por Itamar Montalvão
”Cavalo de Guerra” (War Horse, EUA, 2011) é a adaptação para o cinema de um livro infantil escrito pelo dramaturgo inglês Michael Morpurgo, em 1982. A história também já havia originado uma peça na Broadway e agora chega às telas pelas mãos de Steven Spielberg, talvez o único diretor capaz de fazer um bom filme de guerra sob a perspectiva do amor de um menino por seu cavalo, um tema mais velho do que o próprio cinema.
Com todos os elementos que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood adora premiar, “Cavalo de Guerra” parece ser um filme feito para ganhar Oscars. Estão lá o retrato devastador de uma guerra, as ligações familiares sólidas, capazes de superar quaisquer adversidades, um animal quase humano em suas emoções para conquistar o coração da plateia e muitos dos chamados ‘feel-good moments’ típicos de um filme-família para a temporada de final de ano, embora a produção tenha sido classificada como PG-13 nos EUA em virtude das cenas de batalha.
Tudo começa com o nascimento do potro Joey em uma fazenda de Devon, no interior da Inglaterra às vésperas da eclosão da Primeira Guerra Mundial. O menino Albert Narracott (Jeremy Irvine) acompanha o parto e se encanta pelo animal instantaneamente, passando a acompanhar seu crescimento. Logo de cara, com a belíssima fotografia de Janusz Kaminski e a música de John Williams, é impossível o espectador também não se deixar levar pela cena e embarcar naquela relação que se inicia.
Quando os donos de Joey decidem leiloá-lo, o pai de Albie, Ted Narracott (Peter Mullan), dá um lance muito maior do que suas possibilidades a fim de levar o animal para sua pequena propriedade, imbuído tanto pelas questões afetivas que movem seu filho quanto pela necessidade prática de ter um cavalo forte para arar a terra e garantir a colheita que livrará a família das dívidas com seu senhorio, Lyons (DavidThewlis). Mas Joey não é um cavalo qualquer. Albie terá muita dificuldade em domá-lo e Ted em convencer a mulher, Rose (Emily Watson), de que tomara a decisão correta.
A guerra contra a Alemanha começa e todos os cavalos em condições de ir para o campo de batalha são adquiridos pelo Exército inglês. Como Albert ainda não tem idade suficiente para se alistar, a separação é inevitável. A partir deste momento, Spielberg lança um olhar muito particular sobre a Primeira Guerra sob a perspectiva da incrível jornada de Joey através dos campos da França.
“Cavalo de Guerra” é um filme para nos fazer tirar um pouco a cabeça debaixo d’água e respirar um tipo de vida impossível no nosso tempo. Somente o cinema ou a literatura para transportar o homem de hoje para a Inglaterra rural do início do século XX, onde a vida acontecia em ritmo muito menos frenético, dando tempo para que sentimentos básicos não fossem esquecidos diante do turbilhão da “modernidade”.
O filme tem muito mais acertos do que erros, embora estes possam ser considerados comprometedores demais para um público mais exigente: a inverossimilhança (como na cena em que dois soldados de lados opostos da guerra se unem para salvar o cavalo), a ameaça constante de resvalar no sentimentalismo e as cansativas quase 2 horas e meia de projeção. Ainda assim é uma bonita história, bem contada e lindamente filmada.
Um filme bastante corajoso por despertar no espectador sentimentos tão fora de moda neste tempo cínico em que vivemos, em que tudo é efêmero, corrido e digital. Claro que, considerando o selo Spielberg de qualidade, nem de longe “Cavalo de Guerra” pode ser considerado uma de suas melhores produções, mas consegue entreter. Cinema (também) não é isso? Enfim, podem apostar no 11 sem medo. Não será surpresa se no dia 26 de fevereiro der cavalo na cabeça.
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– Itamar Montalvão (siga @imont) é estudante de jornalismo, assina o blog Pop Bacana e já escreveu sobre o filme “Margin Call” (aqui) e sobre o show do Allman Brothers no Beacon Theatre (aqui)