por Leonardo Vinhas
Antes mesmo de se encerrarem os 136 minutos de “O Espetacular Homem-Aranha” (“The Amazing Spider-Man”, EUA, 2012), sua maior façanha fica evidente: eis uma obra que redefine o conceito de “filme ruim”. Depois dele, o parâmetro muda: quando alguém te contar sobre um filme e dizer o quão exasperante ele é, você pode perguntar: “pior que O Espetacular Homem-Aranha?”. E olha que será uma meta difícil de superar.
Antes que você, cinéfilo elitizado e prepotente, comece a concordar com a afirmação acima dizendo que é isso mesmo o que se pode esperar de um filme que adapta uma história em quadrinhos, é bom recordar alguns fatos. Existem casos de filmes extremamente bem-realizados que transcendem sua fonte de inspiração. Assim, “Batman – O Cavaleiro das Trevas” (2008) é um grande filme sobre a máfia que calha de ter um cara que se veste de morcego, assim como “X-Men: Primeira Classe” (2011) é um grande filme sobre amizade e ideais que calha de ter mutantes.
Outros, ainda, como “X-Men 2” (2003), “Homem-Aranha” (o de 2002, de Sam Raimi) e “Homem de Ferro” (2008) são ótimas adaptações, fiéis ao espírito (não à tradição literal) das HQs originais, e que têm muito mais méritos que apenas agradar à memória afetiva de fanboys. Caramba, até mesmo diversões blockbuster como “Vingadores” (2012) e o longínquo “Dick Tracy” (1990) têm muito mais a oferecer que um simples passatempo.
A lista poderia continuar, assim como também poderia contemplar ignomínias como “Demolidor”, “Elektra” e “Mulher-Gato”, porcarias que não raro aparecem em lista de piores de todos os tempos. Mas esses eram o tipo de filme tão ruim que você não conseguia passar de alguns minutos – as típicas bobagens de ação hollywoodianas, só que com gente vestida de colante colorido. “O Espetacular Homem-Aranha” tem um potencial extra de irritação, que se deve, em grande parte, ao diretor Marc Webb.
Webb, você deve saber, é o responsável por “5oo Dias com Ela”, fábula emasculadora sobre o quanto as mulheres são sensacionais e os homens são palermas deslumbrados, incapazes e naturalmente medíocres – uma espécie de celebração da geração meia-bomba, de bandeira de testosterona levantada à meio-pau (infâmia intencional). Vale ler o texto de André Forastieri sobre o filme nos links do final deste post.
O fato é que alguns executivos acharam que Mark Webb entendia de juventude (o tal “500 Dias” faturou mais de 90 milhões de dólares nas bilheterias do mundo todo) e o contrataram para contar a história do adolescente fodido e rejeitado que ganha poderes aracnídeos e se sente na obrigação de usá-los para evitar o crime depois que seu tio, que o criou como pai, é assassinado por um criminoso que ele poderia ter detido.
Sam Raimi contou muito bem essa história dez anos atrás. Com muita sensibilidade, senso de drama, ação e inteligência. Por que contar tudo de novo agora? Porque a memória é cada vez mais curta, ou porque roteiristas e produtores são cada vez mais preguiçosos, talvez. Webb, por sua vez, opta por ignorar as qualidades do filme de Raimi, e até o próprio personagem-título. Seu Peter Parker não é fodido: é descolado, anda de skate, enfrenta bullying com coragem e até chama a atenção das gatinhas. Depois que se torna um super-herói, com máscara autoconfeccionada e teia comprada na web (pelamordedeus!!), aí sim é que começa a dar merda em sua vida – majoritariamente, por causa dele. E você acha que ele liga? Que nada! As pessoas vão morrendo ou se ferindo ao redor do Aranha, mas o que interessa para ele é que ele está combatendo o crime. Ou seja: decididamente não estamos falando do rapaz criado por Stan Lee, um personagem que carregava mais culpa na consciência que um seminarista gay do interior de Santa Catarina.
Ainda fosse “apenas” isso, teríamos uma adaptação ruim que poderia ter resultado em um filme razoável. Mas não: os roteiristas Alvin Sargent, James Vanderbilt e Steve Kloves conseguem criar uma sequência de eventos que apenas encadeia projetos de justificativas para cada ação, deixando no caminho tantas perguntas não-respondidas, pontas soltas e buracos puros e simples que é impossível você desfrutar de qualquer coisa que aconteça.
Vamos a alguns exemplos práticos (e fique avisado que vêm spoilers a seguir): como Curt Connors (Rhys Ifans) conseguiu montar um laboratório high-tech no esgoto de Nova Iorque, sem ninguém ver – e levando em conta que ele tem apenas um braço? Como Peter arrebenta todo seu banheiro no momento em que descobre seus poderes e sua família sequer o questiona a respeito? Como é possível que, durante uma evacuação em massa de Nova Iorque, nenhum militar ou policial esteja por perto do foco de perigo, e apenas o capitão Stacy (Denis Leary) consiga chegar ao local? Por que o mesmo Stacy vai encarar o Lagarto sozinho, depois deste haver derrotado quarenta policiais em sua primeira aparição? Por que Peter revela sua identidade secreta para Gwen Stacy antes mesmo de beijá-la, que dizer formar uma relação? E como é que ele vai parar num jantar em família na casa dela sem que nada rolasse entre os dois – para não falar que ninguém questiona o fato de ele ter entrado pela janela.
É destes tipos de rombos no roteiro que o filme de Webb é feito. Mas ele não se contenta só com a inconsistência, e ainda tem que meter um deus ex machina em praticamente tudo o que faz. No universo do filme, é como se o planeta Terra tivesse apenas 200 habitantes, e metade deles fosse parente. Tudo é tão interligado que nem com a maior boa-vontade do mundo dá para aceitar passivamente as “coincidências”.
O elenco também “colabora”. Andrew Garfield, o novo Aranha, parece pedir para apanhar toda vez que sorri – a cara de palerma é tão evidente que desperta o valentão adormecido até num monge budista. Emma Stone, que acha que é Gwen Stacy, sustenta um visual e uma atitude de aspirante à nova Savannah e não convence em nada. Rhys Ifans e Denis Leary usam clichês por atacado, e vivem personagens que carecem de qualquer motivação. Sally Field, como a tia May, é inútil. Martin Sheen, no papel do tio Ben, morre muito antes de mostrar alguma coisa, mas pelo menos têm carisma. Ele e Stan Lee (em mais uma de suas já obrigatórias participações especiais) são os únicos seres perdoáveis no filme. Talvez por aparecem pouquíssimo.
Enfim, “O Espetacular Homem-Aranha” parece um filme feito para pessoas com casos extremos de déficit de atenção (deve ser culpa dessa extrema digitalização da vida). Se você é um desses infelizes portadores de DDA ao cubo e ainda não ficou claro, vamos ao óbvio: “O Espetacular Homem-Aranha” é um filme irritante. Nem durante a infame “saga do clone” (um dos momentos mais ridículos do personagem nos quadrinhos) o Aranha foi tão maltratado como aqui. Se fosse o caso de uma comparação musical, seria como o Yolanda Be Cool (aqueles do “We No Speak Americano”) resolvesse fazer uma “homenagem” ao Rolling Stones em “releituras pessoais” de seus clássicos. Sim, é ruim assim. Mas se vivemos em um mundo que concebe (e aceita) o filme de Marc Webb, nem duvido que esse desastre venha a acontecer em breve…
– Leonardo Vinhas (@leovinhas) assina a seção Conexão Latina (aqui) no Scream & Yell
Leia também:
– “Homem Aranha 1”, um caprichada produção assinada por Sam Raimi, por Angélica Bito (aqui)
– “Homem Aranha 3” embaraça fãs com cenas constrangedoras, por André Azenha (aqui)
– “Batman Begins’, o filme definitivo do homem-morcego, por Mac e Bruno Ondei (aqui)
– “Batmam – Cavaleiro das Trevas”, um divisor de águas, por André Azenha (aqui)
– “X-Men: Primeira Classe” entretém, emociona e envolve o espectador, por A. Azenha (aqui)
– “500 Dias Com Ela” é uma bela teorização sobre relacionamentos, por Marcelo Costa (aqui)
– “500 Dias Com Ela” é um dos filmes mais ofensivos que já vi, por André Forastieri (aqui)
Deveriam começar com notas negativas no IMDB por causa dessa porcaria. Perdi de comprar um DVD na banca de 9,90 da Americanas. rs
Abração, Leo!
ainda acrescentaria watchmen e -sim, de certa forma, V de Vingança, pelo menos por ter natalie portman- como bons filmes
Já disse outra vez (num comentário sobre o filme dos vingadores) e uns abobadinhos ficaram magoadinhos: salvo raríssimas exceções (e o batman – cavaleiro das trevas, mais pelo coringa do ledge que qualquer outra coisa, é uma delas) filmes de quadrinhos são uma grande chinelagem… Quando são bons, no máximo não esculacham com o original. Quando são ruins, sai de baixo…
Além disso, o personagem de peter parker tem sido um prato cheio para exercícios de bunda molice no imaginário popular…
pra mim basta isso: Por que contar tudo de novo agora?
deviam ter criado um super-heroi novo, sei lá.
o que eu vi ontem no cinema não era o homem aranha. fato
A motivação do personagem, que é, a rigor, o que move qualquer história, é uma lástima. Digamos que você aos 17 anos ganhe um super poder. O que faria: salvaria o mundo ou conquistaria o maior número de gatas possível? Ou pelo menos aquela que você ama platonicamente? Não há discussão nisso. O cara querer ser o salvador do mundo aos 17 anos é mais do que falho, é tratar o espectador como idiota – a não ser aquele que ainda não completou 17 anos e talvez não perceba. Daí, como a crítica mostra, Peter não se interessa pelas pessoas a sua volta e seu único objetivo é salvar o mundo. Realmente… não dá!
É duro ter que conviver com esses criticos, fico me perguntando ao ler uma critica como essa, de que exatamente esse critico esta falando. O filme é excelente, o protagonista do HA é muito melhor que o outro, que le gibis, sabe que o espirito do filme foi mantido.
Filme bem fraquinho mesmo (pra dizer o mínimo). E ainda faltou citar o rombo mais bizarro no roteiro: e o bandido que mata o tio Ben? Ele simplesmente acaba esquecido no meio da trama.
Wagner, esse filme aí é uma merda pelos mesmos motivos que o terceiro filme da trilogia anterior foi tão constrangedor de ruim: a intromissão do estúdio. Se nos 2 primeiros filmes do HA Sam Raimi teve total liberdade e fez dois grandes filmes, no terceiro o estúdio permitiu a intromissão do produtor Avi Arad, e ele ferrou com tudo. O Sam Raimi se negou a continuar na franquia, e entregaram ela de vez na mão desse tolete humano, que tem em seu curriculo coisas como Bratz – O Filme, e Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado… Não tinha mesmo como dar certo.
hahaha! é… já havia percebido isso em Transformers sei lá qual…acho tudo isso até perda de tempo… esse tipo de filme num merece nem crítica… essa geração é derrota!
Esse aí é o Homem Aranha para a playboyzada…
Gostei do que li. Em minha opinião, com o advento e popularização do cinema 3D, veremos todos os filmes que já foram feitos, com todos os seus clichês e roteiros quase idênticos, novamente.Só que em 3D (“Wow!”). É aquela coisa: enquanto houver público, tudo se repetirá. Foi como quando fui ver Prometheus. Acho que o Scott tem alguns filmes bons, apenas uns 2 clássicos e muitos filmes medíocres. Mas mesmo assim apostei no cara, por causa de Alien e tals. Resultado: perdi 20 Dilmas pra ver um filme fraquíssimo.E a galera amou. Sei lá, eu tenho medo de filmes em 3D. A coisa vai ficar pior do que já era.
Para redefinir o conceito de filme ruim é só esperar o próximo filme de super-herói : O Espetacular Homem Aranha redefine até o Batman O Cavaleiro das Trevas Ressurge, que tem tudo pra redefinir o conceito de filme péssimo…
Essa crítica toda aí se resume à falta de sexo.
Esse texto mal fala sobre o filme, e quando fala, fala muito mal. Revela mais sobre a personalidade do crítico do que sobre o filme em si. Xinga o leitor de cinéfilo prepotente provavelmente mirando num espelho. Parece texto de um garoto de 14 anos muito irritado com a tarefa de escrever que lhe deram.
Não me deram a tarefa, Sandro. Escrevi voluntariamente. E de muito boa vontade, diga-se. Gosto bastante de escrever para o Scream&Yell.
E não xinguei o leitor: apontei um comportamento de alguns leitores (minoritários) que desdenham de blockbusters (independentemente do que o resenhista escreva) sempre dizendo que “nem dão bola pra esse tipo de filme”. Ora, se não dão bola, por que leem sobre tais filmes, e tem sempre comentários apaixonados/odiosos para fazer?
Leo, voce sabe que o Espetacular Homem Aranha (Amazing Spider Man) é outra história totalmente diferente do homem aranha né? Nos quadrinhos de super heróis existem cosias chamadas de reset. Acaba uma saga por um quadrinista, começa outra feita por outro. Esse comportamento sarcástico e playboy do Peter é próprio dessa saga. Concordo que o filme tem uns rombos imensos( eu ri demais naquela parte que ele salva a criança no carro da ponte, estava sem a máscara, mas depois de salva-la ele volta na ponte com a máscara… Mesmo sem usar as mãos), mas como divertimento, eu gostei, valeu meus 9 reais (hehe).
Sim, Alexandre. Mas mesmo pensando que é um reboot (termo corrente da indústria), não dá para aliviar as falhas de narrativa do filme.
Como deram espaço para um colunista como esse aqui nesse site? Acabei de conhecer e não volto mais. Falar tão mal assim de um filme, qualquer que seja, é opinião de uma criança mimada que adora falar mal pra aparecer. Não gosta do filme é uma coisa, detoná-lo assim é coisa de criancinha babona… Ridículo.
na boa, eu gostei muito desse filme, e com ctz eu veria o espetacular homem aranha 2… o filme me prendeu a atenção do começo ao fim, e eu achei ainda que ficou muito resumido… achei que deveria rolar mais um romance entre peter e a loira la…. so achei que eles se gostaram mto rapido…e tbm achei que o machao loiro que enchia o saco do peter no começo abaixou a bola muito cedo… deveria ter mais umas richas de escola… legal… enfim… o filme pra mim é nota 10…
o espetacular homem aranha devia trocar o nome para “bosta sem rumo nenhum”