por Marcelo Costa
“O Disco do Ano”, Zeca Baleiro (Som Livre)
Quatro anos sem lançar um disco de inéditas (a dobradinha “O Coração do Homem Bomba” é de 2008) e de volta a uma grande gravadora, Zeca Baleiro mostra que continua afiado em sua aproximação do pop à Lulu Santos com o popular à Odair José alcançando um resultado tão homogêneo que faz a brincadeira do título (presente na hilária provocação aos críticos de “Mamãe no Face”, uma das músicas do ano, que enfileira possíveis elogios de Caetano, da Folha de São Paulo, da Veja e da Piauí, entre outros) não parecer a toa. Ele colheu parcerias com Hyldon (“Calma Aí, Coração”, que ganhou um interessante arranjo eletrônico), Frejat (“Nada Além”, que havia sido gravada no terceiro – e tenebroso – disco solo do cantor do Barão Vermelho, e surge melhor resolvida aqui) e Wado (“Zás”) além de convidar Chorão (que dueta no rap limpinho “O Desejo”), Margareth Menezes (que reforça o reggae longo demais “Último Post”) e Andréia Dias (que distribui sensualidade na oitentista e bacana “Meu Amigo Enock”), e conquista com a simplicidade da vibe Lulu Santos da pop song refrescante “O Amor Viajou”, do soul romântico “Ela Não Se Parece com Ninguém” e da provocativa “Tatoo”, que, com arranjo de cordas, questiona as declarações de amor eternas que permanecem na pele após o fim do romance – todos retratos de um artista que merecia estar na moda.
Nota: 7
Preço em média: R$ 25
“Sintoniza Lá”, BNegão e os Seletores de Frequência (Coqueiro Verde)
Foram nove anos de janela, e muitos tantos com Bernardo Santos andando com este “Sintoniza Lá” debaixo do braço, sem uma condição ideal de lança-lo. O atraso significativo do lançamento – ao mesmo tempo em que fez com que alguns dos cavalos de batalha do álbum soassem menos incendiários do que se fossem lançados há quatro, cinco anos atrás (principalmente no que tange as influências afrobeats) – parece ter encontrado o momento certo para que o artista se encaixasse neste novo cenário nacional ainda em formação/adaptação, o que sua presença na cerimonia de encerramento das Olimpíadas de certa forma referenda. No som, “Sintoniza Lá” empolga e faz o corpo balançar ao som poderoso de funks, grooves e latinidades enquanto BNegão escorrega em algumas tiradas politicamente corretas de DA de faculdade (como “Quem mata a sede é agua; e não refrigerante”, de “Vamo!”), mas crava algumas fortes concorrentes a canções do ano, como “O Mundo (Panela de Pressão)” e a sensacional “Essa é Pra Tocar no Baile”, da bela frase “Essa é pra quem sabe que a diferença de uma festa de bacana pruma festa bacana não é mero detalhe”. Preste atenção nas letras, valorize as sacadas, releve os conselhos baratos e, sobretudo, sinta o groove: é poderoso.
Nota: 7
Download gratuito: http://www.bnegaoseletores.com.br/
“Avante”, Siba (Independente)
Após dois belos álbuns solo em que o sotaque regionalista agarrava o ouvinte pela cintura e o levava a gingar pelas ruas de Olinda (“Fuloresta do Samba”, de 2002 e “Toda Vez Que eu Dou Um Passo o Mundo Sai do Lugar”, de 2007) e se aprofundar – ao lado de Roberto Corrêa – nas raízes nordestinas com o álbum “Violas de Bronze” (2009), Siba decidiu descansar a rabeca em “Avante”, seu terceiro álbum, e se concentrar na guitarra numa formação de banda que ainda soma bateria, teclado, vibrafone, viola e tuba. Porém, ao contrário do que o título supõe, “Avante” remete ao passado, mais precisamente ao Mestre Ambrósio, primeiro grupo de Siba, só que a produção arejada (dividida entre Siba e o amigo Fernando Catatau, do Cidadão Instigado, que ainda faz o solo poderoso de guitarra no lindo poema repente “Qasida”) e o lirismo das letras o transformam em atemporal, um daqueles discos que podem ser ouvidos daqui a dez, vinte, trinta anos, e ainda soar inquietante. Entre tantos bons momentos, fica difícil passar incólume pela beleza de “Brisa” (da linda frase – “Mas a brisa, por ser carinhosa, é quem mais tem castigado” – que define um mundo de coisas), pela regravação limpa da carta de intenções “A Bagaceira” (do refrão “Pode acabar-se o mundo, vou brincar meu carnaval”) ou pela sujeira do riff da faixa título, que une Jack White com repente. Uma baita disco!
Nota: 9
Download gratuito: http://www.mundosiba.com.br/musicas
Pô, ninguém falou nada do Bnegão?!
O primeiro é melhor, mais diverso, mas esse é bem bacanudo também.
Gosto muito das letras filosofais dele. Embora, como diria Nelson Rodrigues, a profundidade delas se uma formiguinha atravessasse daria com a água nas canelas.
Mas, enfim, em um disco pop tá mais que do bom.
Comentário pra la de tardio e em uma hora imprópria, mas eu acho estranho esse disco do siba nao ter entrado em nehuma lista de melhores de 2012. Nao q faça muita diferença… Mas eu acho o lado A desse disco Avante! primoroso, principalmente preparando o salto e ariane. Ate hoje ouço. Acho o Siba um artista com uma integridade artistica admiravel. Acho que quando ele se achar de vez vai ser um fodao. Se eh q ja nao eh. Eh isso abraço a todos.