por Adriano Costa
O ano era 1962 e estreava nos cinemas “007 Contra o Satânico Dr. No”, com Sean Connery no papel do agente britânico idealizado por Ian Fleming nos livros. De lá para cá, nos 50 anos que se passaram, a franquia de espionagem mais charmosa do planeta gerou 22 filmes, com direito a seis atores usando as vestes do personagem. Em 2012, “007 – Operação Skyfall” chega com a missão de comemorar o cinquentenário dessa história, como também afirmar de vez algumas premissas e moldar os caminhos para o futuro.
Um dos ingredientes do pacote 007 século 21 que necessita de afirmação é Daniel Craig. Sua passagem como Bond, James Bond, desembarca agora no terceiro filme, sendo que nos dois anteriores ele ainda não havia convencido plenamente no papel do agente britânico, apesar dos números de bilheterias mostrarem o inverso. O diretor Sam Mendes, vencedor do Oscar por “Beleza Americana” (1999) e ainda indicado como Melhor Diretor por “Estrada da Perdição” (2002) e “Foi Apenas Um Sonho” (2008), é outro que ganha chance de reaparecer, além da MGM, empresa que detém os direitos e que passou por um processo de falência recentemente.
“007 – Operação Skyfall” abre com um dos principais nomes da música pop atual, Adele, cantando o novo tema do agente e traz ao cabo uma sequência matadora de ação (que remete muito ao recente “O Legado Bourne”, do diretor Tony Gilroy), que culmina em Bond atingido por um tiro equivocado da sua companheira de MI6, Eve (Naomi Harris). Logo em seguida, o agente secreto é dado como morto e o filme nos leva até ele em uma ilha bebendo tudo o que é possível, enquanto sucumbe à própria preguiça e desgosto. Até que ele vê na televisão que o antigo órgão onde trabalhava sofreu um atentado.
Com a vida de M (Judi Dench, sempre excelente) em jogo, 007 não vê outra saída senão voltar e resolver tudo. Dobra-se ao chamado quase inevitável de bancar o herói novamente. Para achar o responsável por trás do ataque, Bond precisa se sujeitar a uma série de testes físicos e psicológicos para mostrar que ainda está apto para a missão, principalmente aos olhos do novo chefão da agência, Gareth Mallory (Ralph Fiennes). Essa necessidade de se mostrar ainda útil ainda transforma-se, na verdade, em sua grande motivação.
É nesse momento que “007 – Operação Skyfall” joga todas as cartas na mesa. Mantendo a opção (seguida por quase toda Hollywood nos últimos anos) em fazer filmes cada vez mais realistas, o roteiro insere um vilão (Javier Bardem) que não quer destruir o mundo, mas apenas saciar desejos de enriquecer e de conseguir vingança. O Q (espécie de cientista maluco do bem) do MI6 agora é um nerd com paixão por computadores (Ben Whishaw) e não inventa engenhocas mirabolantes. E para dar um último realce, envolve um dramalhão sobre carências maternas e traições de confiança.
O diretor Sam Mendes, apoiado no roteiro de John Logan, brinca de modo constante com presente e o passado na tentativa de deixar as coisas mais viáveis. No entanto, parece esquecer que nos filmes do agente, a figura principal sempre tem que ser Bond. Daniel Craig, mesmo melhorando desde a estreia em “Casino Royale”, ainda não demonstra o charme, o humor e a vaidade que cunharam a marca 007. Assim, o filme é um prato vistoso e elaborado com bons ingredientes, mas ainda insípido ao paladar.
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– Adriano Mello Costa (siga @coisapop no Twitter) e assina o blog de cultura Coisa Pop
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