não são profissionais que precisam estar num lugar fixo. Pra gente a música é trabalho levado a sério, maior do que uma paixão ou um hobby. Mas não acredito que vai crescer a ponto de ter de abandonar tudo. Você até pode se iludir em alguns momentos, com sucesso, “nome na lista”… Mas depois você se distancia, dá uma respirada e vê que aquilo não é nada. É tudo gostoso, mas não significa nada.
E como que está 2013 da Holger? E a divulgação do “Ilhabela”?
A meta é fazer um clipe para cada música, não abro mão disso. Gostamos muito de cinema, então vamos fazendo. Até agora já temos sete clipes gravados. Lançamos um, e os demais estão em processo de edição. Na verdade, são poucas as faixas que estão sem ideia de vídeo, a maioria tem até quem dirija. Agora, em relação aos shows, o plano é tocar onde as pessoas quiserem nos ver. Gostamos muito de tocar e a ideia é fazer o máximo de shows que conseguirmos dentro dessa nossa complicada agenda. Vamos tocar para quem está com a gente, pra essa galera vamos dar nosso melhor. Eu quero tocar no Japão! [risos] Já que é meta, né? Meta ás vezes você nem cumpre… Mas sim, estamos recebendo muitas propostas legais para tocar em diferentes lugares do Brasil. Com a correria do Lollapalooza nem pude ver direitinho, mas sei que já estamos confirmados na Virada Paulista, no final de semana dos dias 25 e 26 de maio. Saudades de tocar no interior paulista, a comida é ótima!
– Izabela Costa (@izarcosta) é editora do programa Perdidos no Ar. Entrevista publicada originalmente no site do programa: http://www.perdidosnoar.com.br/.
– Foto do Holger por Camila Cornelsen.
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